Wagner Teodoro

San-São: de pressão e perspectivas


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Neste domingo (20), é dia de San-São. Dia de ver em campo um clássico entre dois clubes que deixam suas torcidas desconfiadas neste início de temporada. O São Paulo, de Rogério Ceni, e o Santos, que era de Fábio Carille, mostram futebol, ou dificuldade de jogar bom futebol, que fazem torcedores ficarem apreensivos quanto às perspectivas para a temporada. Ambos sofrem com oscilação e falta de criatividade.

Rogério Ceni externou a situação que encontrou no clube em seu retorno. Problemas, nas palavras do técnico, que vão muito além de um elenco com deficiências. Seriam departamentos estagnados, jogadores com comportamento pouco profissional durante recuperação de lesão... Acomodados que o incomodaram.

Pode-se gostar ou não de Rogério Ceni, mas é inegável que trata-se de um cara obcecado por trabalho. Empenho e dedicação extremas são marcas como jogador e treinador. Rogério reclamou e exigiu e o "sistema enferrujado" se colocou em movimento. Encheram a piscina para ajudar na recuperação dos atletas, o Reffis vem sendo modernizado (reivindicação desde a época de Hernán Crespo), reestruturação no departamento médico. As críticas de Ceni, aparentemente, fizeram o clube sair de uma letargia, que sempre é nociva.

Pela seriedade e coragem, Rogério ganhou apoio da torcida. Mas existe uma cobrança pelo desempenho do time em campo. O São Paulo tem postura completamente oposta à do ano passado em relação ao Paulistão. Em 2021, o Estadual foi prioridade. Ganhou-se o título e pagou-se o preço ao longo da temporada, com desgaste do elenco, desfalques constantes, falta de resultados...

Desta vez, a postura é radicalmente diferente. A ordem é evitar sobrecarga e Rogério ainda não repetiu escalação. O resultado é um time em formação, que tem dificuldade para criar, lento, que mostrou pouco progresso, que raramente jogou bem. É uma escolha, que, como todas, traz seus ônus. É o preço de "trocar pneu" com o carro em movimento e fazer pré-temporada ao longo do Paulistão.

A estratégia para evitar acúmulo de lesões durante o ano é compreensível. Mas vão chegando momentos mais importantes na temporada e definir um time, desenvolver um padrão de jogo, vai ser fundamental. O primeiro teste real é justamente o San-São. O São Paulo, diferentemente do Santos, contratou bons nomes e é momento de mostrar evolução também dentro de campo.

Quem resistirá?

Carille caiu no Santos. Depois de ter papel fundamental para salvar o time do rebaixamento no Brasileirão do ano passado, não resistiu ao começo irregular no Estadual. Aliás, quem resistiria? Afinal, quem resistirá? Em 2021, o Santos lutou para não cair no Estadual e Nacional. Agora é uma equipe que deixa poucas esperanças de conquista de título aos seus torcedores.

Chegaram reforços que seriam apenas para compor elenco em outros grandes clubes do Brasil, exceção de Ricardo Goulart. O elenco é curto e a aposta é a eterna solução da base. Porém, jovens oscilam e carregarem uma responsabilidade tão grande é uma temeridade.

Fato é que o Santos tem um elenco pouco profundo e dificuldade para contratar. Por isso, quem chegar para comandá-lo terá um enorme desafio. Se Carille, que possui um estilo de acertador de time, uma característica mais reativa, que gosta de montar suas equipes partindo de um equilíbrio defensivo, que trabalha bem com grupos limitados, não agradou, qual será o perfil do próximo treinador que vai encarar tal missão?

Porque o Santos tem sido marcado por guinadas em suas "filosofias" de contratação de treinadores - e não é uma exclusividade santista no futebol brasileiro. Assim, a "regência" na Vila Belmiro foi de Fernando Diniz para Fábio Carille. Aliás, já houve aposta também em técnico estrangeiro. Eu penso que o problema é menos o treinador e mais o elenco limitado.

Recorte atual

No San-São da pressão um dos dois rivais vai sair mais contestado. Futebol é muito dinâmico, muda em velocidade, às vezes, desconcertante. Mas o recorte atual, na comparação entre os dois clubes, independentemente do resultado no clássico, mostra melhores perspectivas para o ano do lado são-paulino. Desde que transforme o potencial de seu elenco, que também tem carências, em futebol mais competitivo. Ao Santos, me parece, restará fazer uma temporada digna. O que é pouco para o tamanho do clube. Quem sabe não sou surpreendido?

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