Alberto Consolaro

Aula: eu me fiz entender?

03/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min

O difícil é ser simples! Fácil é ser complicado. O verbo que predomina as relações entre as pessoas preparadas para uma vida plena é “compartilhar” e por isto, devemos ser simples! Ser simples não é ser superficial, muito pelo contrário, quanto mais se for simples, mas profundamente se atinge o âmago do que se quer explicar. Ninguém consegue ser simples explicando apenas a superfície, sem se profundar no assunto. Acho linda a palavra “âmago” que significa a parte mais íntima ou fundamental, a essência das coisas!

O verdadeiro professor é um processador de informações e reflexões que acessa o complicado ou difícil e o transforma em palatável a qualquer pessoa, pobres ou ricas. Quando o escritor Manoel Bandeira disse que o difícil e ser simples, vivia entre nós a poetisa Clarisse Lispector, que complementou este pensamento dizendo: Não se enganem senhores, atrás da simplicidade existe muito trabalho.

Para ser simples deve-se ter o requinte de dedicar muito tempo em pensar, mudar, adequar, testar, refazer, repensar e por fim transformar aquela escultura da complexidade em uma obra de arte muito mais significante chamada simplicidade. Para os que tem sentimento de missão ou responsabilidade de função, dar uma aula é exatamente isto: planejar e preparar o difícil para que se torne fácil para todos, inclusive para o próprio professor!

A melhor aula é aquela que possa ser compreendida por qualquer pessoa. O melhor professor é aquele que quando alguém não entendeu o que foi explicado, pede desculpas pela explicação inadequada. Quando alguém não entendeu o que você explicou, independentemente se você é um professor ou não, tenhamos a humildade de reconhecer que a falha foi de quem falou! Toda vez que não se fez explicar um assunto como deveria, devemos reciclar e refazer aquela aula, conversa, discurso ou venda!

Qualquer pessoa com saúde tem cérebros semelhantes e com as mesmas potencialidades. O cérebro de um engenheiro é igual ao de um pedreiro e um médico tem o cérebro igual ao de seu paciente! O cérebro do professor é igual ao de seus alunos. Por isto sugiro que ao terminar uma explicação ou aula, nunca pergunte: - Entenderam? Troque esta pergunta por uma outra: - Eu me fiz entender? As pessoas ficarão mais à vontade para perguntar, pois o professor ou palestrante admite que pode ter falhado e assim, todos baixam a guarda da vergonha castradora de mostrar que não sabe algo ou que não entendeu um raciocínio!

Para o escultor romeno Constantin Brancusi “a simplicidade é a complexidade resolvida”. Ele fez da forma de um ovo em sua vida, o ponto de partida para sua linda arte muito valorizada no mundo. Sejamos simples o tempo todo, a complexidade não interessa a ninguém bem-intencionado. Fico muito feliz quando alguém me diz: - sempre fugi deste assunto de sua aula, pois o achava muito complexo e agora o vejo como simples!

REFLEXÃO FINAL

Frente ao comentário de que havia dado uma bela aula em reunião com os empresários no Rio, o candidato Ciro Gomes disse que o difícil era falar para as plateias mal preparadas como as pessoas da favela e que ali foi fácil palestrar. Talvez ele tenha querido ser “elegantemente humilde” com a plateia, mas foi muito infeliz. Os cérebros da comunidade são iguais aos dos empresários, tem as mesmas ferramentas! Entenderiam sim, se explicasse adequadamente tornando o complexo em simples com muito trabalho, mas isto requer tempo, planejamento e amor ao próximo. Eu me fiz entender?

Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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