Wagner Teodoro

A reprise ou continuação de um filme-catástrofe

14/03/2021 | Tempo de leitura: 4 min

O futebol paulista vive uma sensação de reprise, como um filme de Sessão da Tarde que volta anualmente à programação, no caso da paralisação das competições no Estado de São Paulo. E trata-se, obviamente, de um filme-catástrofe. Aliás, catástrofe que o Brasil vive, dizimado pela Covid-19. A exemplo de 2020, o Estadual pode ser interrompido, a princípio por dez dias. Mas poucos acreditam que seria apenas por esse período. A iminência de um lockdown no Esporte deixa apreensivos os clubes, que investiram em elencos, pré-temporada e já estão em situação financeira difícil. Sobretudo aqueles mais vulneráveis, que disputam divisões de acesso.

O momento da pandemia de coronavírus é gravíssimo e quaisquer medidas que objetivem salvar vidas são corretas. Para falar a verdade, o cenário da pandemia lembra mais uma continuação de franquia em que os produtores e diretores vão pesando a mão na desgraça para superar o filme anterior. Mas, de qualquer forma, a decisão por uma paralisação tem que ser técnica. Quem deve definir os critérios e avaliar a situação são profissionais da área de saúde. Especificamente em relação à parada das competições esportivas, há um protocolo que foi aprovado pelo Centro de Contingência do Coronavírus do Governo do Estado e pelo Ministério Público. Claro, é preciso segui-lo e alguns clubes deixam dúvidas se vêm realmente respeitando todo o manual devido aos surtos que enfrentam em seus elencos. 

Mesmo assim, seria preciso se debruçar sobre os dados de meses lidando com a pandemia em meio às competições - não faltam estatísticas em centenas de milhares de testes e nem experiências para serem analisadas - e definir, repito tecnicamente, se uma interrupção é a solução. Se for realmente para impedir novos casos, evitar mortes, se o Esporte se mostra um ambiente de risco para os envolvidos, não há a mínima discussão. Mas quem tem que definir são médicos, cientistas, pessoas da área de saúde, capacitadas. Nenhum outro interesse que não seja preservar vidas e a segurança dos envolvidos no Esporte deve estar pautando a paralisação. Já vimos o futebol ser usado por todos os lados como arma na "guerra política da pandemia".

Se um ambiente no qual atletas são testados periodicamente, que segue um protocolo rígido em dias de competição, existe risco real de contaminação, o que pensar do restante dos profissionais em suas áreas? Quantas empresas, públicas ou privadas, testam com a frequência que as modalidades esportivas (não só o futebol) o fazem? Na Europa houve um consenso de que o percentual de contaminação no ambiente futebolístico é ínfimo. Reitero: existe um protocolo que foi aprovado e que, em tese, vem sendo seguido pelos clubes. É bom reavaliar? Sim, na situação em que estamos, com mais de 2 mil mortes por dia, todo o cuidado é necessário. E fundamental seria apresentar os resultados da análise do ambiente esportivo que levaram à conclusão de que é preciso parar as competições.

Poderia ser diferente

Sim, poderia ser diferente. E não me refiro somente ao caos que o País vive. Se houvesse planejamento sério governamental e se a população respeitasse as medidas, estaríamos vivendo um momento menos sombrio. Mas o que poderia ser diferente também é o próprio Paulistão. Com o sufoco que se tornou o calendário no ano passado, Federação Paulista e clubes poderiam ter se reunido e bolado, excepcionalmente para 2021, um novo formado para o Estadual. Estava claro que a pandemia não arrefeceria com o relaxamento que houve nos meses finais do ano passado.

Portanto, a fórmula de disputa poderia ser outra nesta temporada. Um campeonato mais curto. Buscar uma alternativa para diminuir as viagens, porque o deslocamento é de fato um momento sensível no auge da pandemia. Disputa em "bolhas", primeira fase mais curta… Enfim, algo que diminuísse os riscos. Optou-se por manter o mesmo formato. E, se realmente prevalecer a decisão de proibição de competições esportivas em solo paulista, as soluções vão passar por medidas inusitadas, como jogar em outros estados. De qualquer maneira, os clubes paulistas saem prejudicados.

Vacina olímpica

O Comitê Olímpico Internacional acertou com a China a compra de vacinas para imunizar atletas que vão disputar os Jogos de Tóquio. Há mais de quatro meses das Olimpíadas, a entidade já assegurou as doses necessárias para que os competidores participem de maneira segura do evento no Japão. Um belo exemplo de planejamento e organização.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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