Conversando com o Bispo

O Espírito ungiu Jesus para anunciar aos pobres a Boa Nova do Reino

23/01/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A Liturgia deste Ano C proclama o Evangelho de São Lucas. A intenção de Lucas ao escrever o seu Evangelho é mostrar que Jesus veio abrir uma nova história, a história da libertação e salvação especialmente para os pobres e oprimidos mediante a instauração de novas relações de fraternidade a serem criadas sobre as bases de um amor e compaixão nunca vistos antes. Os biblistas dizem que o Evangelho de Lucas é o mais atraente, mais prazeroso de ser lido, porque apresenta "a mensagem de Jesus como Boa Nova de um Deus compassivo, defensor dos pobres, curador dos doentes e amigo de pecadores" (José Antônio Pagola, "O Caminho aberto por Jesus", Editora Vozes). O Papa Francisco tem nos falado que este é o Evangelho da misericórdia.

No trecho evangélico da Missa de hoje - Lc 1,1-4;4,14-21 - São Lucas primeiramente diz que também ele decidiu escrever, segundo um modo próprio de organizar, a história dos acontecimentos como foram contados pelas testemunhas oculares e ministros da Palavra. Depois, Lucas apresenta o programa de Jesus.

Segundo Lucas, foi Jesus mesmo quem escolheu uma passagem de Isaías que fundamentasse o seu programa para dizer qual o Espírito que o anima, as suas preocupações e os seus propósitos. Na Sinagoga de Nazaré, num dia de sábado, Jesus tomou o Livro de Isaías e leu: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu. Enviou-me para levar a Boa Nova aos pobres, para anunciar aos cativos a liberdade e aos cegos a visão, para libertar os oprimidos e anunciar o ano da graça do Senhor. E, fechando o Livro, devolveu-o ao ajudante e sentou-se. Toda sinagoga tinha os olhos fixos nele. Ele se pôs a dizer-lhes: 'Hoje se cumpre esta Escritura que acabais de ouvir'" (Lc 4,16-21). São Lucas abre o ministério apostólico de Jesus com o anúncio de uma Boa Nova da libertação para os pobres, os cativos, os oprimidos e os cegos. Estas quatro categorias de pessoas sintetizam os feridos golpeados pelas misérias daquele tempo, mas que representam os sofredores de todos os tempos.

A doutrina da Igreja distingue com nitidez os dois níveis de compreensão do que significa a libertação cristã. Primeiramente, significa salvação do pecado, é de natureza religiosa e espiritual, compreende a parte essencial da evangelização que é salvar a pessoa toda e todas as pessoas para a vida eterna, plena e feliz com Deus. Depois, diz respeito também à promoção humana, que exige, por exemplo, dar o pão a quem tem fome e roupa ao nu, curar as feridas, defender a dignidade humana, cuidar da vida do planeta, lutar contra as injustiças e opressões. É parte integrante da evangelização. Refere-se às dimensões da vida temporal e histórica do homem. O magistério da Igreja sempre alertou os cristãos a não confundirem a libertação cristã com as ideologias de cunho político. A salvação é uma história da caridade, do amor de Deus, e não uma história do ódio, como, por exemplo, o viveram os revolucionários do marxismo. Jesus aprofunda as exigências da justiça e da misericórdia. No entanto, pela proposta do mandamento novo Jesus pede aos seus discípulos para que busquem uma perfeição de santidade que os façam ir além da justiça humana, isto é que sejam misericordiosos como o Pai é misericordioso (cf. Lc 6,36). Especialmente por sua prática, Jesus priorizou a misericórdia, segundo disse que não é a penitência, como exigência da justiça, que Deus quer, mas é a misericórdia, como exigência do amor, que Ele deseja (cf. Mt 9,13). Jesus, verdadeiramente, revelou o rosto misericordioso do Pai, como ninguém o fez.

Apresentado assim por São Lucas, este é o programa que Jesus adotou e o propôs aos seus discípulos de então, de hoje e para sempre. A obra da libertação cristã e da salvação eterna só se consegue à base do muito amor e misericórdia, segundo a medida da caridade e misericórdia de Cristo que amou sem medida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.