Popularmente, o caos representa uma desordem, bagunça ou confusão, sendo um termo frequentemente usado em questões sociais e econômicas, como guerras, revoluções, pandemias ou crises econômicas. Porém, a partir da década de 1960, a ideia de caos passou a ser estudada dentro de uma visão matemática, que foi posteriormente chamada de “teoria do caos”. A ideia matemática é a de que, se conseguirmos modelar matematicamente os eventos caóticos, então conseguiremos prever o seu comportamento e assim, poderemos tomar decisões antecipadas que atenuem os seus efeitos mais nocivos.
Filosoficamente, a ideia matemática se baseia no fato de que um grande evento caótico pode ter sido gerado por um evento preliminar e relativamente pequeno. Por exemplo, o assassinato de um único homem, o arquiduque austríaco Francisco Ferdinando, se tornou o estopim da primeira guerra mundial, que acabou causando a morte de cerca de 20 milhões de pessoas entre 1914 e 1918. Além disso, esta guerra mudou a geopolítica mundial, representado o fim dos impérios Austro-húngaro e Otomano, e levando até mesmo à criação de novos países.
Todo este contexto histórico pode ser usado de forma bastante objetiva para exemplificar a teoria do caos, cuja premissa básica é a de que um pequeno evento, um “ruído”, dentro de um sistema complexo pode mudar drasticamente o rumo do mesmo e gerar consequências imprevisíveis (caóticas). Esta ideia deu origem ao chamado “efeito borboleta”, que é uma forma mais simples e até poética de se referir à teoria do caos. Este termo, que inspirou dezenas de filmes e livros, foi criado em dezembro de 1972, no congresso anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, onde foi proposto um questionamento: “Pode o bater das asas de uma borboleta no Brasil desencadear um tornado no Texas?”. Aqui, as respostas não tinham nenhuma importância, pois a ideia era induzir as pessoas a refletirem sobre a possibilidade de que pequenos eventos pudessem gerar grandes mudanças.
Esta é a premissa básica da teoria do caos, que foca em tratar sistemas que são altamente dependentes das condições iniciais. Note que se você fizer um bolo e errar em apenas uma grama na quantidade de farinha, não vai acontecer absolutamente nada, pois o bolo (sistema) não é dependente disso, ou seja, este não é um sistema caótico. De modo contrário, se você fizer um medicamento e errar a quantidade de insumos em poucos miligramas, poderá criar efeitos catastróficos (caóticos) no organismo do paciente.
Na verdade, a ideia matemática de sistemas que são dependentes das condições iniciais, como um sistema de causa e efeito, já é antiga e foi observada no final do século 19 pelo cientista francês Jules Henri Poincaré, que observou esse comportamento na trajetória de planetas. No entanto, somente na década de 1960 é que o cientista Edward Norton Lorenz, do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), apresentou um estudo aprofundado e formal sobre esse tema, o qual passaria a ser referenciado como “teoria do caos” somente em 1975.
Pois bem, a teoria matemática sobre a análise de sistemas caóticas já existe. Se conseguirmos identificar precisamente quais são todas as variáveis que podem influenciar um sistema caótico, o que não é uma tarefa nada fácil, então poderemos prever exatamente como ele vai se comportar e, com base nisso, tomarmos decisões antecipadas. Apesar da dificuldade, atualmente existem estudos bastante avançados de aplicações da teoria do caos em áreas como meteorologia, economia, organizações empresariais, crescimento populacional, etc. Quando você tiver um tempinho de folga, tente fazer uma pesquisa rápida na Internet sobre os temas “teoria do caos” ou “efeito borboleta”. Com certeza você irá se surpreender. Boa sorte!
João E. M. Perea Martins, Professor Associado do Departamento de Computação - Faculdade de Ciências/UNESP - Campus de Bauru.