Wagner Teodoro

'Pé de obra' estrangeiro

21/08/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O fechamento da segunda janela de transferências do mercado do futebol no Brasil ratificou a tendência do "pé de obra" estrangeiro no País. Uma pesquisa rápida mostra que os clubes apostam cada vez mais na importação de jogadores. A exemplo do que ocorre no comando das equipes, com recorde de técnicos forasteiros, a atual edição do Brasileirão tem a maior marca de atletas não nascidos no Brasil: 82. E o número ainda pode aumentar.

Analisando a Série A, praticamente todos os clubes se reforçaram com estrangeiros nesta janela que ocorreu de 18 de julho a 15 de agosto. Entre os paulistas, o São Paulo acertou a chegada dos argentinos Giuliano Galoppo e Nahuel Bustos e do venezuelano Nahuel Ferraresi. O Santos contratou o venezuelano Soteldo e o argentino Gabriel Carabajal. O Palmeiras fechou com Merentiel, uruguaio, e Flaco López, argentino. O Corinthians obteve o argentino Fausto Vera e o paraguaio Balbuena.

Mas a presença de "forasteiros" é geral e marca desde equipes que brigam pelo título a times que lutam para não cair. O Coritiba, por exemplo, buscou uma legião estrangeira para escapar da degola. Chegaram ao Couto Pereira Juan Carlos Díaz, 21 anos, promessa do futebol colombiano que estava no Independiente de Medellín; Jhon Chancelor, venezuelano que atuava no futebol da Polônia; o paraguaio Hernán Pérez e Jesus Trindade, uruguaio que jogava no México. Um "pacotão gringo" para suprir deficiências e tentar escapar de voltar para a Segundona.

Para citar outros: o uruguaio Gonzalo Mastriani foi do Barcelona de Guayaquil para o América-MG; o Flamengo buscou o uruguaio Varella no futebol russo, o chileno Pulgar, que estava jogando no turco Galatasaray, e o também chileno Arturo Vidal, que atuava na Itália, na Internazionale. O Internacional acertou com o argentino Braian Romero, ex-River Plate.

O Avaí contratou o peruano Paolo Guerrero. O Fortaleza se reforçou com o venezuelano Otero e com o argentino Emanuel Britez. O Atlético-MG fechou com o argentino Cristian Pavón. O Ceará, com o colombiano Jhon Vasquez. O Botafogo garimpou Jacob Montes, estadunidense com nacionalidade da Nicarágua, do inglês Crystal Palace - as equipes têm o mesmo dono, John Textor.

Vizinhos dominam

Enfim, foram poucos que disputam a elite do Brasileirão que não buscaram alternativas e soluções no mercado externo. E, dentre os estrangeiros que desfilam sua técnica ou limitação nos gramados nacionais, nossos vizinhos têm total domínio.

A Argentina lidera o ranking com 25 jogadores em ação, seguida pelo Uruguai, com 17. Colômbia (12), Equador (9), Paraguai (8), Chile e Venezuela (4) e Peru (1) são outros países da América do Sul que povoam os campos brasileiros com seus atletas. De mais longe, Portugal e Estados Unidos têm um representante cada.

Perfil comprador

Fica nítido o perfil de comprador do futebol brasileiro em relação aos vizinhos. É na própria América do Sul que o Brasil busca seus reforços. E o motivo também é claro: recentemente, o poder financeiro dos clubes brasileiros cresceu, o que não se verifica no futebol dos outros países do continente.

Na janela de transferências que se fechou as equipes nacionais despejaram dinheiro no mercado, apostando em atletas que atuavam em países vizinhos ou repatriando sul-americanos que jogavam na Europa. Os maiores gastadores foram Flamengo (87 milhões de reais); Palmeiras (R$ 84 milhões); São Paulo (R$ 33 milhões); Corinthians (R$ 27 milhões) e Santos (R$ 18 milhões).

Com a disparidade financeira entre clubes brasileiros e vizinhos e econômica entre países, os times nacionais têm condição de investir na contratação de destaques que atuam no futebol sul-americano e já passam a buscar jovens revelações, as promessas que surgem por lá. Aliado ao material nacional, o desequilíbrio técnico se acentua e ajuda a explicar a hegemonia que os Brazucas vêm construindo na Libertadores e Copa Sul-Americana.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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