Wagner Teodoro

Diferentes caminhos que convergem

17/01/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Santos e Palmeiras chegaram ao mesmo ponto. Claro, no que se refere aos caminhos da Libertadores. Mas se as jornadas afunilam ao local pretendido, a final, a trajetória das equipes, antes de sugerir que convergissem, insinuava que bifurcassem. Porque pouco foi mais diferente do que as jornadas dos finalistas até o ponto marcado no mapa da principal competição continental. A começar pela errática "estratégia" santista. E aqui as aspas são plenamente justificadas não pela questão técnica, mas pela falta de planejamento de quem dirige o clube. O Santos teve uma temporada com técnico indo embora e, depois, ameaçando esvaziar o elenco. No fim, saíram apenas Sasha e Everson. Mas foi tensa a perspectiva de um desmanche. Contratou outro treinador que não deu liga. O Santos teve uma temporada com impeachment de presidente, ficou sem poder buscar reforços por punição da Fifa devido a inadimplência em contratações. O Santos se envolveu desnecessariamente em polêmica que arranhou a imagem do clube na contratação de Robinho, que se defende na Justiça italiana de acusação de estupro. O Santos esteve e está com salários atrasados. O Santos ameaçou seriamente "cruzeirar". É preciso admitir.
Mas o Santos teve acertos fundamentais. Quando o Jesualdo Ferreira saiu, foi atrás de Cuca, um cara identificado e conhecedor do clube. O técnico chegou para fazer, na minha opinião, o melhor trabalho disparado na temporada. Cuca vem tirando mais de 100% do que o elenco pode oferecer. Outro "gol", este mais antigo e tradicional, foi poder contar com o sólido trabalho de suas categorias de base. E, assim, com Marinho ascendendo para o status de astro alvinegro, com Soteldo coadjuvante, com goleiros surgindo na necessidade e correspondendo, conseguindo segurar algumas peças importantes até o final da temporada em meio ao assédio de clubes estrangeiros, logrando pagar algumas pendências com premiações que foi angariando a cada fase ultrapassada em competições de mata-mata, o Santos, de sobrevivente, arrancou um papel de protagonista. Quanto mérito de um elenco que joga com salário e bonificações atrasados. E, repito, que trabalho faz o senhor Alexi Stival no comando do grupo.

Pé no chão e desempenho no alto

Municiado pelo dinheiro da Crefisa, o Palmeiras montou elencos estelares para os padrões sul-americanos nos últimos anos. E fracassou na obsessão de torcedores, diretoria e patrocinadores temporada após temporada: voltar à final da Libertadores. Mas, em algum momento de 2019, o clube resolveu mudar a estratégia, até porque, forçosamente, a relação com o principal investidor foi alterada em função de restrições impostas pela Justiça. E, então, a aposta foi uma política mais "pés no chão" e olhar para a base. Sim, porque os times menores do Palmeiras já vêm colecionando títulos e bom desempenho há anos. Ou seja, ali haveria bons valores. Além disso, o elenco já era profundo, com inúmeras opções de qualidade. Contratações seriam criteriosas e pontuais. Assim, o clube gastou dinheiro mesmo só no acerto por Rony, um atacante que demorou, mas engrenou.
Entretanto, o Palmeiras ainda patinou. Contratou um treinador medalhão, que encontrou muita dificuldade de explorar o potencial absurdo do grupo que tinha em mãos. Vanderlei Luxemburgo ganhou o Paulistão, tá certo. Mas o time regido por ele nunca atendeu às expectativas da cúpula do clube e torcida. Pois era claro que tinha condições de jogar mais do que jogava. Saiu Luxemburgo e o auxiliar Cebola já extraiu mais do elenco. Veio Abel Ferreira e as peças se encaixaram. O Palmeiras deslanchou e o planejamento, com os pratas da casa assumindo de fato protagonismo, fluiu.

E agora?

Assim, o caos santista corrigido em campo e a organização palmeirense ajustada chegam ao seu objetivo. Os caminhos vão se enredar em um momento épico para o futebol paulista. Palco: Maracanã. Jogo único, sem direito a vacilos. Clássico de maior expressão da riquíssima história que envolve os dois arquirrivais. Pelo elenco mais poderoso, o Palmeiras poderia ser apontado com um leve favoritismo. Mas a "trajetória do herói" que o Santos vem trilhando não permite nem sonhar em descartar suas chances. E o Alvinegro vive uma fase iluminada. Que final, meus amigos!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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