Wagner Teodoro

Veteranos contra-atacam

07/08/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O começo da temporada 2022 parecia determinar o ocaso de alguns "medalhões" no cenário da beirada do campo no futebol brasileiro. Naquele momento, apenas um clube da elite nacional apostava em um nome veterano para dirigir seu time: o Fluminense, que tinha Abel Braga. Tudo insinuava que nomes como Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari e Dorival Júnior, que, então, estavam desempregados e nem eram cogitados, caminhavam para sair de cena. Quem sabe para uma aposentadoria?

Mais que isso, a tendência parecia ser de domínio estrangeiro no cenário. Mantendo um movimento que se acentuou há, principalmente, três temporadas, o Campeonato Brasileiro 2022 estabeleceu o recorde de 10 treinadores internacionais, ou seja, metade, em uma única edição, contando desde 1959.

Comandam ou comandaram equipes no Brasileirão deste ano: Abel Ferreira (Palmeiras), Paulo Sousa (Flamengo), Vítor Pereira (Corinthians), Luís Castro (Botafogo) e António Oliveira (Cuiabá), todos portugueses; Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza), Turco Mohamed (Atlético-MG) e Fabián Bustos (Santos), os três argentinos; além do paraguaio Gustavo Morínigo (Coritiba) e do uruguaio Alexander Medina (Internacional).

Mas o que parecia a panaceia revelou uma obviedade. Não é uma fórmula mágica. Não basta trazer um treinador de outro país para se tornar ou se manter protagonista. Eu gosto da presença de estrangeiros que proporciona o intercâmbio de ideias, a chegada de novos conceitos, até mesmo em postura fora das quatro linhas, traz reformulações e contribui para o desenvolvimento do futebol brasileiro.

Choque de realidade

Só que a obsessão e a "obrigação" de contratar um estrangeiro acabou acarretando prejuízo não só financeiro - via de regra, os salários dos importados é alto - mas esportivo. O caso do Flamengo é o mais emblemático. Foram ao parque e no jogo das argolas, mirando Jorge Jesus, acertaram em Paulo Sousa. Sim, porque tinha que ser um português. E o luso fez um trabalho abaixo da crítica e atrasou a temporada rubro-negra. É um caso típico de tempo perdido. O Santos, com Bustos, o Inter, com Medina... Enfim, não rotulo os profissionais e nem subestimo a capacidade de nenhum deles. Só não foram boas passagens. É preciso ter critério.

E o que fizeram os clubes? Olharam para si e buscaram algo, digamos, mais pragmático. Os veteranos, experientes em lidar com elencos vaidosos ou com situações adversas, foram acionados. E, neste contexto, os trabalhos de Mano, Dorival e Felipão, aqueles "esquecidos" lá do começo do texto, é excelente. Mano pegou o Inter - o clube vinha de três apostas consecutivas em forasteiros - oscilante e conseguiu arrumar a casa. O resultado foi ascensão no Brasileirão e classificações na Copa Sul-Americana.

Dorival substituiu Paulo Sousa no Flamengo e devolveu ao time da Gávea o status de favorito a tudo. Aliás, fica mais que provado que nem todos conseguem sobrar com um elenco milionário em mãos. Dorival tem conseguido. Seu trabalho deu consistência defensiva ao Flamengo e recuperou jogadores que são inegavelmente talentosos, mas que vinham sendo irregulares. O técnico fez o simples tão difícil de executar. Com importantes reforços e, aparentemente, com moral para comandar o caprichoso grupo de atletas, amplia horizontes em mata-matas e corre para recuperar o prejuízo no Nacional.

Quem também aposta em produto nacional para substituir o importado é o Atlético-MG. O time mineiro conseguiu convencer Cuca a interromper seu ano sabático e voltar a Vespasiano. Ainda é cedo para avaliar seu desempenho - assim como Lisca no Santos -, mas acredito em uma equipe mais intensa, vibrante, competitiva, qualidades que faltavam sob comando de Turco Mohamed. Um elenco tão qualificado tinha bons números, mas rendia menos futebol do que pode.

Sem bigode

O caso de Felipão é diferente. O gaúcho chegou ao Furacão para ser dirigente e foi convencido a prolongar a carreira de treinador. Poucos não torceram o nariz. Assumiu o time e conseguiu deixá-lo sólido. Com equipe encaixada, o técnico faz ótimo trabalho, mantendo o Athletico vivo em três campeonatos. Para quem pegou o cargo com missão de salvar o ano - Fábio Carille, seu antecessor, foi demitido após sete jogos no clube -, Scolari, agora em nova fase, sem bigode, vem fazendo bem mais do isso. O Athletico é uma equipe extremamente indigesta para os adversários. Regular no Nacional e, desculpe o trocadilho, mortal no mata-mata.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.