A trajetória de Manu Alves poderia ser confundida com a de tantas jovens sonhadoras do interior, mas o destino tratou de mostrar que a história dela tinha um enredo diferente. Aos 22 anos, a modelo de Araçatuba hoje pisa firme na China, vivendo uma realidade que parecia distante quando ainda posava no quintal de casa com a câmera da mãe.
“Desde pequena, eu amava quando arrumavam meu cabelo e tiravam fotos minhas”, relembra. A paixão pela moda, ela conta, nasceu cedo, inspirada principalmente pela avó, que trabalhava como costureira. “Eu via ela tirando minhas medidas, fazendo roupas para mim, e aquilo me encantava. A moda sempre esteve presente na minha vida.”
A infância e adolescência de Manu foram marcadas por essa relação íntima com a imagem e a beleza. A cada festa de família, aniversário de amigos ou simples saída, havia sempre um registro. E, em cada clique, um sonho ia se moldando. “Quando fui crescendo, percebi que era isso que eu realmente queria fazer.”
O primeiro passo profissional veio na pandemia. Uma dona de brechó de Araçatuba a convidou para um ensaio fotográfico em estúdio. Foi ali, diante do fundo branco, que Manu se viu de fato modelo pela primeira vez. “Eu fiquei muito realizada. Era um estúdio de verdade, com fotógrafo, iluminação. Senti que tinha encontrado meu lugar.”
Entre estudos e incertezas sobre o futuro, o desejo de seguir carreira na moda foi se fortalecendo. Formada no ensino médio em 2020, ano em que a pandemia paralisou o mundo, Manu decidiu criar seu próprio portfólio. Usando um tripé, fotografava-se no jardim de casa, montava ensaios improvisados e publicava no Instagram.
A ousadia se transformou em estratégia. A jovem organizou um PDF com seus melhores trabalhos e enviou para cerca de 40 lojas e agências. Algumas não responderam, outras agradeceram, mas algumas abriram portas. “Eu tive de tudo: respostas positivas, negativas e até silêncio. Mas foi o início da minha visibilidade.”
A partir dali, Manu começou a ser reconhecida localmente como modelo, ainda que muitas vezes confundida com influenciadora digital. “Sempre deixei claro que eu queria ser modelo comercial. Adoro fotografar para marcas, mas não era minha intenção virar influenciadora.”
Determinada, buscou contato com agências em São Paulo e também no exterior. Entre idas e vindas, encontrou a Azure Models, responsável por sua carreira internacional, e a empresária Mônica Teixeira, que se tornou sua “mãe de agência”. “A Mônica acreditou em mim desde o início. Ela me ajudou a entender qual tipo de trabalho combinava com meu perfil.”
O passo seguinte foi ousado: aceitar uma proposta de trabalho na China. Antes, ainda recebeu um convite para atuar na Índia, mas optou por esperar algo que se encaixasse melhor em seus objetivos. Quando veio a oportunidade no país asiático, não hesitou.
Hoje, a rotina de Manu é intensa. Ela divide casa com outras modelos, passa por castings semanais, atualiza medidas constantemente e participa de ensaios fotográficos onde tudo é cronometrado. “Aqui é tudo muito profissional. Desde a maquiagem até o clique final, o tempo é contado e respeitado. As modelos são tratadas com muito valor.”
As diferenças culturais chamaram sua atenção logo de início. No mercado, crianças a olhavam com surpresa e curiosidade, encantadas com a estrangeira. “Me sinto famosa às vezes. É engraçado ver as reações.”
Outro choque veio no ritmo de trabalho. Enquanto no Brasil ainda há pausas para descanso, Manu percebeu que na China a rotina é ininterrupta. “Eles trabalham de segunda a segunda. Não existe parar.”
Apesar da adaptação desafiadora, ela valoriza a experiência. A saudade da família e a distância pesam, mas também trazem aprendizado. “A China está me ensinando resiliência e flexibilidade. Sei que vou voltar muito mais madura e aberta ao novo.”
O apoio dos pais, segundo Manu, foi fundamental para que conseguisse chegar até aqui. “Desde pequena, eles me ensinaram a ser independente, a correr atrás dos meus sonhos. Sem essa base, eu não teria ido tão longe.”
Para as jovens de Araçatuba e região que sonham com a carreira, Manu deixa um recado direto: “Nunca deixem que a cidade limite seus sonhos. Eu mesma achava que seria impossível conquistar grandes oportunidades, mas tudo é possível quando você acredita em si mesma e está preparada.”
Ela também reforça a importância de não trilhar esse caminho sozinha. “Modelo tem que ter apoio de uma agência séria. Buscar quem realmente trabalha com isso faz toda a diferença.”
Sobre o futuro, Manu projeta continuar expandindo a carreira internacional, fortalecendo seu portfólio e trabalhando com marcas cada vez mais relevantes. Paralelamente, também quer concluir a graduação em Publicidade e Propaganda, área que, junto da moda, representa sua grande paixão. “Eu amo publicidade e amo moda. Quero construir minha vida em torno dessas duas áreas.”
O equilíbrio entre carreira e vida pessoal também está entre os objetivos. Família, relacionamentos e estabilidade são tão importantes quanto novos contratos. “É essencial manter os dois lados. Não quero abrir mão de nenhum deles.”
Entre as passarelas e os livros, Manu segue construindo sua história, inspirando jovens do interior a acreditarem em si mesmas. E, de tão longe de casa, ela continua a provar que sonhos não têm fronteiras.
Para ela, acreditar é a chave. “Sempre digo que modelo precisa estar preparada e nunca deve limitar seus sonhos por causa do lugar onde nasceu. Depois do medo, vem o mundo.” A frase, que Manu repete com brilho nos olhos, é emprestada de sua autora favorita, Clarice Lispector, e se tornou um lema de vida.
Entre as passarelas e os livros, Manu segue construindo sua história, inspirando jovens do interior a acreditarem em si mesmas. E, de tão longe de casa, ela continua a provar que sonhos não têm fronteiras.
Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.