Saúde

Jejum intermitente ajuda perder peso, mas não diminui gordura

Ana Gabriela Oliveira Lima
| Tempo de leitura: 3 min

Um estudo clínico revelou que a alimentação com restrição de tempo, conhecida como jejum intermitente, é melhor para a perda de peso, mas não necessariamente para a diminuição da gordura. A prática, caracterizada pela alimentação em janelas de 10 ou menos horas seguida por jejum, também trouxe melhores resultados para a pressão arterial e o humor, quando comparada a um programa de alimentação de 12 horas ou mais.

Especialistas, entretanto, dividem-se quanto aos reais benefícios deste tipo de dieta. Realizado com 90 pessoas obesas entre 25 e 75 anos, o trabalho desenvolvido na Universidade do Alabama em Birmingham, nos Estados Unidos, apontou que os pacientes que fizeram o jejum tiveram uma perda de peso de 2,3 kg a mais do que o grupo de controle.

Não foi identificada, entretanto, perda de gordura total significativa, ainda que, em uma análise secundária, os dados tenham indicado diminuição segmentar de gordura na região do abdômen. O estudo clínico não deixa claro como ocorreu a diminuição do peso, já que não houve variação da gordura corporal. Segundo especialistas, o emagrecimento pode ser reflexo de variáveis como a hidratação ou alterações hormonais. De acordo com a pesquisa, também não houve perda significativa de massa magra, ainda que estudos anteriores apontem que essa possa ser limitação da dieta.

A endocrinologista do Hospital Mater Dei de Belo Horizonte Patrícia Corradi afirma que não há consenso científico sobre o papel da alimentação com restrição de tempo na perda de peso. Segundo ela, a variedade de estudos disponíveis, feitos com parâmetros diferentes, gera resultados diversos. "Não existe nenhuma indicação do jejum como uma estratégia de emagrecimento nas principais recomendações. O que a gente tem são alguns benefícios metabólicos, como a resistência insulínica", diz.

Ainda assim, para a endocrinologista, vale a pena apostar nesse tipo de programa alimentar se o paciente se adaptar bem à prática.

Todos os participantes da pesquisa, publicada no início de agosto na revista JAMA Internal Medicine, foram orientados a fazer atividade física e a ter uma dieta hipocalórica, com 500 calorias a menos do que a sua taxa metabólica em repouso. O estudo foi feito em 14 semanas e 80% dos pacientes eram mulheres. A janela de consumo do grupo que fez o jejum intermitente foi entre 7h e 15h. Isso quer dizer que, antes ou após esse horário, os participantes não poderiam comer.

O estudo da Universidade do Alabama também apontou melhora da pressão arterial diastólica no grupo que praticou o jejum. O humor, aferido por questionário entregue aos pacientes, também teve alterações, que se manifestaram na diminuição da fadiga e aumento da vitalidade.

A nutricionista Gisele Magalhães, participante do Janela da Escuta, programa de extensão e pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, defende que alimentação saudável com poucos industrializados e sem agrotóxicos, exercício físico, água e uma boa noite de sono, são os melhores hábitos para um dia a dia mais saudável.

"Quando a gente entra em jejum, muitas vezes não conseguimos ficar sem se alimentar por mais tempo, só que, na hora de comer, podemos perder o controle, o que não é saudável. A conclusão é que aquele velho e bom caminho das pedras dos hábitos saudáveis é o melhor. Não tem ainda uma fórmula mágica."

A nutricionista alerta que o jejum intermitente pode ser gatilho para transtornos alimentares, além de poder causar hipoglicemia, queda de pressão arterial e perda de musculatura e água, dentre outros problemas. Magalhães também reforça que esse tipo de dieta não deve ser feito por crianças e adolescentes, que precisam do consumo regular de alimentos para garantir o desenvolvimento cognitivo.

"O risco é maior do que o benefício. Uma coisa é a gente ter uma pesquisa com as pessoas monitoradas. Outra é você estar no seu dia a dia, fazendo jejum e, de repente, num calor de 40 graus, desmaiar porque está só bebendo água. Acho que os riscos são maiores do que os benefícios", afirma.

Segundo ela, respeitar a própria fome na hora de escolher o horário das refeições e seguir as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira, documento do Ministério da Saúde que reúne diretrizes de alimentação adequada, são medidas práticas e eficazes para uma vida saudável e para o emagrecimento.

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