Wagner Teodoro

Cada vez mais menos campeões

01/05/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A temporada europeia de futebol se encaminha para o final e os campeonatos vão chegando ao desfecho. Entre as principais ligas do Velho Continente, apenas uma apresenta grau mais elevado de imprevisibilidade: a inglesa. Na Premier League há uma atual certa dominância do Manchester City, maior papão em anos recentes, mas Liverpool, Chelsea, Manchester United e até o Leicester faturaram canecos na última década. Neste ano, a disputa segue acirradíssima entre Reds e Citizens. Além disso, Arsenal e Tottenham, também integrantes do chamado Big Six, sempre podem fazer estrago, apesar de não atravessarem seus melhores momentos há algum tempo.

Mas destaco a ilha como contraponto ao que, via de regra, neste século, ocorre no continente. Se na Inglaterra não é possível cravar o campeão com antecedência, nas outras grandes ligas da Europa a situação é oposta. A Alemanha já tem campeão. Se você, por acaso, não acompanhou o noticiário da Bundesliga, faça um exercício de adivinhação e diga o nome do clube que ficou com o título... Não é difícil, certo? Até porque é o mesmo há dez anos. Até porque todo mundo já sabia antes do campeonato começar. O Bayern de Munique garantiu a taça antecipadamente e faturou o décimo caneco consecutivo. Alguém acredita que vai parar por aí?

A conquista do time bávaro o fez superar a Juventus, da Itália, que enfileirou nove troféus nacionais seguidos de 2011 a 2019. Na França, o Paris Saint-Germain ganhou oito dos últimos nove Nacionais e só teve hegemonia interrompida pelo Monaco após os quatro primeiros títulos para recomeçar outra sequência que já chegou a quatro taças novamente, inclusive nesta temporada.

Em Portugal, Porto e Benfica têm domínio histórico e se revezaram durante 20 anos como campeões até que o Sporting quebrou a escrita no ano passado. Mas o Porto é virtual vencedor desta temporada. Na Espanha, Real Madrid e Barcelona dividem as conquistas e, de vez em quando, o Atlético de Madrid ou alguma zebra belisca alguma taça. Eu levo em conta campeonatos nacionais. As copas são um pouco mais democráticas e permitem surpresas com mais frequência.

Nacionais como Estaduais

A verdade é que as ligas nacionais europeias, para os superclubes, se tornaram o que os Estaduais são para os grandes do Brasil. Só que cada vez mais os títulos se concentram. O que pensa, hoje, um torcedor do Borussia Dortmund, sabendo que seu "título" será vaga na Liga dos Campeões? A torcida da Roma, do Valencia, do Olympique de Marselha...

Não estou falando de saúde financeira das equipes. Cada vez mais, menos clubes são campeões. Da Espanha vem a inspiração para um termo que assombra ou já assombrou o futebol brasileiro: a "espanholização". Nada mais é do que a já citada concentração de títulos na mão de pouquíssimos clubes. E os superclubes estão tão acima que já projetaram uma elitizada competição apenas entre eles próprios, barrada pela Fifa e Uefa. Será este o futuro? Um dos futuros?

E os "12 grandes"?

Por aqui se convencionou dizer que temos 12 grandes no País: quatro paulistas, quatro cariocas, dois mineiros e dois gaúchos. Eu observo a Europa e penso no Brasil. Hoje, quantos clubes brasileiros realmente disputam os principais títulos? Três. Nem tão lentamente assim, ocorre um distanciamento de patamar. E, dos 12 grandes, alguns figuram na segunda divisão há tempos e não conseguem voltar.

Alguns vão se especializar em ganhar os torneios secundários, as competições possíveis. Nos casos mais graves e desesperadores, há uma sanha por adesão à SAF como panaceia e caminho para retomada de glórias passadas de instituições com cofres combalidos. É uma decisão drástica, que acarreta prós e contras para as torcidas. Nem sempre anseios das arquibancadas e direcionamento administrativo avançam em sintonia. Obviamente, nem todos terão sucesso e é bom alguns irem se preparando para viver "dias de torcedores do Dortmund ou da Roma".

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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