ATENÇÃO AO CORAÇÃO

Cardiologistas alertam para riscos de infarto no fim do ano

Por Danielle Castro | da Folhapress
| Tempo de leitura: 4 min
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O período entre Natal e Réveillon registra picos de até 37% em hospitalizações por infarto.
O período entre Natal e Réveillon registra picos de até 37% em hospitalizações por infarto.

O consumo excessivo de alimentos gordurosos e álcool, típicos das ceias de fim de ano, combinado com a falhas no uso de medicações são o ambiente perfeito para a chamada Síndrome do Coração de Feriado. De acordo com especialistas, o período entre Natal e Réveillon registra picos de até 37% em hospitalizações por infarto e pode trazer riscos até para quem não tem problemas cardíacos.

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A síndrome pode ainda provocar fibrilação atrial. Segundo a cardiologista Fabiana Hanna Rached, do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), o problema surge após consumo exagerado de curto prazo.

Segundo um levantamento sueco publicado em 2018, o risco de ter o problema na véspera de Natal é 37% maior que em outra data. O estudo avaliou 283 mil casos de infarto do miocárdio registrados ao longo de 15 anos no país (entre 1998 e 2013) comparando a data aos dados de duas semanas para frente e duas para trás do feriado.

O horário mais crítico em infartos no dia 24 de dezembro foi o das 22h, sendo as pessoas mais vulneráveis aquelas com mais de 75 anos e com histórico de diabetes ou doença coronariana prévia.

Os autores indicam que o pico não é aleatório, mas associado a fatores externos típicos da data como estresse emocional agudo (raiva, ansiedade, tristeza, pressão familiar), consumo excessivo de comida e álcool e extremidade climática (principalmente o calor). Diferente do Natal, datas como a Páscoa ou grandes eventos esportivos (como a Copa do Mundo) não mostraram aumento significativo no risco de infarto nessa população.

Para quem já tem diagnóstico ou suspeita de doenças no coração, o cuidado precisa ser redobrado. "É essencial manter corretamente as medicações de uso contínuo sem interromper, organizando os horários para não esquecer", afirma o cardiologista Firmino Haag, coordenador da Cardiologia do Hospital Albert Sabin.

A ingestão aguda de álcool, diz Rached, altera o sistema elétrico cardíaco, ativa o sistema simpático e desregula eletrólitos, "favorecendo batimentos rápidos e irregulares." No caso dos alimentos, refeições com alta carga de gorduras saturadas e sal elevam os danos, aumentando a pressão arterial e a inflamação.

De acordo com as novas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), atualizada em setembro de 2025, as metas para os limites de colesterol LDL e pressão arterial precisam ser mais rídigidas do que se pensava. Os indicadores, assim, devem detectar ainda mais rápido a desestabilização de pacientes que já estavam no limite dos novos parâmetros.

"A atualização da SBC está alinhada com as últimas diretrizes americanas e europeias. A melhor recomendação é evitar excessos e manter ativas as orientações recebidas pelos médicos", diz o médico Fabio Taniguchi, diretor do serviço de cirurgia cardiovascular do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.

Taniguchi destaca que, para a Organização Mundial de Saúde (OMS), não existe um nível de consumo seguro para a ingestão de álcool. "A American Heart Association (AHA) reforçou, em julho de 2025, os perigos para a saúde cardiovascular pelo consumo excessivo de álcool em um curto período", diz Taniguchi.

O médico afirma que a fibrilação atrial é uma consequência mais nocivas da arritmia à saúde coronariana e lembra que há evidências para considerar a progressão acelerada da doença coronariana também em adultos jovens, entre 18 e 30 anos.

Para o cardiologista Haag, as evidências de que o período de festas de fim de ano está associado ao aumento de episódios cardíacos é consistente.

Os problemas ocorrem tanto pelos excessos agudos, como as arritmias do tipo Síndrome do Coração de Feriado, quanto um pequeno aumento nos eventos isquêmicos -infarto ou AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Em pacientes com pré-disposição a doenças cardíacas e com comorbidades associadas, como hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia e obesidade, a situação é ainda pior. "Eventos cardiovasculares como infarto agudo do miocárdio e arritmias graves também podem ocorrer com maior intensidade neste período", alerta o médico.

Limitar a quantidade de álcool, especialmente em pessoas com histórico de fibrilação atrial ou outras arritmias, e moderar o uso de gorduras saturadas e sal nas ceias são outros pontos. O cardiologia diz que a preferência deve ser por assados magros, como peixes e vegetais.

Uma opção é montar porções menores e também fugir de embutidos, frituras e bebidas alcoólicas com energéticos. "Quem tem arritmia, hipertensão, doença coronária ou usa antiarrítmicos deve evitar energéticos", afirma Rached.

Se for beber, intercale cada dose alcoólica com água e inclua fontes de eletrólitos, como frutas e água de coco, evitando sempre exposição prolongada ao sol e ambientes quentes. Taniguchi pondera, porém, que as ações nocivas da ingestão de álcool são potencializadas por elementos como cafeína e taurina (aminoácido essencial para produzir energia) dos energéticos.

"Em pacientes com alguma predisposição genética e doenças já em tratamento são potencialmente sensíveis para aumento do risco cardiovascular"

Faz diferença ainda ter boas noites de sono e estar bem hidratado, bem como aferir possíveis picos. "Monitorar em casa a pressão arterial e, quando possível, a frequência cardíaca ou o pulso; e manter-se ativo, preservando a prática regular de atividade física", reforça Haag.

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