Lucas Lima está em xeque. Nenhuma novidade na trajetória do jogador no Palmeiras. A diferença é que, desta vez, a razão é extracampo. O jogador foi flagrado e abordado, ou melhor, intimidado por torcedores em uma suposta festa clandestina em São Paulo. Em vídeo que foi amplamente compartilhado nas redes sociais, a situação pode ser conferida. Todos sem máscara. Tudo isso dias depois da morte de dois funcionários do clube por Covid-19.
Sob pressão dos torcedores, Lucas Lima chega a dizer repetidamente que errou e pede perdão. Errou demais. É uma atitude irresponsável de um cara formador de opinião. Pecou pela falta de sensibilidade e respeito aos colegas de clube e à população em geral em momento gravíssimo da pandemia de coronavírus. Difícil de entender.
Mas Lucas Lima é condenado primordialmente pelo que não fez. O caso da suposta festa é reflexo do limite da paciência do torcedor com o atleta. Porque tudo o que envolve Lucas Lima e o Palmeiras é sinônimo de uma relação que não deu liga. A contratação do meia pode ser considerada uma grande furada. E é claro que não digo que Lucas Lima é ruim de bola. De jeito nenhum. O cara tem qualidade acima da média. O problema é que não se envolve. Não se doa. Não é um jogador "com alma".
E trata-se de uma relação desgastada. Um contrato milionário e falta de atitude em campo e, agora, atitude flagrada fora dele. Lamentável. A falta de desempenho e, principalmente, empenho, compromisso, de um dos jogadores mais caros do elenco é o alvo das críticas recorrentes que Lucas Lima recebe, gera o total patrulhamento em cima do meia e tira qualquer chance de "boa vontade" dos torcedores com ele. Já estava condenado pelo que não fez em campo. Agora, gerando revolta, só piora sua situação no clube, que beira o insustentável, além de se queimar com um "restinho" da torcida que talvez ainda tivesse esperança em relação a ele e já o enxerga como a grande maioria como um caso perdido no Palmeiras.
Uma quase tragédia
Além de Lucas Lima, dois outros jogadores chamaram a atenção nos últimos dias e foram os principais personagens do planeta futebol. Ambos na Europa. Cristiano Ronaldo e Christian Eriksen. O dinamarquês gerou comoção e nos trouxe de volta os piores pesadelos, as piores imagens que temos guardadas na lembrança quando pensamos em futebol. Quando o jogador caiu em campo e precisou de um longo atendimento, com a urgência e gravidade da situação estampada nos semblantes e atitudes de todos à volta, quem assistia à partida foi imediatamente remetido a algum caso de morte súbita no gramado.
Para nós, brasileiros, talvez a principal referência seja a tragédia envolvendo Serginho, que defendia o São Caetano, em 2004, no Morumbi. Todo o horror da situação me voltou automaticamente vendo o dinamarquês caindo sozinho e já desacordado. O caso de Eriksen foi de extrema tensão, mas felizmente o desfecho foi positivo. O jogador foi "ressuscitado", implantou um desfibrilador no coração e não tem nem mesmo seu retorno ao futebol descartado.
CR7 transgressor
O episódio envolvendo Cristiano Ronaldo, felizmente, é bem mais leve. O craque afastou duas garrafas de Coca-Cola colocadas estrategicamente ao lado do microfone em sua entrevista coletiva na Eurocopa. E sugeriu que se tome água e não refrigerante. Como o cara é um deus do futebol, logo a cena viralizou e começaram as polêmicas. As redes sociais bombaram para variar - CR7 é a pessoa com mais seguidores no Instagram no mundo - e uma das "informações" que rolaram é que a empresa, que patrocina a competição europeia, teria perdido US$ 4 bilhões em valor de mercado após o ato do craque incentivando o consumo de um líquido mais saudável do que o refrigerante. Apesar de poderoso, não foi o português o responsável pela queda das ações, que já vinham em baixa antes de sua sugestão de "beba água". Alguns condenaram, outros elogiaram CR7. Eu fico no segundo grupo. Em um futebol cada vez menos espontâneo, com declarações, atitudes e agenda cuidadosamente planejada e pautada por assessores, um dos maiores da história transgredir um pouquinho o roteiro traz um tempero mais humano ao cenário.