Wagner Teodoro

Eterno mestre

25/04/2021 | Tempo de leitura: 3 min

"Atingir a perfeição é impossível, mas aproximar-se cada vez mais dela, não". A frase de Telê Santana mostra o que foi a obsessão deste eterno mestre que primou pelo trabalho, ética e empenho em fazer o bom futebol. Na última quarta-feira (21), o mesmo futebol completou 15 anos sem Telê, que morreu em 2006. O técnico montou duas das melhores equipes que vi jogar: a Seleção Brasileira de 1982 e o São Paulo do início da década de 1990. Com uma delas não ganhou, mas encantou. Com a outra venceu e impressionou. Mas sempre, sobretudo, buscou a essência do jogo bem jogado, do melhor futebol, e tinha como marca justamente perseguir a perfeição por meio de repetição de jogadas e fundamentos técnicos.

Telê comandou o Brasil em duas Copas do Mundo. Não foi campeão. Em 1986, no México, acabou eliminado em uma disputa de penalidades com direito até a cobrança que acertou a trave, rebateu na cabeça de goleiro e entrou no gol. Em 1982, na Espanha, montou um dos times que mais se apresentaram de maneira espetacular na história do futebol. Uma Seleção que jogava por sonho, por mágica. Mas a realidade foi brutal e o pesadelo atende pelo nome de "Tragédia do Sarriá", com a eliminação do time canarinho para a Itália, que seria campeã.

As derrotas valeram ao treinador a fama de pé-frio e o desgostaram. Logo ele que nos tempos de jogador era chamado de Fio de Esperança pela torcida do Fluminense, um atleta franzino, mas aguerrido. Porém, Telê seguiu seu trabalho, continuou com suas convicções e desembarcou no Morumbi para exorcizar qualquer sombra que pairasse sobre o brilho de sua competência. Formou um esquadrão imbatível e, entre 1991 e 1993, ganhou tudo o que se propôs. Entre os vários títulos, finalmente, veio o mundo, e foram duas vezes. O futebol reverenciava quem sempre lhe enalteceu e elevou.

Respeito ao futebol

Mais do que a história vencedora e os títulos, Telê Santana deixa um legado de respeito ao futebol, de ética. Telê, todos sabem, era ranzinza. Não tinha paciência com mediocridade e muito menos com grossura. Entenda-se por grossura o pontapé, a apelação, o antijogo. Outras frases famosas de Telê são as de que, se jogador do time dele entrasse para quebrar o adversário, o árbitro nem precisaria expulsar, porque ele mesmo tiraria do jogo e que "malandro é o cara que age direito".

O perfeccionismo não se restringia a jogar bem, exigia jogar limpo. Conseguia conciliar disciplina e talento. Telê acreditava e colocava em prática o seu manual onde estava sentenciado que o futebol brasileiro é feito de habilidade e técnica. Deixou uma legião de discípulos, que treinam clubes pelo Brasil todo em várias divisões e que reverenciam seus ensinamentos e lições dentro e fora de campo.

Legado e referência

Toda a filosofia de Telê aplicada em campo determinou padrões para suas maiores equipes, que criaram paradigmas do futebol bem jogado, da busca da vitória pela técnica, pela qualidade. São atributos que impressionaram e influenciaram muita gente competente no mundo da bola. Pep Guardiola, que se tornou o maior treinador do mundo neste século, já citou duas equipes comandadas por Telê. Ex-jogador do Barcelona, o catalão afirmou que na final do Mundial de Clubes de 1992 o time espanhol não viu a cor da bola e que o São Paulo foi infinitamente superior.

Em relação Brasil de 1982, Guardiola foi ainda mais enfático: "a seleção mais maravilhosa que existiu". O encanto de um cara que revolucionou o futebol pelos times treinados por Telê dá a dimensão da obra do Eterno Mestre. E já que as frases do homem permearam todo este texto, encerro com a definição de Telê sobre a modalidade que escolheu para requintar: "futebol é arte, é diversão, sem chutão para frente".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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