Entrevista da semana

O futebol na veia e o rock no coração

Marcele Tonelli
| Tempo de leitura: 5 min

O pai era jogador de futebol amador em Bauru e a mãe amante do rock and roll. Foi dessa boa mistura de culturas do seo Celso Ribeiro e da dona Sônia Carvalho da Silva que nasceu o bauruense Everton Carvalho da Silva, mais conhecido como Alemão ou Meu Malvado Favorito. Ele, que marcou seu nome como treinador profissional do futsal da FIB, onde atuou por cerca de uma década, acaba de voltar do Kuwait, após temporada de seis meses com equipes do país árabe.

Com o futebol correndo pelas veias, Everton, hoje com 42 anos, conta que entrou para o esporte influenciado não só pelo pai, mas também pelo irmão mais velho, o zagueiro Emerson, que teve passagem por várias grandes equipes, como Portuguesa, São Paulo, Botafogo e Ponte Preta, e chegou a atuar pela Seleção Brasileira, nas Eliminatórias da Copa do Mundo em 2002.

Como goleiro, Everton iniciou trajetória aos 11 anos em pequenos clubes em Bauru e, aos 18, teve sua primeira oportunidade como profissional, no Botucatuense Futsal. A carreira de treinador teve início em 2007, com um time juvenil em Garça. Daí para frente, outras propostas foram surgindo. Ele, inclusive, também se tornou inspiração na família, tanto que o irmão mais novo, Elton Carvalho da Silva, atua hoje como técnico das equipes da FIB.

Ao contrário da maioria dos "boleiros" que gostam de um bom pagode, Everton é fã de heavy metal. "Se eu não tivesse conseguido carreira no futebol, teria virado músico do rock". Inclusive, pode-se dizer o rock está em seu coração. Afinal, foi em um festival do gênero que ele conheceu a esposa Joyce Galvão. Da relação, veio o pequeno Enzo, de 3 anos.

Conheça, a seguir, um pouco dessa trajetória:

JC - Quando o futebol e o futsal entraram para sua vida?

Everton - Na infância. Tanto que a minha mãe não podia ter nada que quebrasse na estante da sala de casa, porque eu e meus irmãos jogávamos bola em todo lugar. A inspiração vinha do meu pai, que era jogador do amador. Crescemos assistindo aos jogos. Depois que meu irmão mais velho (Emerson) entrou para o XV de Jaú e se tornou jogador profissional, eu me inspirei ainda mais e, aos 11 anos, entrei para o futsal e fui evoluindo como goleiro até me tornar profissional.

JC - E como começou a carreira de técnico?

Everton - Como jogador, passei pelo Botucatuense Futsal, pelo Yara Clube de Marília e, depois, fui para o Garça. Nesse meio tempo, eu também estudava e me formei em Educação Física, com especialização em futsal. Em 2007, surgiu uma vaga para treinador do juvenil em Garça e, como eu tinha estudo, me deram a oportunidade. Em 2009, recebi minha primeira proposta para treinar um time. Foi em Luiz Antônio, na região de Ribeirão Preto. Em 2010, voltei para Bauru e assumi o futsal de base da FIB. Depois, passei a treinar a equipe adulta, onde fiquei até 2020.

JC - No ano passado, você foi trabalhar no Kuwait. Como isso ocorreu?

Everton - Em novembro de 2021, recebi uma boa proposta para passar uma temporada de seis meses com a equipe adulta de Tadhamon. Larguei tudo e fui. Essa equipe nunca havia ganhado um jogo sequer. Comigo, eles ficaram em terceiro na Copa do Kuwait. Acabei treinando também a equipe juvenil, que acabou classificada para a semifinal do Kuwait, mas não acompanhei até a final, porque optei por voltar ao Brasil para ficar com a família. Mas, soube que houve sondagens e é provável que eu receba alguma proposta, entre junho e julho, para voltar.

JC - Acredito que foi um choque de cultura. Você pretende voltar?

Everton - Eu voltaria para dar um futuro melhor à minha família. O Kuwait paga para treinadores mais que o triplo do Brasil. Mas, confesso que não foi fácil. Volto se a proposta for muito boa. A liga de lá tem oito equipes e somente uma é realmente profissional. Nas demais, os jogadores trabalham e o treino fica em segundo plano, então, é difícil cobrar. Outra dificuldade é o horário. Por causa do calor da manhã, a vida começa às 11h e segue até as 4h da madrugada por lá. Se eu dormi bem três dias em seis meses, foi muito.

JC - Qual o título mais emblemático conquistado até aqui?

Everton - Ocorreu em 2010, com o sub-13 da FIB/Esquina do Pão de Queijo. Perdemos apenas uma partida em 48 jogos e levamos o Campeonato Paulista. Alguns desses meninos jogam, hoje, em clubes profissionais.

JC - O que mais marcou sua carreira como treinador até hoje?

Everton - É gratificante ver meus ex-alunos se despontando, tem gente na Rússia, na Itália... mas, tem uma história emocionante, que é a da Luana Theodoro, que passou pela Seleção Brasileira e, hoje, joga em Portugal. Ela tinha 7 anos quando apareceu na FIB, em 2010. Um ano depois, ela já estava competindo junto aos meninos no Campeonato Paulista Sub-8. Havia preconceito quando saíamos para as disputas, eu tinha que convencer os outros de que ela jogava bem. Até o sub-14, era direito dela integrar a equipe dos meninos. Sempre quando nos encontramos, ela me agradece e eu digo que só oportunizei.

JC - Além do amor pelo futebol, você mantém outra paixão, que é o rock, né?

Everton - Se eu não tivesse conseguido carreira no futebol, teria virado músico do rock. Muitos amigos meus têm banda. Aliás, essa influência tive da minha mãe, que adorava Queen. Sou amante de heavy metal e especialmente do Metallica. Inclusive, conheci minha esposa e a família dela no Rock do Bem. Me chamam de Meu Malvado Favorito, porque, no futebol, o pessoal gosta mais de pagode e samba, e eu não. Além disso, tenho esse visual, careca, de roupas pretas, tattoos e cara de bravo, mas sou bonzinho (risos).

JC - Planos futuros?

Everton - Gosto do alto rendimento, mas o problema é que o trabalho é visto apenas se você ganha e isso depende de uma série de fatores externos. Mas, quero continuar no futsal até quando essa chama permanecer acesa. Meu sonho, daqui a alguns anos, é montar uma escola de futsal e ter equipes de base que evoluam.

 

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