Wagner Teodoro

Dinizismo na Vila

09/05/2021 | Tempo de leitura: 4 min

A contratação de Fernando Diniz pelo Santos pode ser entendida pelo contexto financeiro que o clube vive. Com limitação orçamentária severa, o técnico se encaixou em uma faixa salarial que o time se dispunha a bancar - menor que a do antecessor Ariel Holan - e chega à Vila Belmiro sem multa em caso de demissão. O Santos não cogita pagar ex-treinador, salientou o presidente Andrés Rueda. Mas, fora isso, Diniz tem um perfil que pode se enquadrar em outros aspectos para além de ter sido uma "pechincha". O momento econômico alvinegro deixa pouca margem para contratações. É certo que reforços pontuais devem aportar na Vila, mas dificilmente serão atletas que cheguem com status de titulares absolutos. Portanto, a aposta vai ser mesmo na ótima base, que já vem jogando e esboçando uma nova safra de revelações. E Diniz tem perfil de trabalhar bem com jovens jogadores. Pode desenvolver a geração santista que vem queimando etapas e sendo parte fundamental na equipe. Existe consenso de que o treinador contribui bastante na evolução dos atletas em clubes nos quais passou. Se observarmos o mais recente trabalho, no São Paulo, revelações das categorias de base ganharam rodagem e importância no time. Nomes como Brenner, Gabriel Sara, Igor Gomes, Diego Costa e Luan foram protagonistas sob comando de Diniz. No Santos, a situação pode ser potencializada pela necessidade e pela qualidade de jovens como Kaiky, Gabriel Pirani, Vinícius Baliero, Renyer, Kevin Malthus, Ivonei, Sandry, Angelo, Marcos Leonardo, além de Kaio Jorge, Bruno Marques e Lucas Braga, que já são um pouco mais experientes.
Para usar um termo muito empregado na NBA, o Santos vive uma época de reconstrução. Uma temporada na qual pensar em título é um sonho. Impossível? Não. Provável. Não. A realidade se impõe diante da esperança e o caso é que a hora é mesmo de se reestruturar financeiramente e afirmar as revelações que se insinuam no elenco. Disputar a Libertadores, diante das circunstâncias, como franco-atirador, jogar o Brasileirão de maneira digna e competitiva e ver o que é possível em algum torneio de mata-mata que pintar pelo caminho, como a Copa do Brasil e uma eventual vaga na Copa Sul-Americana.

Requer paciência

Mas tem um porém. Fernando Diniz trabalha com convicções das quais não abre mão, são inabaláveis. É adepto de uma filosofia de jogo, um sistema rígido, e já mostrou dificuldade para ter flexibilidade e fazer mudanças. Traduzindo, é provável que o trabalho do treinador requeira algum tempo. Traduzindo: paciência. Fico imaginando, uma torcida que não teve paciência com Ariel Holan como vai se comportar com os conceitos de Diniz colocados em prática em campo. A saída de jogo na qual é proibido quebrar a bola sob quaisquer circunstâncias, por exemplo. Com um sistema muito exigente e tendo um elenco extremamente jovem e inexperiente em mãos, erros individuais podem comprometer o trabalho em algum momento. E será necessário por parte do Santos compreensão e… paciência. Algo raro no futebol brasileiro. Outro ponto que fez a própria diretoria do Santos relutar na contratação do treinador é o relacionamento com os atletas. Ao mesmo tempo que Diniz é conhecido por formar grupos unidos e focados, motivar e desenvolver atletas, ser um cara benquisto nos clubes nos quais trabalhou, não são raras as vezes que o vemos desabafando, esbravejando e xingando geral à beira do gramado. O episódio envolvendo Tchê Tchê na passagem pelo São Paulo deixou uma impressão forte e gerou dúvidas sobre a validade de acertar com o técnico. Diniz vem evoluindo em sua carreira e, com um elenco de molecada como vai encontrar no Santos, talvez pense em pegar um pouco mais leve com os Meninos da Vila para não colher ao invés de motivação a intimidação.

Entregar ou se entregar?

O Corinthians entra em campo neste domingo (9) com a não incomum possibilidade de eliminar um arquirrival de uma competição. Se perder para o Novorizontino, o Palmeiras cai na fase de grupos do Paulistão. Em casos assim, a torcida, passional, geralmente pede para o time entregar. Mas via de regra, a promessa da equipe é de se entregar em campo pelo resultado positivo. Eu nunca acredito em "corpo mole" de profissionais neste tipo de situação. No podcast Arena JC, disponível no JCNET (www.jcnet.com.br), o editor Vitor Oshiro e eu nos aprofundamos no assunto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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