Wagner Teodoro

O protocolo da cabeça

11/04/2021 | Tempo de leitura: 3 min

E o futebol voltou. A bola rola em gramados paulistas. Para isso, a Federação Paulista de Futebol (FPF) fez ajustes em seu protocolo de segurança para evitar a propagação do coronavírus, aumentando os níveis de prevenção tanto no que se refere a testes, mais frequentes e em maior quantidade, quanto a ajustes em concentração e horário de jogos. As partidas passam a ser realizadas dentro do período do toque de restrição no Estado (das 20h às 5h) para evitar aglomerações em ambientes públicos. Faz todo o sentido porque o maior risco é justamente a reunião de torcedores fora dos estádios. No jogo em si, com todos testados e seguindo o protocolo, o perigo diminui. Não é zero porque não existe protocolo infalível.
Mas, enquanto a FPF e médicos de clubes se esforçavam para elaborar um novo conjunto de regras e convencer o Ministério Público e, por tabela, o governo estadual, enquanto entidade e times endureciam as medidas de prevenção, aumentavam o rigor na testagem e precaução, acompanhamos espantados a notícia de que o atacante Luiz Adriano, que testou positivo para Covid-19, quebrou a quarentena e saiu de carro para levar a mãe ao supermercado. E só ficamos sabendo porque no trajeto houve um acidente de trânsito com um ciclista. Mas quem está infectado não teria que ficar em casa?
Será que os médicos do Palmeiras, um dos clubes mais estruturados do País, não orientaram o jogador? Eu penso que orientaram. Sendo assim, Luiz Adriano, um cara bem informado, resolveu arriscar, sair de casa e, possivelmente, infectar outras pessoas? Ele afirmou que sairia de máscara e ficaria apenas no carro. Mas imprevistos acontecem. E de fato aconteceram. E a mãe do jogador, que estava em contato com uma pessoa doente e entraria ou entrou no supermercado? E as pessoas que atenderam a ocorrência do acidente? E o próprio ciclista?

Responsabilidade pessoal

E o caso de Luiz Adriano não é o único que ficou "famoso". Há algum tempo, Jô, Otero e Gustavo Mosquito foram vistos sem máscaras em resorts em plena pandemia, sendo que o Corinthians é um dos clubes que mais enfrentou casos de Covid-19 no elenco. Aliás, o Alvinegro vivia justamente um surto da doença naquele momento. Tem o episódio de Gabigol, flagrado em um cassino com centenas de pessoas às vésperas de voltar a treinar no Flamengo. Enfim, são vários incidentes. E mostram que não há protocolo que resolva se o protocolo na cabeça do atleta, do dirigente, não funcionar direito. Fora a falta de empatia, de responsabilidade, que coloca a vida de outras pessoas, além da própria, em risco, existe ainda uma ausência de compromisso com o clube, que dá a melhor estrutura possível, testa, melhora condições de concentração, e não tem a contribuição dos principais beneficiados.

Divisões de acesso

A FPF vai se reunir com os clubes das Séries A2 e A3 para definir o retorno também das divisões de acesso do Estadual. Sim, porque o que ficou definido até o momento é a volta da elite. São realidades bem díspares as capacidades dos grandes clubes de colocarem em prática o novo protocolo, mais rígido e exigente, aprovado em relação às equipes que disputam a Segundona e Terceirona. Testar mais significa gastar mais. Esquema de concentração mais rigoroso implica também mais dinheiro. Será que a entidade vai ajudar os clubes no custeio das novas exigências? Até jogos noturnos implicam em mais despesas com iluminação que oneram os orçamentos para lá de enxutos de quem disputa as divisões de acesso e procura economizar cada real para fechar a conta. Caso não haja um entendimento da possibilidade de aplicação do novo protocolo por parte das equipes da A3, por exemplo, o campeonato seguirá parado indefinidamente?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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