Wagner Teodoro

De turbulências e turbulências

02/05/2021 | Tempo de leitura: 4 min

Santos e Corinthians vivem turbulências pelo futebol insuficiente que apresentam no início de temporada. Se o Alvinegro da Capital vai bem no Campeonato Paulista e está classificado, mas patina na Copa Sul-Americana, o Alvinegro Praiano mergulhou em crise pela má fase no Estadual e Libertadores. As tempestades respingam no trabalho dos técnicos. No Santos, Ariel Holan pegou no boné e foi embora. No Corinthians, Vagner Mancini insiste em encontrar caminhos para o time jogar um futebol mais contundente e convincente. Sim, porque a crise é também de credibilidade em ambos os clubes. Afinal, a grande preocupação que já tira o sono de ambas as torcidas é o Campeonato Brasileiro. Caem quatro e é preciso jogar mais do que vêm produzindo santistas e corintianos. E jogar bem com regularidade para almejar algo no Nacional.

É certo que os times decepcionam. Mas cada caso é um caso. O Santos foi um ponto muito fora da curva no ano passado. A grande surpresa da temporada. Uma final de Libertadores foi um feito. Saiu Cuca e veio Holan. O argentino chegou sabendo onde pisava: um clube sem perspectiva de contratações e que ainda se desfez de jogadores importantes para o conjunto da equipe, como Lucas Veríssimo e Diego Pituca. O treinador sofreu com baixas de atletas relevantes, por lesão, suspensão ou até viagem. Teve que apostar em garotos muito jovens da base para rodar o elenco em meio à fase preliminar da Libertadores e à disputa do Paulistão. Teve pouco tempo de preparação. Difícil trabalhar assim, difícil imprimir uma identidade assim, difícil obter resultados assim. O argentino, após ser alvo de fogos de artifício em protesto da torcida, resolveu que bastava.

É certo que Holan "inventou" em algumas partidas, mas o maior problema do Santos, na minha opinião, não é treinador. É elenco. Ou a falta dele, carência de alternativas. E clube ainda se desfez de um dos destaques do grupo, Soteldo. Certo que a transação resolve a pendência que impedia de contratar e podem aportar reforços. Mas a situação financeira também não permite sonhar com jogadores que cheguem para carregar o time. Marinho fez isso no ano passado. O atacante nunca foi um craque, mas teve uma temporada iluminada, uma fase excepcional, a melhor da carreira. Difícil imaginá-lo repetindo. Como se diz na Vila, seria mais um raio que cairia no Santos.

 Temor de 2007

O desgastado Mancini lida com cenário parecido no Corinthians. O elenco oferece opções limitadas, tem vários jogadores caros com péssimo custo-benefício. A base não conta com a melhor safra e, na pressão da exigência imediata por resultados, jogadores ainda não prontos, ainda não preparados, podem ser queimados. A ordem é mesmo contenção, arrumar a casa, acertar as contas. Mas existe apreensão grande dos torcedores, e não foram poucos que comentaram comigo o temor que um 2007 se repita. A verdadeira preocupação é mesmo o Brasileirão. Ou melhor, a possibilidade de novo rebaixamento. A torcida protesta e cobra.

Falta regularidade e padrão tático ao time, mas, de fato, o elenco é curto e limitado. E, a exemplo do Santos, falta também dinheiro para contratar. A diretoria trabalha para se livrar de contratos onerosos e buscar reforços pontuais para qualificar o time. No melhor cenário, com o recorte atual - se chegarem jogadores, é preciso rever a análise -, o Corinthians brigaria no Brasileirão por vaga na Copa Sul-Americana. A mesma competição na qual o atual elenco empatou com o lanterna do Campeonato Paraguaio, perdeu para o Peñarol e está virtualmente eliminado na primeira fase.

Sem vexame

O Palmeiras precisa de combinação de resultados para não cair na primeira fase do Paulistão. Mas, neste caso, não dá para entender "crise" no clube por causa disso. O Palmeiras é o atual campeão do Estadual. Aliás, o time vem de três títulos. Faz pouco tempo, o campeonato era chamado de Paulistinha. O Alviverde decepciona pela campanha que faz no Paulistão? Sim. Os garotos vêm mandando mal no "vestibular" da competição? Sim. A segunda e terceira unidade do elenco está abaixo do esperado? Sim. Mas nem vejo como vexame. São escolhas, prioridades. Claro que cobrarão seus efeitos e consequências no futuro. Abrindo mão aqui, terá que ganhar lá para não ser "condenado". Sem razão para turbulência. Um grupo com crédito e títulos como este não pode perder?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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