Wagner Teodoro

Outra perspectiva


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O primeiro turno do Campeonato Brasileiro determinou um G3 bem definido: Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras. Não, não estou me referindo à classificação. Pelo menos não à momentânea. Existem outros clubes na parte de cima da tabela, mas tenho cá para mim que os três primeiros no final serão esses. A ordem é mais difícil de indicar, mas o Atlético-MG conseguiu uma gordura e consistência que fazem duvidar que oscile tanto a ponto de ser superado. No entanto, pode ocorrer. E eu acredito que somente Flamengo e Palmeiras poderiam fazê-lo.

Porém, eis que a relação de forças sofre uma mudança e São Paulo e, principalmente, Corinthians se reforçam para cortarem a distância técnica do trio favorito. O Tricolor já tinha uma boa equipe e o principal problema foi a avalanche de lesões que soterrou o time. Com tantas baixas, ficou complicado para suprir os desfalques. Porque houve momentos que os reservas também se lesionaram e o técnico Hernán Crespo teve que apelar para o suplente do suplente e para muitos garotos da base.

Para o returno, o São Paulo "repatriou" o atacante Jonathan Calleri, muito identificado com a torcida, e acertou com o meio-campista Gabriel Neves. Calleri impressionou em sua primeira passagem pelo Morumbi. Goleador, oportunista, forte fisicamente, bom no jogo aéreo... Enfileirou gols nos seis meses nos quais jogou no clube. Se voltar de um período apagado na Europa com o mesma efetividade, pode formar um trio letal com Rigoni e Luciano.

Quem pode ajudar a municiar os atacantes é Gabriel Neves, que joga tanto de volante quanto de meia. Um atleta que vai trazer qualidade ao meio-campo e deve ter sequência maior do que o ótimo Benítez, prejudicado por consecutivos problemas físicos. Ambas as contratações foram "cirúrgicas" e suprem necessidades urgentes do Tricolor. Com Miranda, Arboleda, Daniel Alves, Luan... Se conseguir ficar saudável, este São Paulo terá fôlego para terminar na faixa de Libertadores e será um time extremamente perigoso.

Quarta força?

O que um dia foi demérito, agora é elogio. O Corinthians se reforçou para deixar de ser um time que causava desconfiança para se transformar talvez na quarta melhor equipe do futebol brasileiro. Eu falo do time completo, com todos os jogadores com status de titular em campo. Com as chegadas de Giuliano, Renato Augusto, Roger Guedes e, sobretudo, Willian, o Alvinegro torna-se poderoso.

Com a consistência defensiva, ancorada na experiência de Fagner, Cássio, Gil e Fábio Santos, além do promissor João Victor, faltava ao Corinthians qualidade ofensiva, poder de fogo. Os quatro reforços trazem justamente isso. Criatividade e capacidade de decisão. Quem também certamente vai se beneficiar disso é Jô. Se bem servido, o centroavante ainda pode desequilibrar.

Mas o diferencial é mesmo Willian. O meia regressa ao clube que o revelou para ser o referencial do time. O que Hulk é no Atlético-MG; Dudu, no Palmeiras; Arrascaeta ou Gabriel, no Flamengo. Para mim, o jogador mais decisivo no futebol brasileiro atualmente é Hulk. Curiosamente, Diego Costa chega para ocupar justamente a faixa de campo onde ele mais produz para a equipe. Cuca que se vire.

Mas Willian pode roubar o posto do jogador do time mineiro. De imediato, sua chegada já alça o Corinthians a outro nível. E com sua qualidade deve sobrar no futebol brasileiro. Atlético-MG, Flamengo e Palmeiras deixam de ser favoritos? Não. Mas o campeonato ganha outra perspectiva no returno. Vai ser no mínimo interessante ver o que São Paulo e Corinthians serão capazes de fazer na segunda metade do Nacional.

E as finanças?

Se tecnicamente as contratações são inquestionáveis, as movimentações de São Paulo e Corinthians ganham outro tom quando pensamos nas finanças dos clubes. O Tricolor tem dívida na casa dos 600 milhões de reais. E gastou para trazer Calleri e Gabriel Neves. A diretoria trabalha para renegociar pendências e conseguiu acertos para pagamentos no médio prazo. Mas uma hora vai ter que quitar. No Corinthians a situação é pior. A dívida gira em torno de um bilhão de reais e aproximadamente 500 milhões são de curto prazo. A política de austeridade foi abandonada por uma estratégia ousada. O tempo vai dizer se os arquirrivais acertam ou erram.

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