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Old money, a estética da moda

FolhaPress
| Tempo de leitura: 2 min

O dinheiro fala, mas a riqueza sussurra. É o que difere a ostentação da elegância e exemplifica o contraste entre o novo rico e velho rico. Ganhar na loteria pode até proporcionar privilégios de uma carteira cheia, mas nunca oferecerá a experiência de nascer num berço de ouro. Essas são as regras da estética old money, que desde o ano passado é uma das queridinhas no TikTok. Ao acessar à rede, é possível que o algoritmo lhe faça ver imagens de mansões antigas, com arquitetura gregoriana, country clubs, joias de ouro branco reluzente, vastos campos de vegetação florida e roupas de tons suaves e fibras naturais.

Old money, que em inglês significa dinheiro antigo, é uma referência a quem já nasceu com a conta bancária abastada a ponto de não se preocupar em ascender na vida. Passando de geração para geração, a moeda vai envelhecendo e, sem perder o valor, resulta em heranças bem acumuladas.

Apesar da estética ser sucesso no TikTok, ela não é exatamente nova - desde o século 19, é tática comum para diferenciar quem herda a grana daqueles que viraram ricos. Agora, porém, há um aceno ao "preppy" - visual comum em colégios internos americanos e britânicos -, com vestes como gola alta, estampas de xadrez, coletes, saias plissadas, blazers e casacos trench. Ou seja, algo como os figurinos das séries "Gossip Girl" e "Elite" somados à estética de "Bridgerton" e "The Crown".

O que chama atenção é que grande parte das pessoas que viralizam com esses vídeos enaltecem uma realidade que é distante da própria vida delas. "A geração Z vê o old money como um escapismo que revela um sonho de vida, do dinheiro e, acima de tudo, de uma segurança financeira obtida sem esforços", diz Lara Almeida, autora do livro "Psicologia Fashion".

A psicóloga explica que esses jovens não herdeiros que são admiradores do old money usam o lado lúdico das redes para seus vídeos, o que até pode proporcionar a eles leveza e autoestima, mas é também capaz de reforçar inseguranças e frustrações.

Ao criar códigos de vestuário, a moda distingue as classes sociais. O luxo que o old money exalta é atribuído à discrição, a cores sóbrias, tecidos limpos, modelagens casuais e alfaiataria. Do lado oposto, está o exagero, o chamativo, o brilhoso e o ultracolorido. A principal oposição ao old money da era atual é o Y2K, que dominou os anos 2000 e voltou recentemente numa onda retrô, com suas cores-chiclete, jeans, acessórios infantis e brilho carregado do visual dopamina.

Ambos os movimentos são sucesso entre a geração Z, mas só um vem sendo criticado. Por fazer tantas referências ao dinheiro herdado, o old money está imerso em valores cultivados por elites, dinastias e aristocracias brancas de boa parte da Europa e dos Estados Unidos, o que faz dele um alvo de vários críticos. Para muitos, a popularização dessa estética nada mais é do que uma romantização de racismo, desigualdade social e colonialismo.

 

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