Aos 70 anos, Gonzalo Horta Perez nem imagina ainda o dia em que vai parar de empreender. "Não sei de onde vem esse lado profissional. Talvez da experiência de vida, do desafio, sempre fui de procurar alternativas", diz o empresário.
Entre tantas atividades, ao longo da trajetória foi vendedor de enciclopédias, dono de centro automotivo, executivo de exportação de grandes fábricas e, há dez anos, possui uma agência de turismo, fortemente impactada pela pandemia. A saída foi novamente empreender: montou mais dois negócios, um de roupinhas para pets e o outro voltado à alimentação infantil. "Foi um lampejo. Em vez de me entregar à crise, tentei novos mercados".
Nascido no Uruguai, deixou Montevidéu em 1974 para vir ao Brasil, na época com 22 anos de idade. "Eu procurava algo a mais. O Uruguai é muito pequeno. Eu pensava em crescer. Até mesmo sonhava em ganhar algum dinheiro". O primeiro emprego na Capital paulista foi como vendedor de televisores coloridos.
Se por um lado não fez fortuna, por outro o enriquecimento pessoal é inegável. "Tenho bons anos de Brasil e sou apaixonado por Bauru".
Caçula de dez irmãos, é casado há 16 anos com Luciana Roza de Horta, hoje administradora das lojas de roupas para pets. Teve cinco filhos, hoje os mais próximos são Nicolas Horta, 32 anos, e Maria Laura Horta, 14. Estudou economia, formou-se em administração de empresas e fez diversos cursos de vendas e gestão de turismo.
O JC conversou com ele sobre essa extensa e diversificada trajetória, confira os principais trechos:
Jornal da Cidade - Você deixou o Uruguai ainda muito jovem. Por que veio para o Brasil?
Gonzalo Horta Perez - Era a procura de algo a mais, tentar alguma coisa. O Uruguai era muito pequeno. A economia não era nem sombra do que é hoje, então pensava em crescer. Sempre brinco que vim para cá ficar rico em 20 anos, faz mais de 40 que estou aqui e continuo pobre (risos). A ideia mesmo era procurar um futuro melhor para a família, ganhar algum dinheiro.
JC - E encontrou esse futuro?
Gonzalo - É inegável que estou feliz. Adoro Bauru, gosto muito da cidade e da vida que fiz aqui. Vim para cá procurando qualidade de vida. Não tenha dúvidas de que sou apaixonado por esse lugar. Inegavelmente estamos bem, felizes. Tenho bons anos de Brasil.
JC - E como foi o começo da trajetória profissional no Brasil?
Gonzalo - Eu vim em 1974, comecei como vendedor de televisores coloridos em São Paulo, Capital. Também cheguei a vender edições da Enciclopédia Britânica. Depois de um tempo, tive uma pista de patinação, em frente ao Shopping Ibirapuera, era moda na época. Foi muito bom, mas depois a tendência passou.
JC - E Bauru, como veio parar aqui?
Gonzalo - Era um domingo, trânsito todo parado e decidi: vou embora daqui. Estava cansado, era muita loucura. Aí falamos com uma pessoa conhecida daqui, também uruguaio, e viemos em 1995. Meu primeiro negócio foi um centro automotivo, CenterKar, uma referência. No ano 2000, fui trabalhar na Ajax, na parte de exportação e comércio exterior. Fiquei oito anos, foi um sucesso absoluto. Depois disso, trabalhei mais oito anos na Sukest, também com exportação. Nesse meio tempo, apareceu a oportunidade de adquirir a agência de turismo e, durante um tempo, toquei as duas coisas.
JC - O turismo foi um dos setores mais impactados pela pandemia. O quanto atingiu vocês?
Gonzalo - Apanhamos muito nesses dois anos de pandemia. Tínhamos duas lojas, fechamos uma. Até hoje estamos embarcando clientes de 2020. Foi por isso que resolvemos abrir a Pet Boutique. Vendemos brinquedos, roupinhas e acessórios para animais. Tinha que criar algo com receita rápida. Hoje temos duas unidades.
JC - O investimento trouxe equilíbrio financeiro?
Gonzalo - Foi uma tentativa. Não adiantava sentar e falar que o negócio está ruim, não tem turismo, vou quebrar. Por sorte e experiência de vida, partimos também para outro negócio, de consumo frequente. Há seis meses criamos a Papa Rica, uma loja especializada em alimentação infantil. Acredito que tenha uma sustentação mais segura que o turismo. É um produto natural, sem conservantes, vai desde a introdução alimentar para o bebê até lanches e refeições completas, tudo ultracongelado, conserva sabor e nutrientes. Investimos também no delivery.
JC - Com tantas realizações diferentes, de onde vem essa veia empreendedora?
Gonzalo - Não sei. Talvez da experiência de vida, do desafio, sempre fui de procurar alternativas. Nos casos mais recentes, acho que foi um lampejo. Em vez de me entregar à crise, fui focar naqueles que acredito que são os melhores mercados que têm. Ainda não está tudo maravilhoso, mas a semente está colocada.
JC - E quando se propõe a algo novo, tem alguma coisa onde busque forças ou inspiração?
Gonzalo - Na fé, não tenha dúvida. Me guia, me ilumina. Sofro muito, porque todo dia é uma luta. Nossa vida, da nossa família, é conduzida sim pela fé.