Wagner Teodoro

A melhor da história


| Tempo de leitura: 4 min

O Brasil encerra uma participação brilhante, a melhor de sua história, em Jogos Olímpicos. Nas Olimpíadas de Tóquio, o País quebrou o recorde de pódios em uma mesma edição, ganhando 21 medalhas e superando a Rio-2016. Em casa, foram 20 premiações. Além disso, tinha tudo para estabelecer o maior número de ouros (escrevo este texto antes das finais de Bia Ferreira no boxe e do vôlei feminino). Neste momento, são sete topos de pódio, mesmo número do Rio, mas a conta poderia chegar a nove. Simplesmente espetacular e acima do esperado o desempenho de nossos atletas em um ciclo tão difícil, longo, que exigiu ajustes no meio do caminho por causa da pandemia de coronavírus e que lidou com cortes de verba governamental destinada ao Esporte. O mérito é de quem trabalha no Esporte.

Dentre os nossos heróis olímpicos, merecem destaque o futebol masculino, que alcançou o bicampeonato consecutivo e igualou feito que somente Uruguai, Grã-Bretanha e Hungria têm. O segundo ouro brasileiro em Jogos corrige uma distorção histórica. O Brasil passa a ser também uma potência olímpica na modalidade em que é mais dominante. Foram décadas de "trauma", batendo na trave com três pratas e dois bronzes até os ouros no Rio e em Tóquio. É a justiça dos deuses olímpicos e da bola.

E, falando em bicampeonato, Martine Grael e Kahena Kunze esbanjaram categoria, tiraram o favoritismo de letra e chegaram ao seu segundo ouro em Jogos. A vela brasileira não foi bem e a dupla segurou a onda e manteve a modalidade no pódio por mais uma edição da competição. E a disputa foi acirrada, mas as meninas ratificaram os prognósticos. Personalidade e talento não faltam.

Isaquias Queiroz e Ana Marcela Cunha, também cotados para o ouro, não decepcionaram. Isaquias foi dominante na canoagem e garantiu, finalmente, sua medalha dourada na prova do C1 1.000m. O atleta chegou à total consagração e escreveu seu nome entre os maiores da história do Brasil em Olimpíadas com a quarta premiação, atrás apenas dos velejadores Robert Scheidt e Torben Grael, que possuem cinco. Aos 30 anos em Paris-2024, terá tudo para alcançar ou ultrapassá-los. Além de ser uma fera, Isaquias é dono de um carisma muito grande, um ídolo do esporte brasileiro. Ana Marcela Cunha fixou defitivamente seu nome como gigante da maratona aquática com a conquista que lhe faltava. E fez uma prova impressionante em Tóquio para levar com o ouro.

Outros que confirmaram as projeções foram Alison Santos e Bruno Fratus. Alison ficou com o bronze nos 400m com barreiras. Claramente um atleta em evolução, o brasileiro já desponta como estrela da modalidade. Um cara extremamente simpático, além de grande atleta, e que, assim como Isaquias, tem tudo para ser referência e ídolo do esporte nacional. Deve estar melhor ainda no próximo ciclo. Fratus, na prova mais rápida da natação, na disputa que não permite o menor erro passar impune, sem respirar, enfim, garantiu sua medalha olímpica. Bronze nos 50m livre. É o pódio da resiliência, da perseverança e de um trabalho árduo. Poucas conquistas têm tanto sabor de ouro.

Surpresas

O Brasil ainda foi premiado com desempenhos inesperados ou acima das expectativas. Rebeca Andrade foi estrela. Depois de cirurgias no joelho, colheu os frutos de seguir acreditando e trabalhando. A desistência de Simone Biles ajudou todas as concorrentes. Mas Rebeca foi precisa. Conseguiu aliar a frieza da técnica com leveza e alegria e nos deixou felizes com um ouro e uma prata merecidíssimos. Fez história com as primeiras medalhas da ginástica artística feminina.

Em Tóquio, o Brasil se deparou com o inacreditável no bronze do tênis com dupla Luisa Stefani e Laura Pigossi. Nem iriam participar, mas a vaga veio e foram surpreendendo favoritas. Na disputa pelo pódio reverteram quatro match points para ganhar. Para mim, é a medalha mais imprevisível da história do Brasil nos Jogos. Desempenho acima do esperado no boxe, com três pódios - um ouro emocionante com Hebert Conceição -, e de Thiago Braz, que não era cotado para medalha no salto com vara, e Fernando Scheffer nos 200m da natação.

Prazer, Brasil

Surfe e skate estrearam como modalidades olímpicas e renderam quatro medalhas ao Brasil, que chegou ratificando status de potência. Ambos devem ser caminho para pódios frequentes. Foram um ouro, com Ítalo Ferreira no surfe, e três pratas, com os skatistas Rayssa Leal e Kelvin Hoefler no street e Pedro Barros no park. No skate, harmonia marcante. Trouxe uma boa "vibe" aos Jogos.

Comentários

Comentários