Wagner Teodoro

Noroeste SAF?

19/12/2021 | Tempo de leitura: 3 min

O Noroeste se prepara para fazer a maior mudança em seus mais de 100 anos de história. Nesta semana, o Conselho Deliberativo se reúne para dar início ao processo de transição do Alvirrubro para o modelo de clube-empresa. A alteração é vista pela cúpula noroestina e apoiadores como a salvação da endividada Maquininha Vermelha e como única alternativa para viabilizar o clube financeiramente.

Transformando-se em SAF (Sociedade Anônima do Futebol), os clubes passam a ter uma série de vantagens e também desvantagens. A mudança deve ser encarada não como a solução em si, mas como um caminho para ela. A lei que autoriza a migração prevê, entre outras definições, a responsabilização de pessoa física pelo clube-empresa. O que pode se traduzir em modelos de gestão mais racionais e menos imediatistas que geralmente imperam no cenário futebolístico nacional. Até para atrair investimento.

A lei permite equacionamento de dívidas em regime de tributação específico em prazo determinado e isso, se o clube for gerido com competência e transparência, é ótimo. No caso do Noroeste, o débito é na casa dos milhões e abarca desde impostos municipais, estaduais e federais até imensas dívidas trabalhistas. O dispositivo permite colocar em prática a readequação econômica do clube e a reestruturação dos passivos de maneira programada e regular, o que gera segurança jurídica e, em tese, atrai investimento.

Neste sentido, seria importante, pela relevância do clube para Bauru, pela representatividade que a marca Noroeste tem para a cidade, que quem comprar o Norusca, se a mudança for aprovada pelo Conselho Deliberativo alvirrubro, fizesse uma auditoria, tornasse pública a situação da recém-criada SAF e expusesse o seu plano de gerenciamento para o clube-empresa bauruense. Ainda fundamental que haja alguma ferramenta nesta transformação que garanta a permanência de símbolos do clube (escudo, cores) e que ele nunca saia de Bauru.
Entre outros benefícios que a lei pode trazer, está uma gestão profissional do futebol. Por outro lado, os clubes, deixando de ser associações civis sem fins lucrativos para virar empresas, passam a correr riscos inerentes ao mercado, como o de falência, que é bem real, se não forem bem administrados, e também pagam impostos. O clube se assume como atividade econômica. E sofre consequências mais drásticas em caso de inadimplência, salários atrasados...

A mudança, é bom reforçar, não garante por si só o sucesso dos clubes, se não houver gestão competente, responsável, capacitada e profissional. O desafio passa a ser econômico e esportivo e o êxito e modernização só vêm com vitória em ambos.

Dono e torcida

Além, é claro, regra importante para todos os clubes-empresas, equilibrar as vontades do dono com os anseios da torcida, maior patrimônio de qualquer equipe de futebol. Na Inglaterra, por exemplo, não faltam casos de proprietários odiados pelos torcedores.

A expectativa de toda torcida é ter um time competitivo. Um investidor que entra no futebol precisa ter tal fato em mente. O clube-empresa não pode ser uma mera vitrine para negociação de jogadores. Reitero: equilíbrio financeiro e relevância esportiva devem andar juntos. Desafiador. Eu penso que a mudança é uma tendência irreversível e boa parte dos clubes deve migrar para a SAF e, claro, vai se sobressair quem se estruturar melhor.

Cruzeiro SAF

Às vésperas do início de migração do Noroeste para SAF, o Cruzeiro anunciou transação de venda. O time mineiro foi adquirido por Ronaldo Nazário, com investimento inicial na casa dos R$ 400 milhões por 90% das ações. É este o valor de um clube do porte do Cruzeiro? Qual seria o do Noroeste?

Lembrando que Ronaldo, atualmente, também é dono do Valladolid, clube da segunda divisão da Espanha. Em 2018, o Fenômeno comprou 51% das ações por 30 milhões de euros.

Só espero que o Cruzeiro e nenhum outro clube brasileiro não se transforme em simples filial de equipes europeias. Que o processo de SAF não imponha definitiva e completamente o papel de colônia fornecedora de matéria-prima para as metrópoles.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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