Entrevista da semana

Daniel Moraes: a venda está no seu DNA

Cinthia Milanez
| Tempo de leitura: 5 min

Foi um acidente de trânsito que levou o proprietário da Moraes Imobiliária, em Bauru, Daniel Moraes, de 58 anos, a entrar para o ramo imobiliário. Depois de perder o Fiat 147 que havia acabado de ganhar do pai, o construtor Deassis Justino de Moraes, de 88, o empresário conseguiu o dinheiro necessário para comprar um veículo novo comercializando lotes no Vale do Igapó. Contudo, a habilidade de vender surgiu bem antes disso. Aliás, ele acredita que esteja no seu DNA.

Aos 16 anos, Daniel já comercializava laranjas com uma carriola. "Sempre tive este ímpeto de trabalhar, vender e conquistar a minha independência financeira". Porém, o empresário reconhece que jamais alcançaria o sucesso sem o apoio da família, formada pela esposa, a professora de Inglês Tânia Cristina Mastroianni Moraes, com quem possui os filhos Daniel e Stéfanno, além do neto Levi.

O envolvimento do empresário com o trabalho é tão grande que, no meio desta entrevista, ele celebrou, com o estouro de um espumante, a venda de uma propriedade rural junto aos corretores da imobiliária. A seguir, Daniel faz um balanço da sua trajetória, da qual não guarda qualquer arrependimento. "Se eu pudesse voltar atrás, faria tudo igual, afinal, me sinto realizado com a minha escolha".

Jornal da Cidade - O senhor se dedica muito ao trabalho. Começou cedo?

Daniel Moraes - Aos 16 anos, eu já vendia laranjas com uma carriola, serviço que fazia escondido do meu pai. Ele não queria que começasse a trabalhar tão cedo. Depois, passei a ajudá-lo como servente de pedreiro na sua construtora, produzindo massa e cortando com uma talhadeira para dar espaço ao conduíte. O meu pai também oferecia estacamento hidráulico, que recuperava as paredes trincadas. Eu e os meus irmãos o auxiliávamos a fabricar as peças de concreto. Paralelamente, fazia alguns bicos. Certa vez, uma vizinha me pediu para pintar a sua casa inteira pelo mesmo orçamento que outros pintores forneceram a ela. Só que os profissionais pediram 30 dias e terminei tudo em pouco mais de uma semana.

JC - Acha que a venda está no seu DNA?

Daniel - Eu sempre tive este ímpeto de trabalhar, vender e conquistar a minha independência financeira. O bom desta profissão é que, quanto mais me lanço, maior o resultado. Embora, na minha opinião, a principal satisfação consista em ver as pessoas realizando os seus sonhos.

JC - Como aperfeiçoou tal habilidade?

Daniel - Com 18 anos, eu já queria a minha independência financeira e passei a vender o Título de Capitalização do Baú da Felicidade, momento em que desenvolvi certa facilidade em falar, chegar e bater de porta em porta. O segredo da venda, inclusive, consiste em você visitar os seus clientes. Em seguida, resolvi comercializar o Titulo Touring Club do Brasil. Neste ofício, tive algumas aulas que me ajudaram muito na hora de desempenhar a minha função. Depois, o amigo João Vicente Bobri Ribas me chamou para vender o Plano de Habilitação em uma autoescola - na época, os adolescentes pagavam para tirar carta antes de completar a maioridade.

JC - Em que momento surgiu a oportunidade de atuar junto ao ramo imobiliário?

Daniel - O meu pai me deu um Fiat 147 branco, cuja placa terminava com 6816, mas eu bati contra um Chevette branco que pertencia ao guarda da Caderneta de Poupança Aspar. O Neco, que arrumava carros na rua Sete de Setembro, disse que não conseguiria recuperar o veículo. Precisava de outro e recorri ao meu amigo Guilherme Nolasco, que me levou ao seu pai, Pedro Nolasco. Ele comercializava lotes no Vale do Igapó e me deu uma oportunidade de emprego. Em um mês, vendi 32 terrenos, fato que garantiu o dinheiro necessário para comprar um Fiat 147 dourado com rodas magnéticas para mim e um Chevette para o guarda. A partir daí, vi que o negócio era bom.

JC - Como conheceu a sua esposa?

Daniel - Em um dos plantões de vendas no Vale do Igapó, eu vi uma mulher linda com um vestido azul. Ela deu uma piscada para mim e, imediatamente, consegui o seu endereço junto à portaria do local. Fui até lá e começamos a namorar. Sete anos depois, em 1988, nós nos casamos.

JC - E o próprio negócio? Surgiu depois do casamento?

Daniel - Quase que ao mesmo tempo. Eu saí do Vale do Igapó para atuar junto à empresa de um dos gerentes do local, Massaro Kondo. Certa vez, fui almoçar em uma churrascaria, onde encontrei o médico Assaf Hadba, que me convidou para trabalhar na sua imobiliária. Não demorou muito para abrir o meu próprio negócio, localizado, inicialmente, na garagem da casa do meu pai, que vivia na rua Quintino Bocaiúva. Pouco tempo depois, me mudei para uma sede própria, na avenida Duque de Caxias. De lá, fui para a Getúlio Vargas e, há dois anos, estou na Octávio Pinheiro Brisolla.

JC - O senhor se especializou em alto padrão. Por qual motivo?

Daniel - Eu sempre comercializei imóveis de todos os tipos, mas me voltei para os 'casões' em condomínios fechados, porque conquistei uma boa carteira de compradores e vendedores. 

JC - O que mudou no ramo imobiliário desde quando começou a trabalhar nesta área?

Daniel - Hoje, os negócios são fechados em uma velocidade incrível. Eu vendo uma propriedade para o pai. Depois, chegam o filho e o neto. Quando percebo, já fiz várias transações dentro de uma única família.

JC - O senhor destacaria alguma venda curiosa que tenha feito?

Daniel - Certa vez, eu estava treinando no Bauru Tênis Clube (BTC) e um empresário disse que queria comercializar o seu terreno no Paineiras. Já tinha um comprador e, uma semana depois, o negócio foi fechado. Em outra situação, cruzei com um cliente na faixa de rolamento, que pediu para comprar uma casa. Não demorou muito para que conseguisse. Enfim, nunca desperdiço uma venda, independentemente da ocasião. 

JC - O que faz nas horas vagas?

Daniel - Gosto de viajar e pintar. Inclusive, eu e o meu filho caçula, Stéfanno, pintamos um dos quadros que compõe a decoração do meu escritório.

JC - O senhor se arrepende de alguma coisa?

Daniel - Se eu pudesse voltar atrás, faria tudo igual, afinal, me sinto realizado com a minha escolha. Obtive todo este sucesso porque tenho uma família que me acompanha. A simpatia, a simplicidade, o carinho e a compreensão da minha esposa me empurram para frente. Os meus filhos, por sua vez, também estão comigo na empresa e tocarão o negócio assim que me aposentar.

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