Alberto Consolaro

Chamar o cara de doutor, é demais!

10/04/2021 | Tempo de leitura: 2 min

A competitividade leva as pessoas à busca de habilidades em cursos de aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado. Muitas pessoas tem o sonho de ter o título de Doutor, correspondente ao “PhD”. A pós-graduação na forma de mestrado e doutorado representa programas de atividades em pesquisa e treinamento avançado para se ganhar competência científica.

Não há uma escala de valor entre programas de pós-graduação “sensu lato” como a especialização, residência e aperfeiçoamento. A pós-graduação “sensu stricto” representa o mestrado e doutorado com objetivos de formação científica e cultural para pesquisa e docência com uma escala crescente de valor intelectual entre graduados, mestres e doutores.

O título de “Mestre” tem origem medieval e é peculiar da universidade britânica e americana. Na idade média chamavam-se de Mestres todos os professores de faculdades, com exceção da faculdade de direito onde se intitulavam Doutores. Na universidade medieval, professor, mestre e doutor eram absolutamente sinônimos equivalentes.

No final da idade média, os professores das faculdades assumiram o título de Doutor em substituição ao de Mestre. O título de Mestre ficou restrito às faculdades das artes. Nas artes é comum chamar o mais experiente de Mestre, como os técnicos de futebol, Mestre-Cuca, Mestre de Obras e Mestre Cervejeiro. O termo mestre em vários idiomas “máster, mister e maître” tem raízes profissionais. São profissionais exímios que ganharam respeitabilidade por que sabem fazer, domina a arte e o oficio.

A palavra e o título Doutor advém de “doctors”, doutores ou senhores da “doctrina” ou doutrina. O programa de doutorado baseia-se em atividade de busca, investigação, questionamento e pesquisa. Um Doutor tem autonomia científica e pode orientar estudantes na iniciação científica, mestrado e doutorado. Pode pleitear financiamentos para pesquisas e pleitear postos de comando e gerenciamento na universidade. O título de Doutor abre o caminho para pleitear outros títulos como o de Professor Livre-Docente e o de Professor Titular.

Um país com mais doutores, terá uma produção maior de trabalhos científicos, teremos mais inventos, marcas registradas e patentes. No conjunto, isto se chama produção científica. Entre as nações, as mais ricas são as que têm mais registros de marcas e patentes, enquanto as demais pagam para usar este conhecimento gerado. Quanto mais pesquisas, maior será o rendimento com os seus produtos. Ministérios da Educação e da Ciência devem estimular a formação de Doutores.

Um Doutor para receber este título trabalhou muito, fez vários concursos públicos, desenvolveu muito produtos e serviços em suas atividades profissionais. Chamar alguém de Doutor é uma referência e reverência muito grande e significa o reconhecimento de muito trabalho e no popular significa alguém para se tirar o chapéu. A atividade legítima de um doutor é o exercício pleno da ciência e ou de uma elevada intelectualidade caracterizada pela profundeza do conhecimento humano.

Singela, sincera e humildemente, fiz todo este preâmbulo para pedir a nossa sociedade um pouquinho de consideração e discernimento: parem de chamar o rapaz de “Doutor” Jairinho!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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