Wagner Teodoro

De competência, mecenato e catarse

05/12/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Na mais longa temporada da história do futebol brasileiro - sim, porque os clubes emendaram 2020 com 2021 -, o campeão nacional veio se anunciando ao longo das rodadas e foi previsível o desfecho. Atlético-MG com o título. E fim do maior jejum do Brasileirão. Eram 50 anos de espera. É o título do mecenato? É o título de um clube endividado (o rombo já é em torno de R$ 1,3 bilhão) turbinado pelo dinheiro de torcedores milionários? Sim para ambas as perguntas. Mas é também o título de um trabalho muito bem executado por comissão técnica e elenco. Do Mineirão lotado, da catarse da torcida. E do fim de uma angústia guardada há décadas no peito do atleticano. Depois de quatro vices sofridos, o Galo, enfim, é campeão.

E o Atlético-MG não deu margem para contestação. Na frieza dos números e no calor da massa, a conquista é justa. A equipe assumiu a liderança na rodada 15 e seguiu impávida para sacramentar o título. Consistente, tem a melhor defesa da competição, o que era um ponto fraco sob comando de Jorge Sampaoli e mudou com Cuca (aliás, falo sobre o atual treinador do Galo na sequência deste texto).

O ataque é o segundo mais produtivo. São 81 pontos em 36 jogos. Um elenco equilibrado e que tem como estrela Hulk, autor de 18 gols e umas tantas assistências. Mas, mais que isso, um ídolo que o clube contratou, um líder em campo e uma referência para os torcedores, sobretudo as crianças. As máscaras do herói da Marvel povoam o Mineirão em dias de jogos. E não resisto, Hulk está no lugar certo, afinal, o Galo é vingador.

Missão cumprida, catarse da torcida atleticana, a longa temporada não acabou. Tem ainda a Copa do Brasil, na qual o time mineiro faz final com o xará Athletico. Se ganhar, iguala o arquirrival Cruzeiro, único que conseguiu a dobradinha Brasileirão/Copa do Brasil, em 2003.

Precisamos falar sobre Cuca

Fazer um time com orçamento milionário e repleto de estrelas jogar bem é fácil. É o tipo de afirmação que é traiçoeira e já vitimou até treinadores, que tentavam desvalorizar o trabalho de colegas e não souberam, eles próprios, conduzir elenco estelares ao sucesso.

Sendo assim, o trabalho de Cuca é um dos pilares do sucesso deste Atlético-MG. De contestado em sua chegada, o técnico colocou a casa em ordem, deu padrão tático ao time e potencializou o forte elenco que tem em mãos. Lembrando que o mesmo Cuca estava no comando do Santos finalista da Libertadores 2020, que desafiou probabilidades para chegar à decisão do título.

Voltando ao Galo, ter um elenco poderoso facilita a tarefa do comandante quando há competência, liderança e capacidade de gerenciá-lo e extrair o que ele oferece. É claramente, para mim, o caso de Cuca. Falar somente do dinheiro, de penalidades apontadas pelo VAR e do fortíssimo grupo de jogadores é subestimar o trabalho de Cuca.

E o que resta?

Definido o campeão de forma antecipada, as duas rodadas restantes do Brasileirão reservam as emoções derradeiras, sobretudo na briga contra o descenso, que tem dois grandes. O irregular São Paulo, com poucas chances de cair, mas ainda sem garantir matematicamente a continuidade na elite, e o Grêmio, com um pé na segunda divisão e tentando sair da areia movediça, onde se debate há muitas rodadas.

Restam duas vagas para fazer companhia a Sport e Chapecoense, que já sucumbiram. Para ser sincero, eu penso que o Z4 dificilmente mudará até o final do campeonato. Bahia (40 pontos) e Grêmio (39) têm missão muito difícil de escapar. Matematicamente, é um desafio reverter o atual quadro. Mas Juventude e Cuiabá, ambos com 43 pontos, são alcançáveis. O time do Mato Grosso ainda tem desvantagem no número de vitórias, primeiro critério de desempate.

O Grêmio tem um interessadíssimo Corinthians pela frente e um certamente reserva Atlético-MG. O Juventude pega dois paulistas: faz uma "final" contra a queda com o São Paulo e fecha diante do Corinthians. Curiosamente, o Fortaleza, já garantido na Libertadores, está no caminho de dois postulantes ao rebaixamento: Bahia e Cuiabá. Enfim, nos trechos finais da longa jornada do Brasileirão a luta pela elite é o que ficou mais interessante.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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