Conversando com o Bispo

"Senhor, tu sabes que eu te amo" - 3º da Páscoa - Ano C

01/05/2022 | Tempo de leitura: 4 min

A fé cristã não é só uma questão de crer em verdades, ainda que reveladas. É mais. É antes ou acima de tudo uma questão de amor. Jesus não perguntou a Pedro: "Tu crês em meus ensinamentos?" Mas perguntou: "Tu me amas?" A confiança numa pessoa não nasce de uma compreensão intelectual, por exemplo, por causa do brilho da sua inteligência, mas vem da relação amigável com essa pessoa, do amor possível de se estabelecer com ela. Os namorados não irão ao casamento por causa da riqueza nem material nem intelectual um do outro, mas por causa do seu amor recíproco.

No Evangelho da Missa de hoje - Jo 21,1-19 - São João conta que Jesus ressuscitado apareceu pela terceira vez aos discípulos, desta vez à beira do mar de Tiberíades. Foi nesta ocasião que Jesus questionou Pedro a respeito do seu amor ou de sua fé. Os biblistas explicam que São João conta essa aparição como a catequese das primeiras comunidades a contava usando-a, interpretando-a e valorizando detalhes pelos quais Jesus deu mostras de quem Ele é e, assim sendo, de poder cobrar de Pedro e, indiretamente, dos discípulos a sua fé e, por último, de contar com eles para o trabalho da missão.

Estavam lá à beira do mar Pedro e outros seis discípulos. No primeiro momento, aconteceu o seguinte: Era o fim de tarde daquele dia, quando Pedro disse-lhes: "Eu vou pescar". Eles disseram: "Também vamos contigo". Tomaram as barcas, mas não pescaram nada naquela noite. Quando amanhecia, um desconhecido de pé na margem gritou para eles: "Tendes alguma coisa para comer?" Responderam: "Não". Ainda não sabiam que era Jesus quem lhes perguntava. Jesus disse-lhes: "Lançai a rede à direita da barca e achareis". Lançaram e não conseguiram puxá-la para fora por causa da quantidade de peixes. O discípulo que Jesus amava disse a Pedro: "É o Senhor". Como o amor antecipa, Pedro atirou-se ao mar para chegar primeiro. Jesus os esperava com brasas acesas, peixe assando e pão à disposição. Jesus pediu-lhes: "Trazei alguns dos peixes que apanhastes". Depois, Jesus convidou-os: "Vinde comer". Ninguém ousava perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e distribuiu-o. E fez a mesma coisa com o peixe. Os sinais catequéticos são claros: A pesca é um símbolo do trabalho evangelizador; a missão dos apóstolos é serem pescadores de homens; a escuridão da noite significa a ausência de Jesus que é a luz do mundo; a pesca surpreendente se dá à luz de Jesus ressuscitado; só com a presença do ressuscitado a evangelização se torna fecunda. Consequências práticas para a eficácia da missão: mais importante de tudo é estar em comunhão de vida com Jesus, atento à sua presença, ouvindo a sua voz, celebrando a ceia com Ele. A força evangelizadora não vem do "fazer muitas coisas" nem do "ativismo" nem dos "muitos projetos", mas do ir à missão em nome de Jesus e com Jesus, em suma, depende da fé em Jesus. Mas de que fé?

O segundo momento deu-se logo depois de comerem. Foi aí que Jesus perguntou a Simão Pedro: "Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?" Pedro respondeu: "Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo". Jesus disse: "Apascenta os meus cordeiros". Jesus repetiu a mesma pergunta e Pedro deu a mesma resposta. Jesus lhe disse: "Apascenta as minhas ovelhas". Pela terceira vez, Jesus tornou a lhe perguntar. Pedro ficou triste, porque lhe pareceu que Jesus duvidasse dele. Talvez tenha aflorado à sua cabeça a lembrança daquela fatídica noite em que ele negara o Senhor três vezes antes do galo cantar. Mas ele respondeu: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo". Jesus disse: "Apascenta as minhas ovelhas". Jesus explicou-lhe, atento aos outros para que eles também entendessem que todo discípulo ao assumir a vocação e missão entrega a sua liberdade nas mãos de Deus. E Jesus acrescentou: "Segue-me". Eis os sinais da fé e as suas consequências: João, o discípulo que mais amava Jesus, foi o primeiro a intuir que o desconhecido da praia era o Senhor; Pedro foi o primeiro a pular na água para chegar depressa até ele; todos sabiam que era o Senhor pelos gestos da ceia: o peixe e o pão partidos e distribuídos; Jesus pergunta sobre o amor porque precisa saber se Pedro e os outros o amam; a fé se prova pelo amor; o que deve distinguir o discípulo é o seu amor por Jesus; sem amor a Jesus a missão seria uma pesca "à noite que não "pega nada"; os discípulos lançam as redes, confiando em Jesus, certos que Ele os espera às margens do mar da vida; só o amor é digno de fé: então, o seguem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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