Entrevista da semana

O maior superpoder

Guilherme Tavares
| Tempo de leitura: 6 min

Com uma história de muita luta e superação diante de uma série de problemas de saúde, o menino Francisco Guedes Bombini, 5 anos, fenômeno das redes sociais, passou a ser conhecido como Super Chico. Entre as dificuldades, encarou sete cirurgias, incontáveis internações e venceu a Covid-19 duas vezes. E por trás desse pequeno herói, há também uma mãe com uma coragem gigante. Dia após dia, Daniela Guedes Bombini, 48 anos, descobre que seu maior superpoder é o amor.

"Quando descobri que ele precisava de uma cirurgia ainda na barriga, fiquei anestesiada com tantas notícias fortes. Acho que nunca mais voltei ao normal. Eu era muito ansiosa. Hoje, vivo um dia de cada vez", conta ela. Além do Super Chico, Daniela também é mãe de Clara Guedes Bombini, 15 anos, e de Beatriz Guedes Bombini, 10 anos, a Bia. É casada com Beto Bombini, 49 anos, e ambos são advogados.

Chico nasceu com 30 semanas de gestação com problemas renais, cardíacos, gástricos e pulmonares. O menino ainda precisou de outras seis cirurgias e passou os seis primeiros meses de vida no hospital. "Eu fazia a festa na UTI. Via mães deprimidas e não queria ser daquela forma. Queria ser diferente, levar alto astral para meu filho", conta. Hoje, o menino inspira cuidados diários. Além das comorbidades, também tem síndrome de Down. Na pandemia, teve Covid-19 duas vezes, voltou a ser internado e, para vencer as infecções, contou com muito carinho e dedicação, poderes que a mamãe mostra todos os dias.

A trajetória passou a ser relatada nas redes sociais. Somando Facebook e Instagram, o Super Chico soma 1,3 milhão de seguidores. "Eu precisava incluir ele. Em vez de esconder, eu faço questão de mostrar meu filho", revela Daniela, que, além do trabalho no escritório Maia Sociedade de Advogados, também preside a Comissão de Direitos Humanos da OAB Bauru.

Ela conversou com a reportagem e, a seguir, você confere um pouco dessa história de vida.

Jornal da Cidade - O Chico é super. A Daniela também?

Daniela Bombini - Acho que todas as mães são super. Dentro de suas realidades. E os pais também. Porque, a partir do momento que você tem filho e tem a responsabilidade de educar, já é uma grande missão. Todo mundo vai fazer o seu melhor. E isso é mais do que aquilo que você estava acostumado. Então, te torna super de repente.

JC - De onde vem sua força?

Daniela - Comecei a me conhecer melhor depois do Chico. Na família, todo mundo dizia que eu era frágil. Quando descobrimos que ele precisava de uma cirurgia ainda na barriga, foi tudo muito rápido e intenso. Depois do nascimento, tivemos uma série de notícias fortes e, a partir de então, eu nunca mais voltei ao normal. Não é algo consciente, é uma força absurda, mas, diante da dificuldade, eu falei: "tá bom, vamos encarar". No dia seguinte ao nascimento, eu e o Beto nos arrumamos para visitar o Chico. Ele me parou na porta de casa e me disse: "quero fazer um pacto com você. Nós vamos levar a vida leve e a rotina das meninas não vai mudar". Eu falei: "fechou". Apertamos as mãos e isso também me deu muita força, porque eu sabia que tinha alguém comigo. O Chico, tendo deficiência e todas comorbidades, é alguém que precisa ainda mais de nós. Nos unimos mais ainda.

JC - O que mudou dentro de você?

Daniela - Eu era ansiosa. Agora sou mais tranquila, vivo um dia de cada vez. Isso é um lema de UTI. Hoje, eu sou assim com tudo: com o trabalho, com minha vida, com as meninas e, principalmente, com o Chico. Sou bem menos ansiosa e vivo um pouco no mundo da lua. Eu acredito que o universo conspira e tudo vai dar tudo certo. Não penso muito no futuro, eu quero ser feliz hoje.

JC - E tendo que se preocupar tanto com o Chico, como ficou o papel de mãe com as duas meninas?

Daniela - A Bia percebia todo movimento, sabia que o irmão precisava de cuidados no hospital, mas não se ligou imediatamente. A Clara, um dia, perguntou se ele poderia ser "especial". Conversamos com ela, explicamos que ele nasceu em uma família com muito amor. Ela chorou no primeiro momento, mas, depois, aceitou muito bem. O Chico ficou intubado muito tempo, não era permitido ficar lá. Só podíamos visitá-lo. Então, eu aproveitava para ficar mais tempo com as meninas. Naturalmente, vem uma serenidade que te permite separar as coisas. Quando estava no hospital, eu era integral para ele. Quando estava em casa, me dedicava às meninas. E, quando elas perguntavam do Chico, eu explicava que ele estava sendo muito bem cuidado no hospital, para tranquilizá-las também. É uma responsabilidade muito grande.

JC - E profissionalmente? A Daniela advogada também mudou? 

Daniela - Muito. Antes, eu ficava mais tensa com o volume de serviço, me questionava se daria conta. Descobri que eu consigo fazer tudo. Primeiro isso, depois aquilo, uma coisa de cada vez, um minuto de cada vez. Tudo vai dar certo. Hoje, não me pergunto se vou conseguir. Eu penso: "eu consigo". Fiz questão de continuar trabalhando. Durante a licença-maternidade, pedi para voltar, porque queria ocupar minha cabeça. Mas o pessoal do escritório negou, porque disseram que, naquele momento, a minha família é que precisava de mim. Foram muito sensíveis, muito humanos. Sou eternamente grata onde estou hoje por toda compreensão deles. 

JC - Você e o Chico têm muitos seguidores nas redes sociais. O que te impulsionou a criar os perfis?

Daniela - Foi porque eu precisava incluir mais ele na sociedade. Na época, havia poucas páginas de pessoas com deficiência nas redes sociais. Decidi fazer ao contrário. Em vez de esconder, eu faço questão de mostrar meu filho. Para mostrar que deficiência é uma coisa do mundo e que ninguém costuma ver. Mas, precisamos mostrar todos os dias, porque as pessoas vão aceitar melhor. O ativismo é muito importante para mim. A partir do momento que o Chico veio, meu olhar ficou mais amplo. As minorias e especialmente as pessoas com deficiência se tornaram meu foco. Eu quero um mundo melhor, mais justo, inclusivo e com menos desigualdade social. Existe uma luta grande pela inclusão das pessoas deficientes, mas ainda falta muito. 

JC - Outro ponto que chama atenção são as festas de aniversário do Chico. Elas sempre tiveram muita participação, com centenas de pessoas. De quem foi a ideia de torná-las beneficentes?

Daniela - Foi do Beto. No começo, ele não queria. Só aceitou com a condição de fazê-las para ajudar instituições. No primeiro ano, colaboramos com os Voluntários do Bem e com o Esquadrão do Bem. A partir do segundo ano, passamos a ajudar a Associação Bauruense de Apoio e Assistência ao Renal Crônico (Abrec).

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