Wagner Teodoro

A montanha-russa de VP

14/08/2022 | Tempo de leitura: 4 min

Teorias, filosofias e metodologias; estatísticas, estudos e planejamento. O futebol é feito de um percentual considerável de tudo isso. E, claro, de talento. Porém, raras vezes vemos um desafio à velha máxima de que "futebol é resultado". Sobretudo no Brasil. O trabalho pode ter várias qualidades, mas se não vence... E paciência também não é um artigo tão em oferta. Ainda mais em um grande clube. Ainda mais em um grande clube endividado que faz volumosos investimentos.

Assim, o técnico Vítor Pereira vive um trajeto de montanha-russa no Corinthians. O treinador foi do "inferno ao céu" logo depois de sua chegada, mas vem descendo todos os andares novamente para boa parte da torcida, que já pede sua saída. Justo ele, que viveu uma lua de mel há pouco tempo. É a volatilidade do futebol brasileiro.

Logo após desembarcar no Parque São Jorge credenciado por títulos e passagens por Porto e Fenerbahçe, o lusitano viveu um calvário e ficou extremamente pressionado. Em uma semana, o Corinthians foi eliminado pelo São Paulo no Paulistão e estreou com derrota para o inexpressivo Always Ready na Libertadores.

Crise e até ameaças a medalhões do elenco depois, VP conseguiu fazer o time reagir. Implantou um sistema de jogo que o grupo compreendeu e "comprou". Variações táticas, segundo o próprio treinador, sem descaracterizar um princípio eram implantadas e executadas com naturalidade. O time era líder do Brasileirão e avançava na Libertadores, eliminando o Boca. A rotação do elenco, a escalação de jogadores fora de suas posições de origem eram sacadas do técnico.

Nem tanto

O Corinthians era uma engrenagem que funcionava com peças diferentes da mesma maneira. Os miúdos corresponderam e o Alvinegro atravessou momento de vários desfalques com mínimo prejuízo. VP era um sucesso de crítica e público. Porém, ao longo de todo este período um fator predominou: o Corinthians é um time que anota pouco gol.

Quando o fazer muito com pouco, ou seja, o espantoso aproveitamento caiu, o time oscilou, deixou a ponta do Nacional e foi eliminado da Libertadores. De repente, o trabalho de VP, para muitos, voltou a ser ruim. Será? O Corinthians é competitivo. Caiu para o Flamengo, um dos favoritos ao título continental e que tem elenco de qualidade superior. Tudo o que o técnico fez na sequência ruim, realizou na boa. As mexidas na escalação e improvisações sempre existiram. É exatamente a mesma proposta. O que mudou foram os resultados.

Gênio ou burro?

Com os tropeços, o Corinthians tem sequência decisiva para os rumos de sua temporada. Escrevo este texto antes do Dérbi. Mas o resultado do clássico vai aliviar ou pesar no ambiente. No meio da semana tem decisão na Copa do Brasil. E o placar é adverso de 2 a 0 para o Atlético-GO. VP chega para este momento crucial novamente muito pressionado. Há quem defenda sua saída. E o o português tem em torno de seis meses de trabalho...

E, como eu disse lá no início, o que costuma prevalecer no Brasil é a máxima de que futebol é resultado. Quando o Corinthians ganhava, VP era revolucionário, inovador. Dava entrevistas originais. Tinha retórica brilhante.

Agora, simultaneamente aos percalços em campo, a metodologia de trabalho de Vítor Pereira irrita torcedores e causa desconforto entre os jogadores. O elenco entende que o treinador, fazendo críticas nominais, os expõe; há ainda ressalvas quanto aos treinos e mistério sobre quem será titular (os próprios atletas ficam sabendo em cima da hora se estarão no time inicial).

Porém, mais do que responder, questiono. O trabalho curto ainda não está em processo de desenvolvimento? Será que este Corinthians que está sendo montado e construído é para esta temporada mesmo? Não houve uma excessiva empolgação de muitos e o time, no atual estágio, não foi superestimado? Trocar um técnico e recomeçar do zero é melhor caminho? Demitir VP para contratar quem?

Continuo avaliando o Corinthians com uma temporada produtiva. O time é competitivo e protagonista. A continuidade seria a melhor decisão na minha opinião. Se bem que penso que Vítor Pereira não ficará para o ano que vem. Ele assinou até o fim de 2022 com o Corinthians e disse que "precisaria ver se estará feliz" para renovar. Será? Por ora, muita contradição de alguns que estavam empolgados com o trabalho do lusitano agora pedirem sua cabeça. O cara vai de gênio a burro muito rápido no futebol.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.