Reflexão e Fé

O MÁGICO DE OZ

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

27/03/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Estamos numa época carregada de medos, recheada de solidão causados pela pandemia, guerra, inflação, crises. Quem ainda não sonhou em fugir de tudo isso e embarcar numa jornada, num outro mundo e começar a viver longe de tudo o que estamos vivendo? Quem não desejou mudar para uma realidade de paz, alegria e justiça? Lyman Frank Baum materializou esse sonho no conto da menina Dorothy e seu cachorrinho Totó. Frank Baum é considerado o maior autor americano de fantasias para as crianças. Conta-se que um dia ele foi um bom cristão, mas com o passar dos anos abandonou o cristianismo e se tornou um teosofista (Priberam: doutrina que tem por objeto a união da natureza com a divindade através do misticismo, filosofia, ocultismo). Na história de Baum, a protagonista e seu cãozinho foram transportados para um outro mundo, pegaram carona, sem querer, num furacão e acabaram aterrissando em um mundo "maluco" onde havia espantalho, homem de lata, leão falante e bruxas. O nome da estória é O mágico de Oz de 1900, tornado em obra cinematográfica lançada em 1939. Essa estória, a doce Dorothy, a música que ganhou Oscar, o cenário, seus personagens, trazem muitas lembranças para quem a conhece.

A ESTÓRIA

Dorothy de 11 anos morava numa fazenda com seus tios no estado norte-americano do Kansas, até que um mega tornado a transportou para a terra de Oz. Ela e seu cãozinho aterrissam no mundo de Oz justamente sobre a casa da bruxa malvada do leste matando-a. Sua irmã, a bruxa malvada do oeste, fica irada e passa a perseguir os dois recém chegados. Dorothy calçando sapatinhos mágicos que recebera da "bruxa boa" começa a sua a saga de volta para o seu mundo, mas fica sabendo que só o Mágico de Oz, que mora lá na cidade das Esmeraldas pode ajudá-la. No caminho Dorothy vai conhecendo o espantalho que sonha em ter um cérebro, conhece o homem de lata que deseja ter um coração de verdade e o leão covarde que quer ser corajoso. Dorothy e Totó com seus novos amigos partem juntos a procura do Mágico de Oz. Seguem pela longa estrada de tijolos amarelos que parece ser o caminho mais fácil para chegar até o necessário mágico, mas tem que enfrentar muitos problemas e surpresas desagradáveis. Quando finalmente Dorothy chega diante do Mágico de Oz descobre que ele era um charlatão, pois ele não tinha poder algum para conduzi-la ao seu lar.

UMA PARÓDIA SOMBRIA

O mágico de Oz, na verdade não passa de um farsante. Nessa aparente inocente estória de Baum, ex-cristão, uma das muitas interpretações propagadas, é que o pretenso salvador da garota perdida que deseja voltar para o lar, é uma ironia do Deus judaico-cristão, que para Baum não possui poder algum para salvar. Apesar dos traços infantis a paródia é carregada de aspectos sombrios. No fim a protagonista descobre que é ela mesma quem possui poderes para retornar ao lar. Ela finalmente acorda, desperta das angústias e do medo que a atormentava e diz: "Não há lugar como nosso lar". A garota encontra conforto em seu lar. Essa trama traça um paralelo entre o mundo da fantasia e a realidade. Na história, cada personagem tem motivações bem claras. A maioria deles está em busca de algo que preencha seus vazios existenciais, alguma coisa que lhes traga felicidade. Em linhas gerais, mesmo após uma década, a nossa geração permanece identificada com os personagens do romance de Baum. Vivemos uma geração formada por pessoas perdidas e assustadas como a Dorothy; pessoas vazias por dentro com o espantalho acéfalo que apesar de poder falar, andar, pular e cantar não é um ser pensante; pessoas que apesar de presunçosas, orgulhosas, que se gabam de suas conquistas, que tem cérebro, mas não tem coração tal qual o homem de lata; pessoas covardes e irresponsáveis como o leão do enredo que apesar do orgulho por sua aparência vive assombrado pelo medo. Nossa geração tem percorrido uma estrada de sonhos ilusórios, carregada de experiências assustadoras, de separações devastadoras, medos e angústias em dias sombrios envoltos por circunstâncias caóticas. Mas o cristão, mantem-se firme na convicção de que a peregrinação dessa vida terminará quando estivermos de volta pra casa. Diferentemente da decepção idealizada por Baum, o poder de nos levar para o nosso eterno lar não está em nós mesmos, mas em Cristo: "Não fiquem aflitos. Creiam em mim, vou preparar-vos um lar" (cf. João 14.1,2), afinal "Não há lugar como nosso lar".

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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