Wagner Teodoro

Vai dar liga?

04/07/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Os clubes brasileiros avançaram na semana que passou no plano de criar uma liga independente da CBF e assumir a organização do Campeonato Nacional. A ideia é definir formato e questões básicas no que se refere à estrutura, como modelos de gestão e administrativos. Uma vez definidos diretoria e estatuto, a estratégia é iniciar o trabalho que passará a discutir, em um segundo momento, questões mais complexas como divisão de cotas de TV, por exemplo, que testarão de fato o grau de união dos integrantes deste novo movimento, que conta com clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Neste estágio, a prioridade é evitar uma disputa por poder.

Sempre entendi que a formação de uma liga seria o melhor caminho para o futebol brasileiro. Basta observar os exemplos na Europa, onde as ligas ajudaram a fortalecer os clubes. A Premier League é maior exemplo. Evidentemente, as realidades financeiras são distantes, mas o modelo de uma liga, a independência dos clubes gerindo o que é seu patrimônio, negociando em conjunto, só pode ser benéfico se bem executado. O momento de instabilidade que a CBF atravessa, com o afastamento do presidente Rogério Caboclo por denúncias de assédio, abriu a brecha que os clubes esperavam. É aproveitar.

Sem individualismo

Não por acaso, questões mais polêmicas, como as cotas de TV, vêm sendo postergadas estrategicamente pelos clubes neste primeiro momento. O assunto tem potencial para causar rachaduras na liga que vem surgindo. Com um histórico de miopia amadora e um individualismo nocivo, os clubes brasileiros já perderam muito, muito tempo e dinheiro. Basta lembrar que já houve uma entidade representativa dos times, o Clube dos 13. Bem ou mal, negociava em conjunto e fortalecia a posição das equipes.

Mas o Clube dos 13 foi implodido pela ação de alguns presidentes, enfraquecendo o produto futebol. Como se, em algum momento, a nova fragilidade não atingisse quem foi ganancioso e procurou ganhar muito com a pulverização do Clube dos 13. É exatamente esta sombra que paira sobre a nova liga. Pelo que foi divulgado pelos dirigentes, modelos europeus de sucesso serviriam de base. Seria ótimo. Copiar ou se inspirar no que funciona não tem nada de errado. A liga já nasceria com parte de seu percurso percorrido.

Em relação a cotas de transmissão, por exemplo, a Premier League divide 50% do total igualmente entre todos os clubes, 25% por número de partidas transmitidas e 25% de acordo com a classificação da temporada anterior. Eu considero um excelente modelo. Certamente, a divisão do dinheiro da transmissão será um dos pontos sensíveis para a nova entidade. Mas há contratos vigentes e deve ser abordada somente em um momento posterior, talvez com a liga já fortalecida.

Sem trampolim

A liga dos clubes brasileiros surge, pelo menos na teoria, na contramão do que representava a criação da Superliga Europeia, uma entidade com pinta de elitista e excludente. Aqui, em tese, o movimento é justamente o contrário e a inclusão dos clubes que disputam a Série B nacional é bom sinal. Mas que a liga não acabe sendo um trampolim para equipes mais tradicionais e poderosas saltarem da segunda para a primeira divisão, sem "pagar Série B". Basta passar o olho pela tabela de classificação da segunda divisão nacional para imaginar quais agremiações seriam.

Mais uma vez, pelo que foi expressado pelos presidentes, não haveria possibilidade disso. A ideia seria uma liga com primeira e segunda divisões. Que assim seja. Que quem caiu conquiste o acesso em campo. Credibilidade e lisura são atributos essenciais para quem vai buscar vender um novo produto no mercado. E trata-se fundamentalmente disso. Um produto, que precisa ser transparente para se vender.

Para que a liga saia do papel, os clubes ainda precisam definir com a CBF o que fica a cargo de quem. Arbitragem, um fator sempre sensível e polêmico, entra neste combo. Uma liga independente deve se responsabilizar pela arbitragem das partidas? Mas não aumentaria a pressão sobre os sempre contestados árbitros? Reforma no calendário, o que já envolve outras competições, inclusive os Estaduais… Já há muita gente interessada em gerir e as cifras são na casa dos bilhões de reais. Vamos ver se dá liga.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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