
Moradores do Mary Dota relatam um novo tipo de abordagem na porta de suas casas, relacionada a dependentes químicos. Além de comida ou dinheiro, passaram a pedir também a doação de palha de aço. O material é usado por usuários de crack para queimar a pedra, conforme informações do Centro de Reabilitação Esquadrão da Vida, serviço de referência ao SUS em Bauru.
Residentes do bairro também contam que o clima da insegurança tem sido constante nas imediações, principalmente perto de áreas públicas atualmente sem uso, como é o caso do Estádio Distrital Toninho Guerreiro (leia mais abaixo).
Segundo Eugênia Sellmann Chaves, coordenadora do Esquadrão da Vida, o uso da palha de aço é feito em substituição às cinzas de cigarro, produto cada vez mais impactado pela inflação e taxação.
"Como o cigarro ficou mais caro, a palha de aço passou a ser usada porque ajuda na queima da pedra. Antes, só ouvíamos relatos, mas, hoje, 25% dos nossos pacientes dependentes de crack confirmam a prática", aponta ela, ressaltando ainda os problemas de saúde relacionados ao uso do material. "Eles relatam que é muito comum sentirem falta de ar e também que a resistência diminui. A pessoa caminha um pouco e já sente cansaço", acrescenta Eugênia, que tem formação em Serviço Social e pós-graduação em Toxicologia pela Unesp em Botucatu e Aconselhamento a Dependentes Químicos pela Faculdade de Medicina da USP em São Paulo.
O Esquadrão da Vida possui 50 vagas para tratamentos de dependentes químicos, a maior parte encaminhada pelos serviços públicos de saúde. Dessas, pelo menos 80% frequentemente são ocupadas por pessoas que lutam contra a dependência do crack.
NO PORTÃO DE CASA
Na condição de anonimato, preocupado com a segurança, um aposentado morador do Mary Dota há 30 anos contou ter recebido o estranho pedido na porta de casa. "Claro que não era para lavar prato. A pessoa não explica para que precisa. Só pergunta se tenho palha de aço para dar. No quarteirão de trás, também abordaram minha vizinha pedindo a mesma coisa", revela o homem.
Ele também reclama da condição de abandono do Estádio Distrital Toninho Guerreiro. "Não deixo minhas netas ou minha filha passarem perto do estádio. Temos medo porque é um lugar abandonado, entra e sai gente o dia todo de lá".
Comentários
1 Comentários
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Ana 10/06/2023A primeira vez dei na boa . Depois descobri o pq. Até então confiava, pois conversamos abertamente, foi frustrante. Hoje me pediu disse q não uso. Pronto.