No jogo de ida da semifinal (30 de abril), o zagueiro do Noroeste Guilherme Thiago Teixeira, 30 anos, falhou no lance que deu origem ao primeiro gol do São Bernardo. Contudo, ele não se abateu, treinou duro e, na semana passada (7 de maio), mostrou porque há tanto tempo é capitão por onde passa. No duelo decisivo, aos 37 minutos do segundo tempo, fez de peito o gol mais importante da história recente do Noroeste, garantindo o retorno do time à Série A2 do Paulista depois de quase uma década. Sorte? Na visão dele, trabalho. "Sempre falo para os companheiros. Temos que estar preparados porque a oportunidade vai aparecer".
Natural de Santo André, mudou-se ainda bebê para Marília e começou a carreira profissional no MAC. Teve grande influência do pai, Sinval Gomes Teixeira, 56 anos, volante da várzea. Mas só transformou as chuteiras em profissão graças ao apoio da mãe, Maria de Fátima Thiago, 59 anos. "Muitas vezes, ela deixava de ter as coisas dela para pagar a passagem de ônibus para eu treinar". A irmã Jéssica Caroline Teixeira, 26 anos, ainda vive com os pais em Marília.
De origem humilde, a bola é companheira desde a infância. Profissionalizou-se cedo, aos 17 anos, e não demorou a ganhar a braçadeira de capitão. Voto de confiança de Deda, diretor de futebol do Norusca, na época colega de Novorizontino. "Liderança não é só no jogo, tem que viver o clube. É ser capitão fora de campo, ajudar os companheiros e ter responsabilidade", define. O zagueiro defende a camisa alvirrubra há três temporadas.
O caráter firme e a determinação viraram orientação para o irmão caçula Gabriel Teixeira, 20 anos, hoje curiosamente também zagueiro do Noroeste. Reservado, gosta de aproveitar a família nas horas vagas. É casado com Andreina Durais Teixeira, 30 anos. Juntos, tiveram o filho Isaac, 11 meses.
Ainda eufórico com a conquista, Guilherme contou um pouco mais ao JC sobre a trajetória no esporte. Confira:
Jornal da Cidade - Já caiu a ficha que você fez o gol do acesso?
Guilherme Teixeira - Ainda não, por mais experiência que eu tenha no futebol. Quando você faz um gol tão importante para a cidade e para o clube é gratificante demais. E também por tudo que passamos depois da derrota por 2 a 0 lá. Foi difícil, errei no lance do primeiro gol, mas sou líder do grupo e não posso abaixar a cabeça. No futebol, você está sujeito a errar, mas tínhamos a oportunidade de reverter. Falei para os colegas acreditarem, fazerem uma boa semana de trabalho e jogarem leve. O grupo é muito forte. Foi por isso que conseguimos dar a volta por cima, pelo ambiente bom, pela experiência da comissão. Isso deu confiança, assim como a torcida, que nos apoiou e compareceu no estádio.
JC - Esse foi o gol mais importante da história recente do Noroeste. E da sua carreira?
Guilherme - Sem dúvida, esse também foi o mais importante para mim até agora. Na hora, é adrenalina. Depois do jogo, a alegria maior era pelo acesso mesmo.
JC - Você foi capitão por vários clubes por onde passou. Como acabou assumindo essa responsabilidade?
Guilherme - A primeira vez foi no Novorizontino. O Deda era nosso volante e me passou a faixa. Hoje, ele é diretor de futebol do Noroeste. Tinham outros atletas mais experientes, mas ele me escolheu. Liderança não é só colocar a braçadeira. Tem que viver o clube. É ser capitão fora de campo também. Reerguer seu companheiro que não está no momento bom, porque, depois, ele vai te ajudar. É conversar com os colegas, orientar para estarem prontos porque a oportunidade vai aparecer. O capitão tem essa responsabilidade de manter o ambiente bom.
JC - E a carreira começou como? De onde veio a vontade de ser jogador?
Guilherme - Teve influência do meu pai. Ele era volante do amador e eu estava sempre com ele no campo. Desde pequeno, eu dormia com a bola e acordava com ela. Fui pegando gosto. Entrei para a escolinha de futebol e a oportunidade de ir para um clube veio aos 17 anos, quando subi para o time profissional do MAC para jogar a Série C do Brasileiro. Vim de família humilde, tinha que 'ralar' para colocar as coisas em casa. Minha mãe sempre me apoiou. Muitas vezes, deixava de ter as coisas dela para pagar uma passagem de ônibus para eu treinar. Isso fez parte da minha formação e contou muito quando cheguei no profissional para ter responsabilidade. Desde menino, meu foco sempre foi ajudar minha família.
JC - Passado esse momento de euforia, quais são os objetivos? Tem algum sonho?
Guilherme - Queremos ser campeões para coroar a A3. Tenho contrato com o Noroeste até final ano e pretendo ficar. Futebol é assim, a gente busca uma oportunidade. Meu objetivo é jogar a Série A do Brasileiro, única divisão que falta para mim profissionalmente. Busco estar sempre em alto nível para aproveitar as oportunidades. Não sei o que acontece daqui para frente, meu empresário resolve.
JC - Seu irmão hoje é colega de clube. Foi influência sua?
Guilherme - O Gabriel é muito apegado a mim. Ele nem era tão fã de futebol. Aos 9 anos, começou a gostar porque comecei a me profissionalizar, então, ele se interessou. Foi se aprimorando, me acompanhando, arrumei testes para ele fazer. Esse é o primeiro acesso dele, está tendo uma chance muito legal ainda jovem.
JC - E quem é seu ídolo no esporte?
Guilherme - Ronaldo Fenômeno, pelo que ele jogou e pela superação de todos os problemas e lesões. É o melhor do mundo. Foi um 'monstro' em campo, o melhor que eu vi. Na minha posição, admirava o Juan, zagueiro do Flamengo e da Seleção Brasileira.
JC - E fora o futebol, o que mais gosta de fazer?
Guilherme - Sou apegado à minha família, não saio muito. Gosto de churrascaria, é onde mais vamos. E, nas folgas, vou bastante para Marília ver a família. Também gosto de fazer churrasquinho com os amigos, porque, no grupo, temos cinco atletas de Marília, nos conhecemos desde pequenos, isso é raro no futebol.