Articulistas

O galo cantou na serra, Brasil todo ouviu

PEDRO GRAVA ZANOTELLI
| Tempo de leitura: 3 min

Não se trata do Atlético Mineiro nem da serra de Minas, mas do canto de galo do povo brasileiro, na serra de São Paulo, no último dia 11, onde há duzentos anos ouviu-se: "De um povo heroico, o brado retumbante, E o Sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da pátria nesse instante".

Todos que têm ou tiveram contato com a vida rural costumam dizer que o galo canta antes do amanhecer para acordar as pessoas, mas um estudo realizado no Japão, na Universidade de Nagoya, conduzido pelo professor Takashi Yoshimura constatou que os galos cantam de madrugada, entre outros motivos, para marcar território, mostrando às outras aves que quem manda naquele território é ele.

Terminamos nosso comentário de dias atrás com a frase "Acorda Brasil!" e o movimento do dia 11, de leitura da "Carta em defesa da democracia", feita na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco, com a força simbólica do primeiro manifesto pelo fim da ditadura em 1977, ressoou por todo o Brasil não só para despertar, mas como alerta, como aviso de que quem manda no território desta grande nação é o seu povo. O galo que cantou é o povo brasileiro na sua mais legítima formação diversificada, reunida sem fragmentação por facções religiosas, ideológicas, corporativas ou políticas, que só admite a democracia como regime de governo, no exato conceito emitido por Abraham Lincoln - "Governo do povo, pelo povo e para o povo".

A campanha eleitoral deste ano não é uma campanha limpa. É cheia de falsidades, de conceitos extemporâneos, de ideias infundadas e de expressões ofensivas que criam confusão e medo. Um desses conceitos é a divisão dos candidatos e eleitores em de direita e de esquerda. Isso só existiu na França antes da Revolução de 1789, a da Tomada da Bastilha. Era a divisão da assembleia que assessorava o rei em três grupos, chamados de Estados Gerais, com representantes do alto clero, da burguesia e dos camponeses. Terminou com a transformação da revolta no "Período do Terror", que decepou muitas cabeças pela guilhotina. A única semelhança com o Brasil está numa charge da época - um globo com a coroa real e três flores-de-lis, sustentado por um camponês ajoelhado, provedor de alimentos e de impostos, ladeado por um nobre e um bispo, ambos de pé e vestidos a caráter. A população trabalhadora e pagadora de impostos continua sendo o sustentáculo da nação.

O outro conceito, criado agora é o de luta do bem contra o mal. Ninguém gosta do mal, nem mesmo os que o praticam, porque o mal só traz sofrimento. Portanto, ambos dizem que são do bem, com a diferença que quem é do mal usa a mentida, o disfarce, a camuflagem para enganar os incautos. É assim que todos se dizem democratas.

Só há dois regimes de governo, cada um com suas nuances, para mais ou para menos - democrático, com as características humanas, centradas na liberdade e ditadura, com características desumanas, centradas na repressão. A democracia dá liberdade para a pessoa escolher e dizer o que prefere, a ditadura não. Como estamos em regime democrático, cabe ao eleitor decidir.

O autor é ex-presidente da Ordem dos Velhos Jornalistas de Bauru.

Comentários

Comentários