INDÚSTRIA REGIONAL

Importações em alta desafiam indústria calçadista de Birigui

Por Wesley Pedrosa | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Agência Brasil
Setor calçadista de Birigui enfrenta desafios com avanço das importações e instabilidade externa
Setor calçadista de Birigui enfrenta desafios com avanço das importações e instabilidade externa

O polo calçadista de Birigui, reconhecido como a capital brasileira do calçado infantil, vive um momento de atenção diante das transformações no mercado internacional e da crescente entrada de produtos importados no país. Embora ainda não existam dados consolidados sobre as vendas locais em julho, a preocupação acompanha a tendência nacional, marcada pelo aumento das importações e pela desaceleração das exportações.

Segundo a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), o saldo da balança comercial do setor caiu quase 80% em julho, reflexo da maior importação mensal em dólares desde 1997. Foram 4,2 milhões de pares importados, somando US$ 66 milhões. Esse movimento pressiona a indústria nacional, incluindo Birigui, que concentra cerca de 400 fábricas e responde por 20 mil empregos diretos.

A presidente executiva do Sinbi (Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui), Silvia Mestriner, afirma que o cenário exige cautela. “O polo é fundamental para a economia da cidade, não só pela geração de empregos, mas também pelo impacto social, ao incluir milhares de famílias em sua cadeia produtiva. Qualquer variação no mercado nacional ou internacional chega rapidamente até nós”, destacou.

Nos sete primeiros meses de 2025, as importações brasileiras alcançaram 26,58 milhões de pares, alta de 27,5% em volume e de 30,5% em receita em relação ao ano passado. O Vietnã lidera o ranking dos países fornecedores, seguido por China e Indonésia. Esse aumento preocupa empresários locais, que precisam lidar com concorrência de produtos a preços mais baixos.

Enquanto isso, as exportações apresentam desempenho tímido. No mesmo período, o Brasil embarcou 59,88 milhões de pares, gerando US$ 574 milhões. Embora o número seja levemente superior ao registrado em 2024, a curva é de queda: somente em julho, as vendas externas recuaram 7,3% em pares e 11,8% em valores.

Em Birigui, parte das empresas busca no comércio exterior uma forma de diversificar mercados e reduzir a dependência do consumo interno. Países da América do Sul, como Equador, Paraguai, Argentina, Bolívia e Peru, são os principais destinos. “O selo de Indicação de Procedência do Calçado Infantil de Birigui tem reforçado a credibilidade dos nossos produtos, com design, conforto e sustentabilidade como diferenciais”, explicou Silvia.

Ela lembra, porém, que os Estados Unidos - um dos maiores consumidores mundiais de calçados - ainda não são um mercado consolidado para Birigui. “Algumas empresas estão prospectando, mas a nossa presença ainda é pequena. Por isso, o impacto das novas tarifas americanas, que preocupam o setor nacional, não será imediato para o polo”, pontua.

Apesar disso, o alerta está ligado. A Abicalçados projeta queda de até 9% nas exportações brasileiras devido ao chamado “tarifaço” e já há registros de cancelamentos de encomendas. Caso a situação se agrave, reflexos indiretos podem atingir Birigui, sobretudo pela retração de investimentos no setor.

Para manter a competitividade, as indústrias locais têm investido em inovação. Cortes automatizados, modelagem 3D e softwares de gestão integrada já fazem parte da rotina de algumas fábricas. Ao mesmo tempo, a tradição artesanal continua presente, especialmente nas pequenas e médias empresas que dominam o polo.

A diversidade de modelos é outro trunfo de Birigui. Das galochas e babuches aos tênis e sandálias, a produção abrange diferentes perfis do público infantil, sempre aliando segurança e conforto. Essa capacidade de adaptação é vista como fundamental para enfrentar as instabilidades do mercado.

Mesmo assim, a pressão das importações preocupa. Em julho, entraram no país 98,5% mais pares do que no mesmo mês de 2024, movimentando quase 90% a mais em valores. “O desafio é competir com produtos que chegam muitas vezes a preços inviáveis para a indústria brasileira, em função da carga tributária e do custo produtivo mais elevado”, destacou a dirigente do Sinbi.

Outro ponto ressaltado por Silvia é a importância das feiras e rodadas internacionais de negócios, como a BFSHOW. Esses eventos permitem às empresas de Birigui ampliar contatos, firmar contratos e projetar sua marca no exterior. “É uma forma de dar visibilidade e garantir presença em mercados estratégicos, mesmo diante das dificuldades atuais”, afirmou.

Além das exportações, a presidente reforça que o mercado interno segue sendo o principal destino da produção local. Nesse aspecto, as empresas buscam se posicionar com qualidade, diferenciação e práticas sustentáveis, para atrair consumidores cada vez mais atentos à origem dos produtos.

A sustentabilidade, inclusive, já é um pilar de destaque do polo. O uso de materiais alternativos, como compostos mais leves e recicláveis, está em expansão, acompanhando tendências globais de consumo consciente.

Com 20 mil empregos diretos gerados, a cadeia calçadista de Birigui segue sendo a principal engrenagem da economia da cidade. O setor movimenta não apenas as indústrias, mas também o comércio, a logística e uma ampla rede de prestadores de serviços.

Silvia Mestriner resume o momento como um período de atenção, mas também de oportunidades. “Estamos vivendo um cenário de desafios, principalmente com as importações em alta. Mas o polo de Birigui tem diferenciais consolidados, como a tradição no calçado infantil e a força de sua mão de obra. Isso nos dá condições de continuar crescendo e inovando”.

A expectativa agora é de que as empresas consigam atravessar a instabilidade externa com estratégias bem definidas, aproveitando o fortalecimento da marca “Made in Birigui” e reafirmando a cidade como a principal referência nacional no setor de calçados infantis.

Fale com o Folha da Região!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários