Entrevista da semana

Tijolo por tijolo, sólida trajetória

Marcele Tonelli
| Tempo de leitura: 4 min

Foi sob o sol escaldante e trabalho duro no canteiro de obras que Antônio Sebastião Ribeiro construiu, tijolo por tijolo, uma sólida trajetória. Filho de lavradores e criado na roça em Jafa, distrito de Garça, ele descobriu ainda na adolescência o ofício de pedreiro, que mais tarde transformou sua vida. Aos 20 anos, Antônio já era pedreiro de renome e iniciava sua jornada como mestre de obras de prédios de alto padrão, em Marília (100 quilômetros de Bauru). Sedento por conhecimento, aos 54 anos tornou-se engenheiro civil e alçou voos ainda mais altos em Bauru, onde se transformou em sócio-proprietário de uma construtora, a Franzolin Engenharia.

Com quase quatro décadas dedicadas ao canteiro de obras, Antônio é, hoje, uma figura de inspiração dentro empresa e tem se debruçado sobre um projeto que ajuda funcionários a obterem escolaridade e até formação na área da engenharia.

Casado com Cleonice Marques Ribeiro, ele também é inspiração para os filhos, Silvia, Silas e Abel. Os dois últimos se espelharam na carreira profissional do pai e também são engenheiros civis e funcionários da Franzolin.

JC - Como foi a sua infância: ser construtor era um sonho?

Antônio - Nasci em Junqueirópolis e cresci em Jafa, um distrito que possuía menos de 1 mil habitantes. Minha mãe e meu pai eram lavradores. Eu chegava da escola e ia para a roça. Estudei até a 4.ª série. Até uns 15 anos eu trabalhei na lavoura, colhendo café, andando de caminhão boia-fria. Nessa época, eu já sonhava em ser pedreiro e engenheiro, brincava muito com o meu irmão de construir ranchos na terra. Hoje, ele também é construtor, lá em Marília.

JC- Como foi deixar a lavoura para tornar-se pedreiro?

Antônio - Eu e esse meu irmão mais velho (Aparecido Ribeiro) conciliávamos a lavoura com o ofício de pedreiro. Aos 14 anos, virei ajudante dele e construímos casas de madeira e alvenaria nas fazendas. Aprendi a trabalhar observando, tinha facilidade. Aos 20 anos, eu já atuava apenas como pedreiro e muita gente procurava meu serviço. Fui morar em Vera Cruz, depois que casei e, passei a ser pedreiro na prefeitura de lá, construindo galerias e pontes. Em seis meses, me passaram para encarregado, por causa da qualidade do serviço e do meu espírito de liderança.

JC- Quando o Antônio pedreiro virou mestre de obras de prédios de alto padrão?

Antônio - Eu tinha muita vontade de ser mestre de obras, aí eu fiz um curso por correspondência. O conhecimento me ajudou ainda mais na prática e um fiscal, que era meu superior na prefeitura, chegou um dia e me disse: você é muito inteligente, quer trabalhar em uma construtora? Eu disse sim, então, ele conversou com um empresário, em Marília, que me contratou. Fiquei por 20 anos nessa construtora e me desenvolvi muito, passei de mestre de obras para coordenador, em cinco anos, construindo apenas prédios de alto padrão e grande porte. O dono dessa empresa, o Gustavo Lorenzetti Menin, confiou em mim e me impulsionou.

JC - Qual a importância de Bauru na sua trajetória?

Antônio - Em 2004, eu decidi vir para Bauru aprender mais, porque uma das construtoras mais renomadas da época era daqui. Então, eu conheci o Gustavo Kobayashi e o Luiz Franzolin, hoje, meus sócios. Fundamos a nossa construtora na raça, com pouco dinheiro. Começamos devagar, construindo prédios para outras empresas. E aí lançamos o nosso primeiro prédio, o Elara na Vila Aviação, depois, veio o Yunis, o Vista Sul e assim foi. Hoje, temos obras até em Dourados (MS).

JC - Como foi a decisão de completar os estudos e entrar para a faculdade, aos 49 anos?

Antônio - Eu sempre quis melhorar meu trabalho e me tornar engenheiro. Aos 48 anos fiz o supletivo e, aos 49 anos, entrei para a faculdade, não foi fácil, mas nunca perdi um dia de aula sequer. Me realizei no curso, porque eu já tinha muita experiência. Aos 54 anos, eu estava formado e era sócio da empresa.

JC - Hoje, você inspira seus funcionários a estudarem com o projeto "Escola na Obra".

Antônio - Essa é a ideia, formar gente. Tudo aquilo que eu tive dificuldade, quero que seja diferente para eles. Hoje, os funcionários fazem o supletivo no canteiro de obras, por meio de uma parceria com o poder público, e também podem se tornar engenheiros.

JC - Virginiano autodeclarado, você criou até um método de organização do canteiro de obras?

Antônio - Eu me cobro muito, as coisas têm de sair perfeitas, cada dia melhores. Criei meus próprios padrões construtivos, que viraram nosso diferencial. Quem chega à obra, hoje, encontra tudo certinho, organizado, limpo. Tudo passa pela minha mão, não deixo a qualidade cair.

JC - Foi preciso abdicar de momentos com a família e amigos para conquistar o que queria?

Antônio - Muito. Na época da faculdade, eu não tinha lazer, estudava aos sábados e domingos, porque trabalhava a semana toda. Sacrifiquei muitos momentos com a família, não conseguia nem mesmo viajar aos fins de ano.

JC - O que o canteiro de obras significa para você hoje?

Antônio - Eu encaro como lazer estar no canteiro de obras. Adoro, mesmo com poeira, sol, chuva ou frio. Eu levanto todo dia às 5h e fico direto na obra, se puder. Estou sempre junto com o pessoal. A minha humildade nunca mudou, ainda paro para comer uma quentinha com eles.

 

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