Wagner Teodoro

Otimismo e desconfiança

06/03/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Primeiramente, aviso que escrevo este texto antes dos jogos previstos para este sábado (5) - São Paulo x Corinthians e Ferroviária x Santos. Mas a verdade é que, apesar dos resultados terem influência no desenrolar do enredo de tais personagens, são o capítulo inicial e a história pode ou não ter reviravoltas. Assim, um bom começo não significa necessariamente um roteiro leve, feliz, e vice-versa.

Preâmbulo feito, vamos aos protagonistas. Os treinadores Fabián Bustos e Vítor Pereira desembarcaram na metade alvinegra do quarteto de gigantes paulista. O argentino no Santos e o português no Corinthians. Assim, já que o Palmeiras tem o também lusitano Abel Ferreira no comando, somente o São Paulo aposta em produto nacional na direção técnica, Rogério Ceni - ainda assim, até "ontem", o cargo estava com o argentino Hernán Crespo.

Os novos técnicos chegam, evidentemente, carregando a esperança de dias e futebol melhores nos seus respectivos clubes. Porém, a realidade, a expectativa, é diferente. No Corinthians existe verdadeira empolgação. O entusiasmo é tamanho que os métodos de treino do português nestes poucos dias de trabalho encantam.

Existe um otimismo e confiança de que, finalmente, o investimento feito em reforços seja recompensado e que o quinteto formado por Giuliano, Paulinho, Renato Augusto, Willian e Róger Guedes possa desenvolver todo seu potencial. A ideia geral entre torcedores é que finalmente há um técnico capaz de explorar e extrair o potencial do elenco.

A vinda do português, um cara com títulos no currículo, com ideias de futebol equilibrado, posse de bola, de imposição, com forte transição defensiva, agressividade, gera e enorme expectativa e, na mesma medida, responsabilidade e pressão. Pelas palavras do próprio Vítor Pereira, ele almeja um time que evite ter que "correr para trás". Como referências para seu estilo, o português citou alguns nomes, entre eles, Telê Santana, ídolo do São Paulo, curiosamente seu adversário de estreia. Johan Cruyff e Arrigo Sacchi também foram lembrados como modelos.

Qualidade técnica para manter a posse de bola fica difícil imaginar que este Corinthians não tenha. Quanto à intensidade, agressividade para retomar a redonda quando ficar sem ela, implicará em mudança no estilo de jogo da equipe e tempo de adaptação. Lembrando que a questão física para exercer pressão é primordial e o elenco corintiano tem média de idade alta. Inteligência e organização serão fundamentais. O desgaste pode ser minimizado mantendo a bola e o controle do jogo. Saberemos as estratégias e resultados quando o trabalho encorpar e os ajustes forem feitos, mantendo ou não a euforia inicial.

Missão: reerguer

No Santos, a realidade de Fabián Bustos é bem diferente. O treinador chega à Vila Belmiro como aposta de "salvador da pátria". Com a torcida para lá de ressabiada, o time santista repete uma trama que causa arrepios nos torcedores, pois novamente se vê rondando a zona de rebaixamento. Os fãs têm impressão de assistirem a uma reprise de Sessão da Tarde, só que o desfecho ninguém garante que será alegre novamente: em 2021, o clube escapou da degola no Paulistão e Brasileirão. Lembrando que o Santos nunca foi vítima de descenso.

Assim, impera uma certa desconfiança. E penso que tem menos relação com Bustos do que com as peças com as quais ele (não) conta. O treinador possui elenco limitado e ainda sofre com desfalques neste início de trabalho. A proposta é de variação tática, marcação alta, pressão, intensidade... Seu estilo veemente e enérgico nos treinos rende comparações com Jorge Sampaoli, que teve passagem marcante pelo clube - tomara que o estilo do time caminhe para a ofensividade daquele Santos de Sampaoli. Mas, ciente das carências do grupo e da dificuldade de implantar suas ideias, Bustos já pediu reforços.

Bola na rede

Entre o otimismo e a desconfiança, entre sistemas, esquemas e estratégias, o mais básico do futebol vai definir entre sucesso e fracasso: a capacidade essencial de traduzir proposta em mais gols do que o adversário, de ganhar jogos. Salvo raríssimas exceções, bons trabalhos sem vitórias, títulos, não resistem ao tempo e são esquecidos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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