
Quando der a primeira passada na largada para percorrer os 42.195 metros do percurso da maratona olímpica, no Japão, apesar da óbvia e obrigatória concentração na prova que o momento exigirá, talvez surja um vislumbre, um flash, no pensamento de Daniel Nascimento. Aquela história do filme de uma trajetória dramática passando na cabeça e a certeza reiterada de que valeu a pena voltar ao atletismo para experimentar o momento máximo que um atleta pode viver: o de disputar os Jogos Olímpicos.
Sim, porque há aproximadamente três anos, o mais jovem maratonista do Brasil nas Olimpíadas de Tóquio simplesmente desistiu da modalidade e voltou para o corte de cana, ajudando a mãe no sustento da família.
Desta vez, o suor de Daniel Nascimento será pelo empenho na concretização da glória de ser um atleta olímpico, distinção que poucos conseguem atingir. E a ascensão de Daniel foi meteórica. Ele voltou ao atletismo em 2019, correndo pela Associação Bauruense de Desportes Aquáticos (ABDA), e não parou mais de se destacar.
Foram pódios e vitórias em competições nacionais e internacionais, melhor colocação de um brasileiro na Corrida de São Silvestre, em 2020, até a conquista da vaga olímpica com o ouro na maratona de Lima no Peru. A prova da maratona dos Jogos de Tóquio está marcada para o dia 7 de agosto, na cidade de Sapporo, em Hokkaido (aproximadamente 800km de distância da capital japonesa).
DETERMINAÇÃO
Obcecado pelas vitórias, Daniel Nascimento faz aprimoramento e preparação específica para os Jogos Olímpicos. Serão 45 dias de treino na cidade de Kaptagat, no Quênia, localizada a cerca de 2.300 metros de altitude, onde já está há semanas. Lá, tem a companhia das feras da maratona, todos de olho em fazer a prova de suas vidas em Sapporo e faturar uma medalha nas Olimpíadas. O regime é de concentração total.
"Minha rotina está sempre focada, não tem distração nenhuma aqui no Quênia. Depois dos treinos, tem sempre os massagistas. Estamos treinando também com especialista em corrida, mecânica. É só treinamento e descanso, treinamento e descanso, vivendo 100% focado nos Jogos, porque aqui no Quênia estão os 26 do mundo na maratona, se preparando. Todo mundo também tomando bastante cuidado com alimentação e descanso para representar bem cada um seu país", relata Daniel.
O representante da ABDA e do Brasil destaca que a preparação no Quênia refletirá também em seu desenvolvimento como atleta e repercutirá nos próximos anos de sua carreira de fundista. "Estou fazendo uma preparação para competir de igual para igual. Quero fazer algo diferente na maratona. Estou aqui na casa dos campeões, onde tem o melhor do mundo na maratona e outros atletas. Está sendo também uma experiência na parte de minha evolução, ainda mais que eu sou um atleta que tem 22 anos. Pensando também no futuro, é muito importante estar aqui treinando com eles. A evolução é o mais importante. Se você evolui, pensando no futuro, pode colher muitas coisas boas lá para frente", projeta.
DETALHES QUE IMPORTAM
Daniel Nascimento tem estudados o clima, trajeto, adversários e detalhes da prova em Sapporo. Cada minúcia pode ser um diferencial na briga por posições no decorrer do longo caminho até a linha de chegada.
"O clima de Sapporo é comparado ao clima do Brasil (no verão). Eu venho estudando não só o percurso, mas também os atletas que vão competir. Vai estar difícil para todos devido ao calor e, no finalzinho, vai ter uma subida. Mas o que é mais importante para a maratona é montar uma tática boa, você se sentir totalmente confortável, fazer uma prova bastante econômica, porque são 42 quilômetros e 195 metros", destaca o corredor.
O embarque para o Japão está programado para o dia 25 deste mês e Daniel Nascimento terá a companhia de seu técnico, Neto Gonçalves, convocado pela Confederação Brasileira de Atletismo para os Jogos. Chegando à sede das Olimpíadas, os atletas precisam passar pelo isolamento em sistema de "bolha" para evitar risco de contágio e propagação do coronavírus.
Depois da quarentena, a preparação atingirá o último estágio. "Estamos tomando as precauções. A gente quer chegar e fazer a aclimatação, porque estou treinando em altitude", conclui o atleta. Além de Daniel, o Brasil terá como representantes na maratona olímpica Daniel Chaves e Paulo Roberto de Almeida Paula.