Alberto Consolaro

Quando um cientista se vai ...

22/05/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A ciência tem a mesma amplitude das artes. A ciência fala ao raciocínio e a arte ao sentimento: as duas formam a inteligência. Os cientistas são seres culturais, abertos para as sensações e discussões sobre a vida e os modos de se levá-la! O cientista percebe muito cedo que existe vida além da ciência e que ela não cabe dentro de um currículo Lattes. Algumas pessoas são excelentes em suas investigações, nem pensam em mais nada e são grandes pesquisadores.

O cientista, além de grande pesquisador, é pensador, questionador, músico, escultor, pintor e, acima de tudo, um sedento em viver sem medo da amplitude e da contestação! Quando morre um cientista é como se perdêssemos um pouco da luz em que vivemos. Mas, nos confortamos em pensar que ele tenha virado uma estrela no céu a iluminar o universo, não só mais a aldeia em que vivemos. Nesta hora, temos que compensar e aumentar o amor e a inteligência por aqui, mesmo que a música teime em dizer que: ... “românticos” são uma espécie em extinção!

MUITO TRABALHO

Conhecimento e sabedoria são desejados por todos, mas não são gratuitos, nem transferíveis passivamente e muito menos obtidos com pouco trabalho. A informação até pode ser gratuita, transferível e sem muito trabalho para obtê-la.

Talvez o maior objeto de desejo seria uma cabeça humana com saídas USB para absorver conhecimento e sabedoria de outros humanos e máquinas. Mas, conhecimento e sabedoria são construídos e requer reflexão e dedicação com organização máxima no pensar e fazer! Depois de uma aula, precisa-se aquietar, relaxar, ler e interpretar serenamente para a sabedoria impregnar!

É comum afirmar-se: ele tinha o “dom”! Mal sabes, quem assim fala, o trabalho que deu para se aperfeiçoar como pessoa e profissional. Deus não seria injusto com os humanos dando para alguns, sorte e para outros, azar, talento ou limitação, habilidades ou descoordenação. Nascemos com todas as possibilidades e nos cabe explorá-las, mas para isto se requer muito treinamento e dedicação.

O cientista e pedagogo Malcolm Gladewell desenvolveu a teoria das 10 mil horas: ninguém é virtuose musical, gênio esportivo e intelectual autêntico sem treinamento acima destes limites. Ele analisou gênios da música, artes e esportes, e todos antes do sucesso treinaram muito mais que isto.

Ninguém encontra se ao acaso com o sucesso, ele é construído. O dom é dádiva divina para todos, cabe nos explorar as habilidades estimuladas de acordo com o meio onde se nasce e vive. Devemos aprender desde cedo que nascemos para o sucesso, mas antes temos que dar uma “raladinha”!

Todos os trabalhos com cérebros de pessoas geniais revelaram não ser possível diferenciar ou encontrar áreas de brilhantismo. E ao se analisar a vida de todos os gênios, se resgata sempre uma vida de contemplação, estudo, curiosidade, colaboração, arte e acima de tudo muita dedicação e trabalho duro.

HOMENAGEM

Este texto é inspirado pela memória do amigo Ado Francischone. Maestro e músico, era um artista na sua profissão e um contemplador das artes. Aos amigos e família, se dedicou como poucos fazem, sempre leal e colaborativo! Na Odontologia e na Universidade contribuiu muito com inovações importantíssimas e somos gratos pela sua história e exemplo!

Perdi um grande amigo e a sociedade, um cidadão exemplar!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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