Wagner Teodoro

Austeridade é a palavra

21/03/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A percepção de que a temporada 2021 pode ser ainda mais exigente financeiramente do que a do ano passado faz os clubes repensarem investimentos e se acautelarem. Com os cofres já esvaziados depois de um 2020 de prejuízos, a ordem é austeridade e controle para não mergulhar em um desastre econômico. Há um consenso entre analistas de que a economia global vai levar anos para se recuperar da pandemia de coronavírus e o futebol é um microcosmo dentro desta realidade. O futebol brasileiro mais ainda, pois o País é um dos mais impactados pela Covid-19 e nossos clubes não são exatamente um exemplo de estabilidade financeira. Com o auge da pandemia, é absolutamente irreal pensar em uma normalidade para a temporada. Estaduais estão parando, dentre eles o Campeonato Paulista, o mais forte e importante do Brasil, e a volta de torcedores aos estádios parece estar em um horizonte desconhecido.
Estimativas apontam que a conta do prejuízo para os principais clubes do País na temporada passada foi de R$ 1,2 bilhão. O "desfalque" no dinheiro tem aí contabilizado as perdas com falta de bilheteria, queda nas negociações de jogadores e na adesão e fidelização do sócio-torcedor, além de fuga de dinheiro no marketing, patrocínio e direitos de transmissões. Alguém acredita em um 2021 muito melhor? Em sã consciência, não. Portanto, a ordem é apertar o cinto. Hora de rever planejamentos, até porque a maioria dos clubes tem dívidas com atletas que foram adiadas para este ano e a conta começa a chegar.

Solução na base

O primeiro reflexo é um retorno à valorização da base nos grandes clubes. O São Paulo, que é quem vem mais contratando, fala em promover suas revelações e não se reforçar com atletas que venham para compor grupo. Em tese, os garotos vão ganhar minutos e o clube pretende se desfazer de jogadores caros que ficam no banco de reservas. A diretoria trabalha com uma "equação orçamentária", onde as contratações não devem onerar os cofres e o equilíbrio é justamente com a saída de atletas pouco aproveitados. O Santos, ainda barrado no mercado pela Fifa por inadimplência, colocou salários em dia e aposta também nas divisões de base, promovendo talentos. Uma solução parcialmente já adotada em 2020 e uma fórmula que levou o clube à final da Libertadores.
O mesmo ocorre no Corinthians, que se voltou às suas divisões de base e observa seus garotos em ação no começo da temporada. Outros atletas tentam buscar espaço e crescer de produção. Quem sabe existam soluções em casa? Vagner Mancini já adiantou que chegarão reforços pontuais. Este será realmente o desafio. Com pouco dinheiro em caixa, os três clubes necessitarão ser precisos no mercado. Para o Corinthians, nada de um novo Luan, por exemplo.

Mas o maior indício da precaução em relação ao ano ocorreu nesta semana. O Palmeiras, diante do cenário de paralisação do futebol, repensou investimentos e desistiu de contratar Borré, do River Plate. Mesmo com um caixa mais robusto e uma segurança de um grande patrocínio, o clube preferiu não fazer loucura no mercado, mesmo que seja por um jogador comprovadamente diferenciado. O Palmeiras ainda promove um "vestibular" para as crias de sua base no Estadual e a proposta é cada vez mais dar espaço para suas revelações. Saindo do cenário paulista, mesmo o Flamengo, um dos ricos do futebol nacional, já admite negociar um de seus medalhões para fechar a conta de 2021.

Acesso necessário

Pensando em um cenário assim, para o Noroeste aumenta ainda mais a necessidade de subir de divisão. Na Série A2, o Alvirrubro passaria a ter, além da cota da Federação Paulista de Futebol, um valor repassado pela TV por direitos de transmissão. O clube, mais uma vez, investiu, foi o primeiro a começar sua pré-temporada, manteve a comissão técnica e montou um elenco competitivo. Largou na frente na A3, é o único com 100% de aproveitamento nas três primeiras rodadas e sofre com a paralisação. No ano passado, a pausa não foi nada boa para o Norusca. Agora, o Estadual foi interrompido mais cedo. A torcida é que, quando volte, o Noroeste retorne bem e consiga o necessário sonhado acesso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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