Alberto Consolaro

Por que alguns odeiam a ciência?

10/09/2022 | Tempo de leitura: 3 min

A capacidade de pensar e saber é a essência humana. Pensar é a prerrogativa, direito e obrigação exclusiva dos humanos na natureza. O conhecimento verdadeiro atinge as razões, as causas e não simplesmente os objetos. Assim desponta-se os elementos básicos da atitude científica que são a crítica e a objetividade.

O conhecimento científico analisa, explica, justifica, induz e aplica as leis naturais e humanas. Ele é programado, metódico e sequencial, tendo-se a certeza de que pode haver repetição pela exposição total de seu método. A ciência necessariamente gera um conhecimento público e fornece resultados que podem ser repetidos por qualquer um, em qualquer lugar.

A ciência está relacionada com a busca da verdade, com a geração do conhecimento novo e com o compromisso da divulgação para torná-lo público ou exposto. Se não for publicado, não é ciência. Se alguém disser que é cientista ou que defende a ciência, primeiro pergunte a ele qual foi o seu principal trabalho publicado e em que revista isto aconteceu? Que ele diga o título e a revista, se não disser, ele está enrolando e mentindo.

DUAS PALAVRAS

Duas palavras andam sempre juntos e não são sinônimos: a ciência e tecnologia. Tecnologia tem a ver com a fabricação, viabilização e interesse comercial, industrial e estratégico. A ciência pode servir e usar do avanço tecnológico, mas não necessariamente, afinal ela tem compromisso com o conhecimento em si e por si mesmo. A tecnologia pode servir para o avanço da ciência, criando novos aparelhos, equipamentos, técnicas de observação e análise, mas tem outro objetivo que é o poder e lucro.

A humanidade depende da ciência e do conhecimento gerado. A tecnologia, por sua vez, é ferramenta de trabalho associada a patentes e marcas comerciais registradas. A tecnologia tem a ver com o mundo industrial e comercial, com dinheiro e predomínio de um povo, cidade ou empresa sobre os demais, como a Apple, Microsoft, Samsung, China, Alemanha e Noruega.

Se alguém publicar, deixa de ser inédito e perde-se o direito de requerer patentes, registrar marcas e outros benefícios financeiros e materiais decorrentes de sua descoberta. Se publicado, o conhecimento passa a ser de domínio público. O conhecimento gerado e guardado para e por quem descobriu via patente e marcas, serve a si mesmo, promovendo lucro e poder. Santos Dumont não patenteou o avião, nem o relógio de pulso. Roentgen não patenteou os aparelhos de raios X, mas Nobel o fez e fez fortuna com a descoberta do dinamite.

CINCO REFLEXÕES FINAIS

1.Quanto mais patentes e marcas registradas têm, mais poderoso é o país no contexto das nações.

2.Para que um país fabrique medicamentos, carros, armas, brinquedos, computadores etc., deve pagar taxas para quem detém o direito de patente e da marca comercial.

3.Quanto mais pesquisadores, empresas e laboratórios detiverem direitos sobre patentes e marcas, mais dinheiro recebem de outros países. O Brasil tem pouquíssimas patentes e marcas comerciais.

4.A ciência se faz nas universidades e institutos de pesquisa e, segundos todos os indicadores, muito predominantemente nas públicas mantidas pelos governos estaduais e federal.

5.A ciência é a busca constante da verdade, do conhecimento novo e da explicação de porque tudo existe em nosso mundo. E isto não interessa a todos.

Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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