Entrevista da semana

De casa em casa, ele acompanhou a expansão de Bauru

Guilherme Tavares
| Tempo de leitura: 5 min

Há quase seis décadas ele acompanha a expansão da malha urbana de Bauru. Edbaldo Rocha, 77 anos, é um dos corretores de imóveis mais antigos na ativa e começou a trabalhar em uma época em que os limites da cidade eram bem menores. "Para cima da Duque só tinha mato", relata. Pelas mãos dele, passaram muitas chaves da casa própria e escrituras de terrenos.

Alagoano, desembarcou aqui aos 5 anos de idade com o pai José Soares e a mãe Ana Rocha (ambos em memória). A família seguiu a trilha do primogênito, José Cavalcanti Rocha, que atuava na construção da Estrada de Ferro Noroeste. Edbaldo adotou o município e nunca mais arredou pé. "Tive propostas para trabalhar em São Paulo e até no Guarujá. Mas não quis sair porque gosto daqui. Me considero parte da história da cidade", conta.

Apesar da longa trajetória, Rocha, como ficou conhecido, acredita que o êxito depende mais de dedicação e probidade do que apenas tempo de experiência. "Negociar um imóvel não é como vender uma coisa qualquer. Você está mexendo com sonho, expectativa, futuro. Se não for honesto, você pode causar prejuízos grandes".

Durante a jornada, foi dono da própria corretora, Rocha Imóveis, a qual atuou no mercado por 35 anos. Em 2007, resolveu encerrar as atividades, mas seguiu conduzindo os negócios por conta própria, corretando principalmente para amigos e clientes de longa data. "Passei a ter mais tempo e aproveito para viajar", revela. Os passeios são sempre na companhia da esposa, Irene Rocha, 75 anos, com quem é casado há 54 anos.

Outra grande paixão é o futebol. Foi diretor do Noroeste, time que divide o coração com o Corinthians, e sempre gostou de jogar bola com os amigos aos finais de semana. Nas horas de folga, também gosta de estar com o restante da família: os filhos Cássia e Roger; o genro Lorival; e os netos Guilherme, Kalleu e Ketlen.

Rocha conversou com o JC sobre essa longa caminhada. Confira os principais trechos.

Jornal da Cidade - Como o senhor virou corretor?

Edbaldo Rocha - Quando garoto, eu já tinha atuado com vendas de livros e decoração. Aos 20 anos, fui convidado a trabalhar com um amigo que tinha imobiliária, José Lopes Toledo. Aos poucos fui me interessando. Descobri que gostava do contato com o público.

JC - E como era o mercado nessa época, em meados dos anos 1960?

Rocha - Era mais difícil porque não tinha tanta divulgação. E as pessoas, às vezes, tinham medo até de comprar, fazer o investimento, então você trabalhava muito mais. Hoje é mais amplo, o pessoal sabe o que está fazendo. O financiamento também ajudou muito. A pessoa tinha que ter o dinheiro todo para comprar o imóvel. Até existia empréstimo pessoal, uma ajuda dos bancos, mas era raro. E tinha muito loteamento. Vila Universitária, Estoril, Altos da Cidade: toda essa região começou por volta dessa época.

JC - O senhor também foi dono da própria imobiliária durante 35 anos. O que o motivou a abrir o próprio negócio?

Rocha - Eu queria expandir e sentia ter potencial para ser administrador também. Cheguei a ter dez funcionários. Assim como quase todo mundo, comecei pequeno, uma portinha na rua Sete de Setembro. E teve uma história muito marcante. Era um domingo e eu abria, porque estava começando. Um japonês, de chinelo, muito simples, desceu de um Fusca, queria comprar um imóvel. Eu poderia não ter dado atenção, mas algo me dizia para acreditar. O levei para ver uma casa de luxo no Estoril, uma das primeiras do bairro. Ele se interessou e queria fechar a venda. Era uma casa muito cara. No dia seguinte, consegui marcar com o vendedor e ele tinha o dinheiro para pagar à vista. No final das contas, ele revelou ter ganhado da loteria e queria investir em imóveis. Ou seja, não era golpe. Depois disso, meu negócio decolou.

JC - O senhor acompanhou a expansão de boa parte da cidade nas últimas décadas. Ao ver como Bauru era e como está hoje, qual é o sentimento?

Rocha - Me sinto orgulhoso de ver a cidade crescer. Eu amo muito Bauru. Tive oportunidades de trabalhar em São Paulo, no Guarujá, em grandes imobiliárias, mas nunca quis sair daqui. Me considero parte da história da cidade. Quando eu comecei, a cidade era basicamente Centro, Bela Vista, Vista Alegre, Falcão, Jardim Santana e alguns outros bairros. Como corretor, participei de muitas vendas de loteamentos que hoje são bairros importantes, como Altos da Cidade, Vila Universitária, Jardim Estoril. Naquela região da Nossa Senhora de Fátima, por exemplo, não havia nada.

JC - O que uma pessoa precisa ter para ser um bom corretor?

Rocha - Tem que ser correto, falar a verdade sempre para o cliente. É preciso ter conhecimento do que está dizendo. Precisa passar confiança para o comprador. Vender imóvel não é fazer uma venda qualquer. É uma coisa de futuro, de esperança. Algo que você adquiriu com muito esforço, muita luta. Não pode jogar fora ao fazer um mau negócio. É um prejuízo que a pessoa jamais vai esquecer.

JC - E quando não está trabalhando, o que gosta de fazer?

Rocha - Sempre gostei muito de viajar. Fui à inauguração de Brasília, conheço muitas outras capitais, como Fortaleza, Recife, Goiás. Tive oportunidade de conhecer a minha terra natal e também os estados do sul. Desde que encerrei a minha imobiliária, passei a ter mais tempo para passear. Também sempre gostei de futebol. Fui diretor do Noroeste e presidente do Clube Arem (Associação Recreativa Esportiva Mosqueteiro), onde jogávamos entre amigos.

 

Comentários

Comentários