Para muitos, o Ano Novo é sinônimo de esperança e renovação. Para Asadullah Rezai, 26 anos, Sakena Wafaie, 24 anos, e Rubina Rezai, de 9 meses, essa simbologia terá uma dimensão ainda maior em 2022. A família afegã veio parar em Bauru fugindo do Talibã, grupo fundamentalista que retomou o país asiático depois de duas décadas de ocupação norte-americana. Agora, o desafio para os três refugiados é se adaptar aos novos país, cultura e idioma para reconstruir a vida.
Eles viviam na capital Cabul até agosto deste ano, quando integrantes do Talibã assumiram o controle da cidade. Asad, como é conhecido, era da polícia nacional afegã, instituída pelos Estados Unidos, e, por isso, passou a ser perseguido pelos fundamentalistas. O rapaz chegou a ser baleado na barriga e ficou internado. "Muitos dos nossos cidadãos foram oprimidos e fugimos. Nossas vidas estavam em perigo", conta ele, por meio de um aplicativo de tradução.
GOTA D'ÁGUA
Depois do episódio, ele e a esposa Sakena decidiram deixar o Afeganistão, porém se depararam com bloqueios armados em diversas rotas. A saída foi atravessar a pé a fronteira com o Paquistão, com a pequena Rubina dentro de uma sacola, na época com cinco meses. "Eles caminharam por 22 horas sem dormir", conta Maria Inez de Souza, 40 anos, professora de geografia que abriga os afegãos em sua casa desde o dia 14 de dezembro.
Depois de atravessar a fronteira, os três conseguiram chegar em Islamabade, capital do Paquistão, onde permaneceram por cerca de três meses em busca de asilo. Nesse momento, a tia de Sakena, que é afegã e amiga de Maria Inez, entrou em contato pedindo ajuda. "A Masomah mora na Áustria desde criança, tentou levá-los para lá, mas não estavam aceitando. Porém, para Brasil era possível trazê-los", conta a professora de geografia. Ela entrou em contato com a embaixada brasileira em Islamabade se oferecendo a fazer a adaptação da família.
Chegar ao Brasil e se afastar da perseguição talibã foi uma verdadeira vitória e o primeiro passo de uma jornada de recomeço. "Estamos felizes que minha filha está começando uma nova vida em Bauru longe da guerra e do terror", comemora Asad. Felicidade também estampada nos olhos de Maria Inez. "Já me peguei chorando, emocionada, por poder dar uma perspectiva para eles".
TUDO NOVO
O dia a dia dos afegãos em Bauru tem sido cheio de descobertas e desafios, especialmente com a língua. O casal só fala persa, um dos idiomas do Afeganistão, cujo alfabeto é diferente do latino. Aprender o português é considerado elemento chave para a adaptação. Para tanto, contam com ajuda de Augusto Goulart, 29 anos. O professor de português se dispôs a ensiná-los e é uma das pessoas de uma rede de colaboração que se formou em torno dos refugiados. O casal tomou a primeira dose da vacina contra Covid e Maria Inez deu entrada na documentação para tirar carteira de trabalho deles. Também está atrás de cadastrá-los no SUS e conseguir um visto de dois anos. Sakena sabe fazer tatuagens de henna e é designer de sobrancelhas, pode trabalhar em feiras livres ou salões de beleza. Para Asad, a ideia é conseguir um emprego que inicialmente não dependa tanto do idioma. Quem puder contribuir, pode fazer contato por WhatsApp pelo número (14) 99659-4362.