Wagner Teodoro

Falta critério e padronização

14/11/2021 | Tempo de leitura: 4 min

Decisões incompreensíveis, flagrantes erros em lances objetivos, silêncio sepulcral, falta de transparência nas atitudes... A arbitragem do futebol brasileiro está e xeque há muito tempo e com a implantação do árbitro de vídeo havia a esperança de uma atuação mais clara, sem equívocos em lances capitais. Mas o VAR no Brasil foi desenvolvendo um perfil completamente contrário ao mote da tecnologia no futebol: "mínima interferência, máximo benefício". O VAR nacional é por excelência intervencionista, lento, polêmico, obscuro em resoluções. Além disso, atuou por muito tempo envolto em uma "caixa preta" onde se guardavam a sete chaves as misteriosas gravações dos diálogos dos responsáveis pelas decisões. Recentemente, a CBF começou a liberar a publicação de alguns áudios. Porém, muitos erros absurdos, ficaram no completo silêncio, "segredo de Estado".

Em contrapartida ao silêncio da comissão de arbitragem, os decibéis do volume das reclamações cada vez mais veementes e inflamadas de dirigentes, comissões técnicas, jogadores e torcedores dos clubes, que a cada rodada se veem às voltas com decisões esdrúxulas e polêmicas, algumas revoltantes, subiram e subiram. Chegaram à CBF e ganharam força. O desfecho ocorreu na última sexta-feira (12), com a demissão do presidente da Comissão de Arbitragem da entidade, Leonardo Gaciba.

É certo que o fato de Gaciba ter sido colocado no cargo, em 2019, por Rogério Caboclo, presidente afastado da CBF por denúncias de assédio moral e sexual, tem peso decisivo. Mas sob sua gestão faltou eficiência, transparência e profissionalismo em vários momentos ao órgão por ele presidido e à arbitragem brasileira. E sobrou protecionismo. Assim, uma mudança, com apoio e para também dar um retorno às queixas dos clubes, ficou ainda mais fácil para a cúpula da CBF. 

Vai mudar o quê?

No entanto, mudar um nome não resolve a falta de critério e qualificação da arbitragem. O VAR é uma ferramenta sensacional, fundamental para a aplicação correta da regra e evitar erros. Porém, existe a necessidade de pessoal qualificado para operá-lo. São falhas gritantes em lances completamente objetivos. Não dá para aceitar equívoco em impedimento com o VAR, por exemplo. E já foram tantos. E os árbitros de campo e vídeo decidem situações extremamente importantes, que impactam em planejamentos de equipes e influenciam diretamente na conquista de título, em rebaixamento. Além do lado passional dos milhões de torcedores, existe todo um investimento e o retorno dele por parte dos clubes em jogo.

São gols anulados, pênalti ignorado e em lance igual marcado... Falta padronização e isso só será conseguido com treinamento e qualificação. Talvez a profissionalização seja o caminho. A CBF parece ter percebido que o péssimo nível da arbitragem prejudica seu negócio, arranha a imagem do seu produto. Vai investir para qualificar e treinar os árbitros? Vai haver mais transparência? Saberemos o motivo das decisão da arbitragem? Aliás, quantas vezes você já leu ou ouviu alguém fazendo esses questionamentos? Já não é de hoje que o nível é constrangedor.

Para dar um exemplo de outra modalidade que utiliza o recurso do vídeo, no futebol americano o árbitro explica no ato o que foi marcado na jogada. Todos no estádio e quem acompanha a transmissão sabem o que está ocorrendo. Transparência e senso de justiça. Até em campeonatos da Conmebol os áudios do VAR são disponibilizados. E nem vou falar sobre a atuação da arbitragem e VAR na Europa, tamanho o abismo que percebemos quando assistimos aos jogos de lá.

Leva tempo

Sai Gaciba da presidência da comissão e Alício Pena Júnior, que era vice-presidente do órgão, assume a função interinamente até o fim da temporada de 2021. Vamos ver se, a partir de agora, lances idênticos não são pênalti no domingo e são na quarta. Vamos ver se a linhas do VAR serão traçadas corretamente e não teremos mais impedimentos grotescos. Vamos ver se os ângulos das câmeras ajudam a elucidar o que é tronco e braço... 

Alterar o comando sem melhorar a estrutura - incluindo aí também a forma de abordagem sobre o assunto de jogadores, treinadores e dirigentes, que costumam se calar quando beneficiados e gritar quando prejudicados, além da postura muitas vezes desrespeitosa de atletas em campo com árbitros -, sem capacitar quem de fato atua, não vai resolver os problemas. Fica mais uma opção da atual gestão da CBF pela postura de Gaciba e para não ter alguém escolhido por Caboclo na entidade máxima do futebol brasileiro. A real mudança estrutural e "cultural" leva tempo, mas é preciso começar.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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