Wagner Teodoro

Domínio nunca antes visto

22/08/2021 | Tempo de leitura: 4 min

Mais impressionante do que três equipes brasileiras nas semifinais da Libertadores é a maneira pela qual chegaram a tal condição. Se o mata-mata do principal torneio de clubes do continente definiu um lado muito mais forte do que o outro, o Atlético-MG é o time que mais impressiona. Pode-se até argumentar que Boca Juniors e River Plate não estão no mesmo nível das potências que eram recentemente, mas ainda são Boca e River, possuem times extremamente qualificados para o patamar sul-americano, além de tradição, e, como todos os argentinos, são muito competitivos, sabem jogar a Libertadores e sabem jogar contra brasileiros. O Galo pegou o caminho mais difícil e se tornou o primeiro representante brasileiro a eliminar os dois gigantes hermanos em uma mesma edição da competição.

 E as pedreiras do Atlético-MG seguem até uma hipotética final. Porque, a partir de agora, o caminho para o bicampeonato tem pela frente o Palmeiras e, muito provavelmente, o Flamengo. Aliás, o Palmeiras, atual campeão, é outro que mostrou força e vem deixando claro que está muito na briga pelo terceiro título. Fez a segunda melhor campanha na primeira fase, atrás apenas do Atlético-MG, seu adversário nas semifinais. Teve vida mais tranquila do que os mineiros nas oitavas, passando pela Universidad Católica, mas encarou um clássico nas quartas.

E foi "o clássico". Um histórico desastroso diante do arquirrival São Paulo, que havia eliminado o Alviverde em três ocasiões no mata-mata e estava invicto no Choque-Rei pela Libertadores. O Palmeiras fez uma boa partida na ida, anotando gol fora de casa, e conseguiu impor completamente seu plano de jogo na volta. A atuação do São Paulo foi abaixo do esperado, mas o Palmeiras cumpriu exatamente o que se propunha a fazer e avançou com méritos.

Do outro lado, o Flamengo, que ainda possui o melhor elenco na minha opinião, teve vida bem mais tranquila. Pegou o enfraquecido Defensa y Justicia, que é argentino e "chato", mas sofreu com saídas de jogadores importantes, e o Olimpia. Diante dos paraguaios foi praticamente um treino: 9 a 2 no agregado e um abismo escancarado entre os dois times.

O Flamengo ficou do lado mais fácil da chave, mas é claro que não é por isso que é um dos favoritos. Já entrou nesta condição na Libertadores e, salvo uma das maiores "zebras" recentes, estará na final em duelo único em Montevidéu. O equatoriano Barcelona não deve conseguir fazer frente aos rubro-negros. Uma decisão de título entre brasileiros pelo segundo ano consecutivo se avizinha. E o terceiro caneco brazuca seguido também.

Poder da grana

Não por acaso Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras entraram como favoritos e ratificaram a condição em campo na Libertadores. Os clubes têm um poderio financeiro que desequilibra a relação de forças atualmente no futebol brasileiro e sul-americano. É possível fazer uma boa campanha com orçamento menor? Sim. O Santos chegou à final no ano passado com um time mais modesto. O São Paulo tem menos dinheiro e, se estivesse do outro lado da chave, poderia ser um semifinalista. Acredito que o Tricolor passaria, por exemplo, pelo Barcelona e pelo Olimpia.

Mas o fato de ter qualidade em quantidade é um fator que em algum momento será o diferencial. Seja nas alterações promovidas que mantêm ou elevam o nível da equipe ou mesmo pelo quilate dos titulares. Se Luciano tivesse um reserva melhor do que Pablo... O certo é que Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo contam com um selecionado de jogadores e múltiplas opções com suplentes que seriam titulares em qualquer equipe do País. Assim, o desgaste físico na rotação é menor e certamente quem entra é mais confiável. É a velha história que vale aqui mais do que nunca: bom time ganha jogo, bom elenco ganha campeonato.

Barrar brasileiros

O domínio esboçado por brasileiros na Libertadores incomoda os vizinhos. Tanto que já tem gente defendendo mudança no regulamento, criando barreiras para impedir vários clubes de um mesmo país, entenda-se neste momento Brasil, em etapas finais. É o tipo de medida ridícula. A relação de forças muda naturalmente e o domínio do Brasil só poder exigir que equipes de outros países elevem o nível. Durante anos, os times brasileiros não priorizaram a Libertadores e argentinos e uruguaios fizeram a festa em títulos. Eram outros tempos, outro regulamento, tá certo. Mas ligas, como a NBA, servem de exemplo que hegemonia nenhuma é eterna. Cabe aos outros clubes ganharem no campo e não na canetada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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