Tribuna do Leitor

Da feira ao supermercado

Carlos R. Ticiano
| Tempo de leitura: 3 min

Talvez não seja do conhecimento de muitas pessoas, mas a palavra "feira", segundo a etimologia, deriva do latim "féria" que significa dia santo, consagrado ao repouso; uma vez que por imposição religiosa, era um dia em que não se trabalhava na Roma Antiga. Um dia que os comerciantes se dedicavam em vender o excedente de suas produções.

Por se tratar de um dia de festa, féria ou folga, os comerciantes se reuniam aos domingos (Dia do Senhor), nas proximidades das igrejas. Aproveitavam o fluxo e a aglomeração das pessoas para montarem suas barracas e comercializarem seus produtos. No latim vulgar, feira tinha o significado de mercado popular. As feiras livres sempre fizeram parte do cotidiano das pessoas, por se tratarem de um local onde se podia pechinchar e comprar a preços mais acessíveis, principalmente gêneros de primeira necessidade. Considerando que não existiam os atravessadores para encarecerem o preço, os próprios produtores comercializavam suas mercadorias.

No Brasil, as feiras tiveram seu auge na década de 1970, onde se podia encontrar de tudo um pouco. De frutas, ovos, legumes, arroz, hortaliças, feijão, roupas, galinhas, brinquedos, peixes, artesanatos, utensílios domésticos até o indispensável pastel com caldo de cana. Nesta época, os empórios, as quitandas, os açougues, ainda não eram uma ameaça aos feirantes. Havia espaço para todos e a concorrência não era desleal.

A estratégica usada pelos feirantes não mudou ao longo do tempo, na forma de anunciar seus produtos para os seus fregueses, através de bordões pitorescos e engraçados como - "Mulher casada não paga, quem paga é o marido"; " Aqui é barato, o marido da barata"; "Moça bonita não paga, mas também não leva"; "Aqui tem banana, por preço de banana"; "Gostou do melão, freguesa? Pode provar outra vez!".

Mas seguindo uma tendência, os empórios foram se transformando em supermercados, para se adaptarem a uma nova forma de vender. Aos poucos, foram trazendo para dentro de seus estabelecimentos todo um portfólio (sortimento de produtos) à disposição dos clientes. Agregando ao velho empório, a feira, o açougue, a quitanda, a padaria, o bazar, a floricultura...

Desta forma, a feira foi perdendo o seu espaço. Os encontros com os conhecidos, se tornaram cada vez mais raros. As folhas de jornal foram substituídas pelas sacolinhas plásticas. O popular carrinho de feira cedeu lugar aos modernos carrinhos de supermercados. As tradicionais sacolas de nylon deram lugar às práticas e versáteis cestinhas. Tudo agora concentrados em um único lugar - o senhor supermercado.

Surgiram as grandes redes de atacadistas para atenderem as donas de casa e, principalmente, aos comerciantes de bairro. Seguindo o exemplo das grandes redes internacionais, que se aportaram por aqui, alguns supermercados resolveram aderir ao segmento de loja de departamentos, vendendo desde uma simples caixa de leite até uma geladeira. Sem falar nas lojas de conveniência, que vão desde uma cafeteria até uma farmácia.

Com o passar do tempo, os bordões dos feirantes, os sinos das igrejas, os panfletos das lojas, os cartazes nos muros, a buzina do bucheiro foram sendo aprimorados e transformados em propaganda pelos papas da comunicação. Com suas estratégicas de marketing, debutaram na televisão, graças a publicitários, como Washington Olivetto.

Em pensar que tudo começou em uma simples barraquinha de feira...

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