Alberto Consolaro

Onde se aprende a roubar?

16/10/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Será que produtos piratas, contrabandos, peraltices no trânsito e nas viagens, sonegações de impostos ou taxas e pecadilhos no supermercado, influenciariam no caráter das crianças?

Ou seriam conversas e opiniões que se travam em casa e família? Teria a televisão, séries e jogos tamanha influência na criação dos filhos? Só me falta ser a internet! Faço esta pergunta depois da notícia no JC de que dois professores foram condenados definitivamente por “desvio de recursos”, após ter sido demitidos pela USP alguns anos atrás, confirmando-se que as acusações eram verídicas.

Honestos e coerentes são chamados de românticos, pensadores, utópicos, poetas e exóticos, enquanto os “inteligentes” e pedantes assumem cargos de regente de coral a síndico nacional. Tem roubo em tudo que se fixa o olhar! Até o Papai Noel fica rou... rou... rou... ! Depois de mais de 600 mil mortos, são mais de 600 milhões da ciência nacional “deslocados” ou “retirados” para o orçamento geral. Lembro-me da empresa de ônibus chamada Guerino Seiscentos! Eu diria que fase para este número e empresa.

Brutalidade, falta de preocupação com o próximo, machismo, preconceito racial e derivados, despreocupação com os vulneráveis e cegueira da injustiça social: não resisto e fico tentando descobrir. Onde e quando as pessoas aprendem ser assim e roubar? Não posso acreditar que seja em casa! Ou seria na escola desde os primeiros anos? Procuro até explicações alternativas como: nasceríamos ladrões e a educação iria diminuindo e eliminando esta característica herdada?

UNIVERSIDADE E CIÊNCIA

Universidade é o celeiro para formação de cidadãos críticos, analíticos, céticos e metódicos. Nela, secundariamente, se ensina um ofício ou uma profissão, mas primária, primitiva, histórica e socialmente a missão da universidade é formar pessoas que enxergam mais longe, desenvolvam sensibilidades especiais para antecipar e solucionar os problemas que a sociedade possua ou possa vir a possuir. A universidade deveria quase ser considerada uma religião, aliás deveria mesmo ser, porque assim não pagaria qualquer imposto.

A universidade é berço da inteligência e pensamento lógico, como se pode roubar e ser ruim no seu interior. Um ser pensante que apenas resvale nas ondas do bem e frequenta uma verdadeira universidade não teria coragem de roubar, não importa se dinheiro privado ou recurso público para a prática da ciência.

Roubar significa fazer relatórios falsos e orçamentos enganosos para as agências de pesquisas, significa falsear resultados de pesquisas, plagiar, ter preconceito e ser antiético. Roubar é pegar dinheiro da pesquisa para comprar carros ou viajar. Só tem uma explicação: se uma pessoa for assim dentro da universidade, só pode ter pacto com o mal, também chamado de diabo!

Para os iniciantes se diz que ciência é a busca constante da verdade, com a certeza que verdade é um ser transitório que daqui a pouco virou parte de uma história da evolução humana. O cientista usa sempre o método para revelar os dados e fatos! Cientista revela o que a metodologia mostrou, sem interferência de opiniões e ideologias: é o fato ou o dado que interessa!

REFLEXÃO FINAL

No Brasil, com raras e boas exceções, a ciência é praticada na universidade. Um modelo que se revela interessante, pois são instituições e pessoas na busca da verdade na plenitude da consciência do que é “ser” humano! Ser desonesto, preconceituoso, pedante, incoerente, egoísta e ladrão na universidade e ciência, eu não consigo compreender. Nelas se deveria se ter apenas “Homo sapiens” que dignificassem a espécie. Oremos e viva a utopia!

(Alberto Consolaro é professor titular da USP e colunista de Ciências do JC)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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