Entrevista da semana

30 anos: de soldado ao comando do 4.º Batalhão

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 5 min

Foi com dedicação aos estudos, aprendendo com seus superiores e estabelecendo uma relação de empatia com seus subordinados, que o tenente-coronel Paulo Cesar Valentim, 51 anos, construiu sua sólida trajetória. Filho de pedreiro e de uma dona de casa, ele comemora, neste ano, três décadas de carreira de forma especial, ao assumir, no último dia 27 de outubro, o comando do 4.° Batalhão de Polícia Militar do Interior (4.º BPM-I), unidade em que ingressou assim que se formou como soldado, em 1991.

Nascido e criado em Bauru, ele conta que foi com o pai que aprendeu a dar tudo de si para conquistar seus sonhos. Sempre estudou em escola pública e começou a trabalhar ainda adolescente, inclusive como cortador de frango em um mercado da cidade. No Tiro de Guerra, aos 18 anos, nasceu o interesse pela carreira militar e, de lá para cá, colecionou uma sequência se promoções, até tornar-se tenente-coronel, em maio passado.

Valentim estudou no Curso de Formação de Soldados em Bauru, na Academia de Polícia Militar do Barro Branco e no Curso Superior de Polícia - estes dois últimos, na Capital. Lá, também trabalhou na Rota. Em 2001, voltou definitivamente para Bauru, onde comandou, com o passar dos anos, a Base Oeste, o Pelotão de Força Tática, a 1.ª e a 4.ª Companhias da PM da cidade, a Companhia de Força Tática e o 13.º Baep. Com a aposentadoria do tenente-coronel Fabiano de Almeida Serpa, foi designado para assumir o comando do 4.º BPM-I, que abrange 19 municípios da região.

Nesta entrevista, Valentim descreve sua trajetória, os desafios que irá enfrentar na nova função e, mesmo sendo reservado, ainda fala um pouco sobre vida pessoal. Leia, a seguir, os principais trechos.

Jornal da Cidade - Fale um pouco sobre sua origem.

Coronel Valentim - Sou filho de pedreiro e dona de casa. Nasci e fui criado em Bauru e sempre estudei em escola pública. Tive que estudar muito para chegar onde estou. Aos 14 anos, fui trabalhar em um depósito de frango na avenida Pedro de Toledo, cortei frango em um antigo mercado, depois trabalhei em outro, onde hoje fica o Makro. De lá, em 1990, saí para entrar no Curso de Formação de Soldados. Meu pai me ensinou: 'faça o melhor que você puder e seja honesto'. A partir disso, entendi que eu teria que estudar e ir atrás, se quisesse conquistar alguma coisa.

JC - Como avalia sua trajetória até chegar ao comando do Batalhão?

Valentim - Sou abençoado porque todas as minhas promoções ocorreram dentro de Bauru. Não precisei mudar de cidade, o que é raro na carreira da PM. E é motivo de orgulho e honra comandar o Batalhão, onde ingressei na carreira militar como soldado 30 anos atrás, em 1991. Costumo dizer que dei muita sorte devido às pessoas com as quais eu trabalhei. Ninguém faz nada sozinho. Com cada um, aprendi alguma coisa e tive muito apoio também. Procuro ser o mais transparente possível, sempre me colocando no lugar das pessoas. Quando eu mando um policial ficar no sol, eu vou estar do lado dele, não embaixo da sombra.

JC - Qual marca o senhor pretende imprimir como comandante do 4.º BPM-I?

Valentim - Meu objetivo é dar andamento ao que o Coronel Serpa vinha fazendo. Não pretendo fazer mudanças radicais. O importante é pensar no que a população precisa e o que o Estado pode fazer para promover segurança com qualidade. A PM trabalha com procedimento operacional padrão, já tem ferramentas de inteligência, Copom online, sistema georreferenciado, celular para registrar as ocorrências de forma digital e pesquisar antecedentes criminais. A tecnologia nos permitiu um ganho gigante em resultados e todo novo investimento é benéfico. Sou da época em que tínhamos um quadro em que colocávamos agulhas para visualizar em que locais havia menos ou mais ocorrências para direcionarmos nossa força de trabalho. Hoje, na frente de um computador, em questão de segundos, conseguimos levantar toda esta demanda para fazer o diagnóstico operacional da nossa área de atuação. Temos, em menos tempo, mais quantidade e qualidade de informações.

JC - Qual é o maior desafio nesta nova função?

Valentim - O grande desafio não só para a PM, mas para a sociedade, é o fato de não sabermos ainda como as pessoas vão reagir nessa retomada após a pandemia. Quantas perderam seus empregos, renda, seus planos de saúde? Todos terão garantia de atendimento público de saúde e de assistência social? Até que ponto aquele pai de família vai conseguir sustentar seus filhos? Há um aumento considerável de pessoas dependendo de doação de comida, pedindo dinheiro ou vendendo produtos em semáforos. Se não houver amparo social suficiente, se o mercado de trabalho não absorver essa mão de obra, esse problema pode se tornar criminal. A gente vê, por exemplo, os últimos concursos para soldado, que raramente têm menos de 100 mil inscritos para 2,5 mil vagas no Estado. É muita gente buscando oportunidade de construir uma carreira militar.

JC - O senhor poderia falar um pouco da vida pessoal? É casado, tem filhos, hobbies?

Valentim - Sou reservado sobre minha vida pessoal. Sou casado com a Marlene, que eu conheci em 1988, no último mercado em que trabalhei, quando ainda estava no Tiro de Guerra. Hoje ela tem 55 anos e temos uma filha, a Paloma, de 25 anos, que está fazendo a segunda faculdade. Meu hobby é ir com a esposa a um grupo de casais, onde participamos de grupos assistenciais, sem chamar atenção. Minha esposa é italiana brava, mas é quem me direciona e com quem já passei por muitas coisas.

JC - O senhor gostaria de deixar uma mensagem à população?

Valentim - Peço para que a população confie na PM e ressalto a importância do Disque-Denúncia. As pessoas podem fazer denúncias pelo 190 de forma anônima. Isso é essencial para ações pontuais da PM, que ajudam a melhorar a qualidade de vida da comunidade. E a droga, especificamente falando, nos preocupa muito, principalmente em relação aos adolescentes. Os pais precisam estar atentos, conversar, acompanhar a rotina escolar dos filhos, antes de perdê-los para a droga, a criminalidade.

 

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