Wagner Teodoro

A guerra da vez

19/09/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A guerra do retorno de público aos estádios de futebol do País é só mais um capítulo da histórica desunião que pauta o cenário dos clubes brasileiros. Foram poucos os momentos em que houve um real consenso entre dirigentes pensando no coletivo que persistiu e chegou aos objetivos traçados. Desta vez, o Flamengo é o vilão da história. O clube carioca conseguiu na Justiça Desportiva e com a prefeitura do Rio de Janeiro liberação para ter torcedores como mandante. O que causou revolta em boa parte dos outros clubes da Série A do Campeonato Brasileiro. Por força de uma liminar, a volta dos rubro-negros aos estádios foi vetada.

Neste caso, a divisão ficou com o Flamengo contra todos. E com razão os outros clubes se incomodaram e se movimentaram. Torcida joga. Joga, sim. É um fator de desequilíbrio na partida o apoio de um estádio, mesmo com capacidade reduzida, empurrando um time, quando o oponente não pode contar com o mesmo incentivo. O Grêmio atuou sem torcedores em casa e enfrentou o Flamengo com torcida, fora. Fere o princípio de igualdade de condições. Porém, a definição sobre a volta dos torcedores extrapola a esfera esportiva e entra nas questões de saúde pública. A discussão primordial que deveria ser travada é se, com o atual cenário, já há realmente segurança para o regresso dos fãs às arquibancadas.

No entanto, o que pega mesmo para toda a luta do Flamengo para ter público de volta não é exatamente a questão técnica. Pelo menos, não somente. E sim o lado financeiro. Torcida no estádio é dinheiro de bilheteria. O retorno dos torcedores é inevitável e necessário. Só tem que ser planejado de maneira segura e contemplar a todos. Com isonomia. A tendência, com o avanço da vacinação no País, é que o percentual de ocupação liberado seja cada vez maior, o que se traduz em mais verba.

"Sincericídio"

O Flamengo só se adiantou no que todos os clubes esperam para fazer: ter torcida trazendo renda aos enfraquecidos cofres. Depois de um longo período de pandemia, não há um só time no Brasil que não tenha sido fortemente afetado. Patrocínios, renda de bilheteria, ações de marketing, sócio-torcedor… Enfim, toda fonte de arrecadação foi abalada em maior ou menor grau, dependendo do clube. O Flamengo só escancara o que todos os dirigentes aguardam avidamente para fazer, que é abrir os portões dos estádios e receber o público para ver o dinheiro entrar no caixa.

O Rubro-negro, como é característica desta diretoria - muito boa em administração do futebol, mas que comete atitudes e tem posicionamentos que beiram o bizarro - só comete um "sincericídio". O clube assume seu egoísmo e, já há muito tempo, seu pouco caso com a opinião e saúde públicas. Que todos querem ter torcida de volta não há dúvida.

A Série B do Campeonato Brasileiro terá o retorno dos torcedores. Por maioria, os clubes assim definiram. Mas o Cruzeiro também "se adiantou" e lamentavelmente buscou na Justiça o direito de ter apoio nas arquibancadas. Agora, 14 equipes podem jogar diante de suas torcidas. Entretanto, CRB e CSA, de Maceió, Guarani e Ponte Preta, de Campinas, Náutico, do Recife, e Vitória, de Salvador, seguem atuando com estádios vazios.

Negócio desastroso

O São Paulo vai pagar R$ 400 mil por mês para Daniel Alves jogar por outro clube. E o acordo será por cinco anos. Assim, Daniel pode até diminuir a pedida salarial para defender sua próxima equipe, já que terá o acréscimo dos vencimentos vindos do Morumbi. Muito provavelmente, o jogador, atualmente com 38 anos, já terá se aposentado e continuará ganhando dinheiro do São Paulo. Daniel está errado? Não, ele tem o direito de receber o que foi acertado.

Quem errou foi a diretoria do São Paulo que contratou o atleta apostando no imponderável. Uma movimentação tão desastrosa que onerou os cofres tricolores por mais cinco anos com um valor de salário de um possível jogador de ponta para os padrões brasileiros. Tecnicamente, pouco se poderia criticar da chegada de Daniel no momento da contratação. Qualificaria o elenco. Mas faltou a tal responsabilidade financeira. Visão sobre a viabilidade. Em uma comparação simples: todos querem Messi, mas poucos podem contratá-lo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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