Wagner Teodoro

Demolindo favoritismos

01/08/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A primeira semana dos Jogos Olímpicos de Tóquio foi implacável com alguns grandes ídolos do Esporte mundial. As Olimpíadas japonesas nos lembram que mesmo os superastros estão a um passo de falhar e que nenhuma glória é garantida de antemão. Um dos casos mais surpreendentes foi a derrota do francês Teddy Riner no judô. O cara é simplesmente uma lenda viva, o mais dominante da história da modalidade, e não perdia em Jogos desde Pequim-2008. O revés veio em uma tentativa de execução de técnica de sacrifício usada pelo russo Tamerlan Bashaev para aplicar o golpe vencedor. Inesperado. Mais que isso, impactante. O que a imprensa europeia chamou de "Queda de um Imortal". Riner buscava sua terceira medalha de ouro consecutiva para igualar o japonês Tadahiro Nomura, campeão em Atlanta-1996, Sydney-2000 e Atenas-2004. O francês ainda ficou bom o bronze individual e liderou a França para o alto do pódio na inédida competição por equipes. Mas certamente teve frustrados os planos originais de sair no topo de Tóquio para fechar sua trajetória com o quarto ouro individual em Paris, daqui a três anos.

Saúde mental

Duas estrelas dos Jogos de Tóquio levantaram um debate importante sobre a saúde mental dos atletas. A tenista japonesa Naomi Osaka e a ginasta estadunidense Simone Biles. Osaka era uma das principais apostas de medalha do país anfitrião e admitiu que a pressão pelo bom resultado influenciou seu desempenho. Osaka, dona de quatro Grand Slam, já tinha alertado que sua personalidade não lidava bem com o estrelato e havia deixado Roland Garros e desistido de Wimbledon para se preservar do estresse e desgaste emocional até mesmo de conceder entrevistas. O caso de Biles abre um precedente importante e é quase libertário para atletas. A ginasta era candidata a ser o principal nome não só de sua modalidade, mas de toda a Tóquio-2020. Porém, não estava bem e tomou uma decisão corajosa e correta: pensar em sua saúde. Pelo que chamou de "descompasso entre corpo e mente", retirou-se em meio à disputa por equipes e desistiu do individual geral, barras assimétricas e salto. Era, obviamente, favorita em todas. Tudo em nome do seu bem-estar físico e emocional. Biles, além de tudo, humaniza os superatletas. Por mais óbvio que seja, muitas vezes nos esquecemos que são pessoas competindo pelo nível de especialização e excelência que atingem.

Adeus Golden Slam

Tão espantosa quanto a queda de Teddy Riner foi o fracasso de Novak Djokovic no Japão. Sem seus principais rivais em quadra - Roger Federer e Rafal Nadal não disputam a Tóquio-2020 -, o ouro do sérvio era apontado como barbada nos Jogos. Djokovic vem fazendo uma temporada brilhante, faturando os três principais torneios disputados até aqui, o Aberto da Austrália, Roland Garros e Wimbledon, e tinha chance da vida de chegar ao chamado Golden Slam se triunfasse em Tóquio e no Aberto dos Estados Unidos, igualando feito único da alemã Steff Graf. Mas o imponderável entrou em quadra. Djokovic, com desempenho impecável, não tinha perdido nenhum set no torneio olímpico de tênis. Na primeira parcial arrasou o alemão Alexander Zverev por 6-1. Mas o esporte é fantástico e a reviravolta se deu. Virada de Zverev e espantosa eliminação de Djokovic da luta pelo ouro. E o final da história foi ainda mais "trágico", pois o sérvio também perdeu o bronze para o espanhol Pablo Carreño Busta, foi eliminado na disputa pelo ouro de duplas mistas e desistiu de brigar pelo bronze, deixando a parceira na mão.

Por água abaixo

O inesperado também surgiu com braçadas largas nas piscinas. Uma estrela viu os planos de dominância irem por água abaixo. A multicampeã Katinka Hosszú chegou com expectativas de ampliar suas assombrosas marcas, que contam com três ouros e uma prata em Olimpíadas. Mas a Dama de Ferro saiu de Tóquio sem nenhuma medalha. E teve resultados decepcionantes. Ficou, por exemplo, fora do pódio dos 400m medley pela primeira vez em 12 anos e foi a sétima nos 200m medley. A húngara, estrela da Rio-2016, não fez um ciclo olímpico ideal e já oscilava. Mas, no Japão, saiu absolutamente frustrada consigo mesma e sem saber explicar o motivo de desempenho tão abaixo do esperado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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